NOTÍCIAS: 20/05/2010 - A publicação pelo
alto comando militar do Ato Institucional número 1, em abril de 1964, trouxe em
sua lista os nomes cassados de vários políticos e personalidades ligados ao
governo deposto de João Goulart, encontrando-se entre este o médico, geógrafo e
sociólogo brasileiro, cidadão do mundo, Josué Apolônio de Castro, autor de
grandes clássicos como Geografia da Fome (1946) e Geopolítica da Fome (1951),
considerados importantes contribuições para as causas humanas, publicados
pós-segunda guerra mundial.
Josué de Castro
escolheu a França para o exílio, voltando a ministrar aulas em grandes
instituições de ensino superior, como a Sorbonne e Vincennes. Instalado na
capital francesa, intensificou a luta humanista que marcou toda a vida do grande
cientista nacional.
No Brasil, a
ditadura militar considerou Josué de Castro persona non grata, recolhendo seus
livros das bibliotecas e das universidades nacionais. Quem fosse pego lendo
Geografia da Fome, ou outro clássico escrito pelo homem que lutou contra a
desnutrição e em prol da paz, estava passível de ser enquadrado na lei de
segurança nacional, pois sua produção tornou-se tema proibido.
Escancarar as
estruturas de dominação forjadas pelo homem contra o próprio homem foi
considerado o grande pecado de Josué de Castro, pois sua ousadia ao denunciar as
injustiças sociais garantiu-lhe a ira de inimigos poderosos, pessoas
beneficiadas pelo modelo que ainda tem sua vigência nos dias atuais,
principalmente quando, com a urbanização anômala e acelerada, recrudesceu o
problema da fome e da miséria.
Constatar que
Josué de Castro e sua vasta produção ainda são desconhecidos soa como algo
misterioso e inadmissível em pleno século XXI, tendo em vista a importância e a
atualidade do pensamento deste teórico nacional para a compreensão e elucidação
dos graves transtornos sociais que se agigantam cotidianamente, pois a
confirmação de profecias feitas há mais de quarenta anos é reconhecida no
presente.
Por esta razão
justifica-se a busca para alcançar objetivos definidos em projeto de extensão
apresentado ao Departamento de Geografia do Campus Central da Faculdade de
Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
denominado Discutindo a importância e a atualidade o pensamento de Josué de
Castro em Escolas Públicas Municipais e Estaduais de Mossoró/RN.
Intuindo
assinalar a participação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte nas
comemorações do centenário de nascimento de Josué de Castro, ocorrido no ano de
2008, buscamos assistir a um público-alvo bastante parecido no que tange às
origens do injustiçado cientista brasileiro.
Quando da
aplicação desse projeto de extensão, observamos imediata identificação dos
alunos com a vida, com as idéias e com a permanência de suas defesas. Nascido em
zona miserável da capital pernambucana, no dia cinco de setembro de 1908, Josué
de Castro nunca esqueceu suas origens, pois mesmo quando desempenhava a mais
alta e importante função, quando de suas gestões no Fundo das Nações Unidas para
a Agricultura e Alimentação, criada sob os auspícios do seu particular amigo
Lord J. Boyd Orr, sempre voltava aos mangues recifenses para ouvir seus
personagens de infância, os catadores de caranguejos, saber como vivam, o que
pensavam e o que sofriam devido à intensidade das mazelas sociais que nos dias
de hoje são mais intensas e profusamente presentes em nossa sociedade.
Josué de Castro
teve a iniciativa de pintar o quadro social com cores berrantes, não poupando o
dramático e tétrico problema da fome em sua real dimensão, tendo alertado as
autoridades mundiais para o colapso geral caso não abrissem mãos das vantagens
impressionantes desfrutadas por uma pequeníssima minoria privilegiada e
agraciada com todos os benefícios da exclusão da grande maioria, pois afirmou
que um terço da população mundial não dormia temendo os outros dois terços que
passavam fome.
A defesa
intransigente da paz se constituiu em um dos pilares das propostas de solução
para o problema da fome no planeta. Josué de Castro defendeu com entusiasmo que
a segurança social, compreendida pelo investimento em saúde, educação, cultura,
nutrição, etc., é muito e infinitamente mais importante que a segurança nacional
baseada em armas, não se justificando o destino astronômico de recursos para a
modernização do setor armamentista, o qual tem uma única finalidade, quer seja,
fomentar a morte e a destruição.
Com certeza,
encontramos uma importante explicação para o ódio devotado pela ditadura militar
contra Josué de Castro nesta máxima em prol da vida, da harmonia e da
solidariedade entre os povos.
A indicação de
Josué de Castro duas vezes para o Nobel da Paz encontra-se na intransigência com
que defendeu a idéia de que a felicidade humana, traduzida na segurança social,
é mais importante do que a ênfase aos disparos de canhões e metralhadoras que
levam a desgraça aos quatro cantos do planeta.
Levar o exemplo
de Josué de Castro para estudantes do ensino fundamental de escolas públicas
municipais e estaduais, seja de Mossoró ou de qualquer outro município potiguar
ou brasileiro, constitui-se, indubitavelmente, em importante fundamento que
alicerça a formação de novas consciências, tendo em vista que ao superar a
pobreza crônica, apostando na educação e na cultura, fez de Josué de Castro
modelo a ser seguido a fim de buscar novos horizontes em uma sociedade
estruturada de forma rígida e inflexível no que diz respeito à manutenção dos
privilégios que a cada dia que passa se tornam mais intensos e desrespeitosos
para os que sofrem com condições sociais aviltantes impostas pelos homens contra
os próprios homens.
(*) Texto enviado gentilmente por José Romero Araújo
Cardoso. Geógrafo.
Professor-adjunto do Departamento de Geografia da UERN.
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Contatos: Rua Raimundo
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