quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Falta de alianças pode inviabilizar candidatura de Ciro

POLÍTICA: 04/02/2010 - A decisão do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) de manter a sua pré-candidatura à Presidência da República, reforçada ontem por ele, poderá encontrar obstáculos no seu partido. O PSB enfrenta dificuldade para conquistar apoio de partidos do bloco aliado ao governo para sustentar uma candidatura própria. Sozinho na disputa, sem outros partidos aliados, Ciro teria, em um cálculo preliminar, apenas 1 minuto e 11 segundos no horário eleitoral gratuito, enquanto PT e PMDB, juntos, chegam a quase 6 minutos.

O maior empecilho no caminho do PSB é o fato de estarem avançadas as articulações dos partidos aliados com o PT, restando pouco espaço de manobra para discutir apoio a Ciro Gomes. De acordo com o senador Renato Casagrande (PSB-ES), PCdoB e PDT já foram procurados pelo partido. "Mas já estão em negociação avançada com o PT", admite. O PP e o PTB também foram procurados. "Mas não tivemos resposta ainda, a conversa ainda está no início", relatou o senador.

O que também pesa contra Ciro na hora de costurar alianças com outros partidos é a indefinição na relação do PSB com PT. Esses dois partidos ainda não chegaram a um conclusão se uma eventual candidatura de Ciro à presidência ajuda ou atrapalha o desempenho da pré-candidata petista Dilma Rousseff. Os outros partidos temem avançar na costura de alianças com um pré-candidato que pode não se confirmar candidato.

Plebiscito

O presidente Lula pressiona Ciro Gomes a deixar a corrida pela presidência porque, segundo avaliação do PT, uma candidatura única da base aliada fortaleceria a ministra Dilma e abriria espaço para um debate polarizado com o PSDB e o pré-candidato tucano, José Serra. O próprio Ciro Gomes considera, porém, que o presidente comete "grave erro" quando avalia que sua desistência beneficiaria Dilma.

A tese é compartilhada pelo presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Segundo ele, os eleitores do presidente Lula já devem ter assimilado o fato de que a escolhida para sucedê-lo é Dilma, e não Ciro. "Os votos do Ciro já foram para Dilma. Os que ele ainda tem vão para o Serra", afirma o tucano.

Sérgio Guerra diz acreditar que Ciro, ao manter a disposição de disputar a presidência, quer "camuflar" as pesquisas de opinião para que os partidos da base tenham a impressão de que, quando o PSB sair da disputa, a campanha Dilma crescerá. Enquanto acharem que as intenções de voto em Dilma podem aumentar, os partidos vão se unindo em torno da pré-candidata do PT, avalia o senador. "Ninguém duvida que ele vai sair da disputa. Vai ser candidato com 1 minuto na TV? Vai dar tempo de falar o quê? 'Meu nome é Ciro!'?", ironiza Guerra, referindo-se ao bordão usado em várias campanhas por um candidato presidencial que dispunha de apenas alguns segundos - Enéas, do Prona.

O único consenso entre PT e PSB, até o momento, segundo o líder do PSB na Câmara dos Deputados, Rodrigo Rollemberg (DF), é a de que a pré-candidatura de Ciro Gomes será levada à diante, até março. "Diferentemente do presidente Lula, que defende uma candidatura só entre a base, nós entendemos que duas candidaturas é melhor do que uma. Até agora, não conseguimos convencê-los, nem fomos convencidos. Até lá, vamos fazendo pesquisas e analisando o quadro político", resume Rollemberg. Agência Estado