quinta-feira, 14 de abril de 2016

Descaso: mais um morador da Vila Nova morre vítima de Calazar

Há vários anos reclamando e cobrando, a população da Vila Nova, bairro carente localizado na Zona Leste de Cajazeiras, se vê mais uma vez sepultando um morador daquela comunidade, vítima do descaso e do alheísmo das autoridades que se dizem competentes. Neste caso em epígrafe, a Secretaria de Saúde do Município.

Devido a grande população animal que perambula diuturnamente pelas ruas da cidade, a referida secretaria se ausenta das ações de sua prerrogativa de atuação, a população paga com a própria vida.

Foi diagnosticado pelo Hospital Regional de Cajazeiras com Leishmaniose, o popular José Bernardino Filho, de 59 anos, residente à Rua José Vicente da Silva, no bairro acima mencionado. De acordo com o Vereador Neto da Vila Nova, várias são as reclamações por parte da população, muitos são os pedidos para que a Secretaria de Saúde tome as providências cabíveis, mas o que vemos é descaso constante.

Os animais infectados pela Leishmaniose, ou Calazar Visceral, transmitem aos seres humanos a doença e a consequência, quando não é diagnosticada ou tratada a tempo hábil, é terrível. O paciente teve seu quadro clínico agravado no inicio da manhã da última quarta-feira (13) e, faleceu por volta das 9 horas da manhã no HRC.


ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS:

Descrição

Protozoose cujo espectro clínico pode variar desde manifestações clínicas discretas até as graves, que, se não tratadas, podem levar a óbito. A Leishmaniose Visceral (LV), primariamente, era uma zoonose caracterizada como doença de caráter eminentemente rural. Mais recentemente, vem se expandindo para áreas urbanas de médio e grande porte e se tornou crescente problema de saúde pública no país e em outras áreas do continente americano, sendo uma endemia em franca expansão geográfica. É uma doença crônica, sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, perda de peso, astenia, adinamia e anemia, dentre outras manifestações. Quando não tratada, pode evoluir para óbito em mais de 90% dos casos. Muitos infectados apresentam a forma inaparente ou assintomatica da doença. Suas manifestações clínicas refletem o desequilíbrio entre a multiplicação dos parasitos nas células do sistema fagocítico mononuclear (SFM), a resposta imunitária do indivíduo e o processo inflamatório subjacente. Considerando a evolução clínica desta endemia, optou-se por sua divisão em períodos:

Período Inicial

Esta fase da doença, também chamada de “aguda” por alguns autores, caracteriza o início da sintomatologia, que pode variar para cada paciente, mas, na maioria dos casos, inclui febre com duração inferior a 4 semanas, palidez cutaneomucosa e hepatoesplenomegalia. Em área endêmica, uma pequena proporção de indivíduos, geralmente crianças, pode apresentar quadro clínico discreto, de curta duração, aproximadamente 15 dias, que frequentemente evolui para cura espontânea (forma oligossintomática). Os exames sorológicos são invariavelmente reativos. O aspirado de medula óssea mostra presença de forma amastigota do parasito. Nos exames complementares, o hemograma revela anemia, geralmente pouco expressiva, com hemoglobina acima de 9g/dl. A combinação de manifestações clínicas e alterações laboratoriais, que melhor parece caracterizar a forma oligossintomática, e febre, hepatomegalia, hiperglobulinemia e velocidade de hemossedimentação alta. Na forma oligossintomática, os exames laboratoriais não se alteram, com exceção da hiperglobulinemia e aumento na velocidade de hemossedimentação. O aspirado de medula pode ou não mostrar a presença de Leishmania.

Período de Estado

Caracteriza-se por febre irregular, associada ao emagrecimento progressivo, palidez cutaneomucosa e aumento da hepatoesplenomegalia. Apresenta quadro clínico arrastado, geralmente com mais de 2 meses de evolução e, muitas vezes, com comprometimento do estado geral. Os exames complementares estão alterados e, no exame sorológico, os títulos de anticorpos específicos antiLeishmania são elevados.

Período Final

Caso não seja feito o diagnóstico e tratamento, a doença evolui progressivamente para o periodo final, com febre continua e comprometimento intenso do estado geral. Instala-se a desnutrição, (cabelos quebradiços, cílios alongados e pele seca) e edema dos membros inferiores, que pode evoluir para anasarca. Outras manifestações importantes incluem hemorragias (epistaxe, gengivorragia e petéquias), icterícia e ascite. Nesses pacientes, o óbito geralmente é determinado por infecções bacterianas e/ou sangramentos. Os exames complementares estão alterados e, no exame sorológico, os títulos de anticorpos específicos antiLeishmania são elevados.

Sinonímia

Calazar, esplenomegalia tropical, febre dundum, doença do cachorro, dentre outras denominações menos conhecidas.

Agente Etiológico

Protozoário tripanossomatídeos do gênero Leishmania, espécie Leishmania chagasi, parasita intracelular obrigatório sob forma aflagelada ou amastigota das células do sistema fagocítico mononuclear. Dentro do tubo digestivo do vetor, as formas amastigotas se diferenciam em promastigotas (flageladas). Nas Américas, a Leishmania(Leishmaniachagasi é a espécie comumente envolvida na transmissão da LV.

Reservatórios

Na área urbana, o cão (Canis familiaris) é a principal fonte de infecção. A enzootia canina tem precedido a ocorrência de casos humanos e a infecção em cães tem sido mais prevalente que no homem. No ambiente silvestre, os reservatórios são as raposas (Dusicyon vetulus Cerdocyon thous) e os marsupiais (Didelphis albiventris). Questiona-se a possibilidade do homem também ser fonte de infecção.

Modo de Transmissão

No Brasil, a forma de transmissão é através da fêmea de insetos flebotomíneos das espécies de Lutzomyia longipalpis e L. cruzi, infectados. A transmissão ocorre enquanto houver o parasitismo na pele ou no sangue periférico do hospedeiro. Alguns autores admitem a hipótese da transmissão entre a população canina através da ingestão de carrapatos infectados e, mesmo, através de mordeduras, cópula e ingestão de vísceras contaminadas, porém não existem evidências sobre a importância epidemiológica desses mecanismos de transmissão para humanos ou na manutenção da enzootia. Não ocorre transmissão direta da LV de pessoa a pessoa.

Período de Incubação

É bastante variável tanto para o homem, como para o cão. No homem varia de 10 dias a 24 meses; em média, de 2 a 6 meses, e, no cão, varia de 3 meses a vários anos, com média de 3 a 7 meses.

Período de Transmissibilidade

O vetor poderá se infectar enquanto persistir o parasitismo na pele ou no sangue circulante dos animais reservatórios.

Complicações

As mais frequentes são de natureza infecciosa bacteriana. Dentre elas, destacam-se: otite média aguda, otites, piodermites e afecções pleuropulmonares, geralmente precedidas de bronquites, traqueobronquites agudas, infecção urinária, complicações intestinais; hemorragias e anemia aguda. Caso essas infecções não sejam tratadas com antimicrobianos, o paciente poderá desenvolver um quadro séptico com evolução fatal. As hemorragias são geralmente secundárias a plaquetopenia, sendo a epistaxe e a gengivorragia as mais comumente encontradas. A hemorragia digestiva e a icterícia, quando presentes, indicam gravidade do caso.

Diagnóstico

Clínico-epidemiológico e laboratorial. Esse último, na rede básica de saúde, baseia-se em, baseia-se principalmente em exames imunológicos e parasitológicos.