NOTÍCIAS: 23/03/2010 - Nas minhas humildes orações pedem que o Senhor me conceda um coração sensível, humano, cristão, para em nome do evangelho de Jesus, eu poder lutar por um Sertão sem fome, miséria, sede, violência, injustiça social. Tudo em nome de minha fé cristã.
Como cristão, como padre, realiza-me na medida em que vou abraçando com alegria, força, determinação certas causas humanitárias. Como me realizo!.Sou feliz assim! Se por acaso, acontecer que eu seja impedido de lutar em defesa dos meus irmãos sofridos, marginalizados, excluídos deste sertão paraibano, será a sentença de minha morte. E, se porventura, não ouvirem mais falar neste simples padre envolvido com os problemas dos conterrâneos, é porque morri. Não se trata de demagogia, de farisaísmo ou hipocrisia e sim, de um coração apaixonado pelo o Reino de Deus. Reino de justiça e paz para todos, de modo particular, para os pobres. Falo a verdade. E essa verdade brota de um coração que tenta está sintonizada com o Evangelho da vida. Dezesseis anos de padre, de caminhada neste vale de lágrimas, o Sertão. E nesta longa jornada missionária, brado, com o coração apertado: Meu Deus! , como é triste ver tantos irmãos sertanejos na miséria, na fome, doentes, numa eterna agonia. Só quem não tem coração não se sensibiliza não se comove, e não parte para uma ação concreta em defesa desses pequeninos de Deus.É aí que entra a dimensão profética dos cristãos,da Igreja:anunciar o Reino e denunciar o anti-Reino.
Tenho, ao longo de minha jornada de padre por este sertão clamoroso, presenciado cenas dramáticas, comoventes, tristes. Cenas de crianças, jovens, idosos com fome, de irmãos morrendo por falta de medicamentos, de pais de famílias desesperados por não ter o que colocar na mesa na hora do almoço, de agricultores querendo invadir delegacia em busca de feiras, em tempo de seca, de famílias morando em casebres sem nenhum conforto; cenas de pessoas humildes, maltratadas pela epidemia de hepatite, de esgoto passando por dentro de casa, de jovens violentados pelo mal das drogas, da prostituição, do desemprego, do abandono, de centenas de pessoas clamando por água, por ponte, por remédios, por estudos, por dignidade.
Uma cena que marcou muito na minha vida, de forma indelével, foi esta. Um dia, tempo de seca pesada, uma mãe, da zona rural, chegou para mim ,trêmula e chorando, falou: “padre, a seca está arrasando tudo, até minha família. Se Deus não olhar para nós, vamos todos morrer. E para minha tristeza, completou: o governo federal mandou um feijão preto pra nós, mas não tem quem coma padre. Olha padre, disse ela, coloquei o feijão no fogo e não cozinhou, passei no liquidificador pra ver se a gente comia, mas não prestou. Então, seu padre, deu à porquinha. Coitadinha, ia morrendo de tanta dor de barriga. Ia perdendo meu bichinho”. Nunca me esqueci dessa cena tétrica.
Fiquei, psicologicamente e espiritualmente na minha fé cristã, abalado com esse relato dramático. Fui a João Pessoa, e denunciei essa violência contra os sertanejos, no programa de TV Tony Show. Foi mais ou menos, no ano de 96 ou 97.
Aqui no meu sertão paraibano, este é o cenário: fome, desespero, miséria..., Apesar de bolsa família, bolsa escola, etc. Não se trata de sensacionalismo, mas de pura realidade. Falo com conhecimento de causa. Venha e veja!
Como gostaria de ver meus irmãos vivendo com dignidade, sendo tratados como pessoas humanas, imagem e semelhança de Deus. Ah! Meu Deus, que bom seria, que não houvesse irmãos nossos, filhos de Deus Pai, nessa situação de morte, quando o próprio Jesus dissera: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenha em abundancia”.!
Peço ao bom Jesus dos pobres, para conceder-me a graça de nunca abandonar o barco da luta, onde quer que esteja no Sertão ou no litoral.. Afinal, nasci com sangue de sertanejo: lutar e lutar sem medir conseqüências. E essa minha paixão pelas causas sociais é inata a minha pessoa, nasci com ela. Por isso, abraçar qualquer causa é minha felicidade maior.
Tentando ser coerente com minha fé cristã libertadora, quero como padre católico e como cidadão politizado, dá minha humilde parcela de contribuição na luta por um sertão mais humano, onde meus conterrâneos vivam com muita dignidade, conforme o desejo de Deus pai. E esse é o meu sonho de sertanejo, que acredita na força transformadora do Evangelho de um Cristo Jesus, que por amor ao Reino de Deus, por amor aos pobres, aos excluídos do seu tempo, fora barbaramente assassinato como se fosse um agitador político: “Se não fosse um malfeitor, não o entregaríamos a ti (João 18,28-30” ).
Padre Djacy Brasileiro