Os dados oficiais sobre a
pandemia mostram que bem mais gente supera o Covid-19 que sucumbi a letalidade
do vírus. Os números mais recentes atestam que mais de 15 milhões de pessoas no
mundo foram infectados, mais de 8 milhões se recuperaram da doença, contudo,
cerca de 600 mil vidas foram perdidas nesta batalha. No Brasil, mais de 2
milhões de pessoas já foram infectados, 1,5 milhão se recuperou e quase 83 mil
pessoas morreram por complicações causados pelo coronavírus. Em Patos, interior
da Paraíba, das 2263 pessoas infectadas, 63 foram a óbito. A funcionária
pública estadual Geralda Bezerra da Silva, que foi paciente do isolamento
Covid-19, do Complexo Hospitalar Regional Deputado Janduhy Carneiro (CHRDJC)
faz parte desta estatística. Geralda se recuperou, depois de 10 dias interna no
isolamento Covid e na manhã desta quinta-feira (23), ela retornou a unidade
para fazer uma homenagem aos profissionais do Complexo. Na ocasião, ela
reconheceu publicamente o empenho, dedicação e acolhimento humanizado da
equipe, especialmente, com os pacientes do setor Covid.
E a homenagem da Sra.
Geralda além do sentido da gratidão, teve também um pedido de desculpas. Isto
porque, antes de ser internada, ela invadiu o setor Covid e até agrediu
verbalmente funcionários. “Nada justifica as minhas atitudes”, afirma Geralda,
que fez questão de ler um texto, no hall de entrada na unidade, nesta
quinta-feira, na presença de funcionários e colaboradores do Complexo. “Eu quis
fazer essa retratação pública porque eu precisava me desculpar por tudo o que
fiz e mais que isso reconhecer o tratamento, acolhimento, carinho e cuidados
que recebi enquanto estava doente e sob os cuidados das pessoas que eu tanto
critiquei e machuquei. Hoje, tenho outra visão do hospital”, atesta ela que
acha que, provavelmente, contraiu o Covid ao adentrar as dependências do
isolamento, sem autorização.
Na carta de três páginas,
ela ainda faz agradecimentos dirigidos a vários funcionários, de diversos
setores e de diferentes funções que, entre os dias 23 de junho quando foi
admitida como paciente do isolamento Covid, até o dia 02 de julho, quando teve
alta, foram fundamentais no seu processo de recuperação. Mãe de quatro filhos,
já avó e com uma família numerosa de 13 irmãos, Geralda diz que estava bastante
fragilizada pelas mortes de familiares que teve em maio e em junho e quando se
viu interna e isolada perdeu o estímulo pela vida. “Não queria falar com ninguém. Essa doença é
terrível, Acaba com a nossa autoestima e alegria de viver e nos deixa numa
situação muito vulnerável”, afirma ela.
Uma pessoa de fé e temente a
Deus, ela afirma que em determinados momentos de seu tratamento até sua devoção
foi testada. “Quando a gente se vê numa situação de tanta fragilidade, começa a
se questionar. Você chega a se sentir um lixo. Algumas pessoas reagem, outra
não. Mas, Deus me deu a oportunidade de enxergar o que eu não via antes. Vi
pessoas morrerem do meu lado, outras se recuperarem, e sempre testemunhei
médicos e profissionais darem o seu melhor para salvá-las. Ali, naquele
isolamento, encontrei pessoas que lutavam diuturnamente, com todos os esforços
possíveis, para salvar vidas e só ai entendi que foi preciso passar por essa
experiência dolorosa para compreender o valor que tem esses profissionais que
estão se doando, colocando em risco até suas próprias vidas, para salvar seu
próximo”, afirma Geralda.
Antes de testar positivo
para Covid, através do teste de Swab, Geralda tinha feito três outros testes
rápidos e todos atestaram negativo. “Isso serve de alerta para muita gente que
testa um falso negativo e pode estar por ai transmitindo o vírus”, adverte ela
que durante os 10 dias que permaneceu internada no hospital de Patos não chegou
a usar ventilação invasiva, mas teve uma baixa saturação e dificuldades de
respirar. Muitos momentos foram marcantes, segundo ela, no período em que ficou
internada no isolamento, mas, um em especial ela se recorda. Foi quando tomou
seu primeiro banho fora da cama, dado por funcionários do hospital, que ela
sentiu seu reencontro com Deus e começou, a partir dali, a reunir forças para
dar a volta por cima e ressurgir. “Lembrei de uma passagem bíblica que diz
assim ‘Não temas que sou contigo e não te assombres que sou teu Deus’. Naquele
momento senti a força divina me invadir”, destaca ela.
Na carta que Geralda leu em
voz alta, no hall do hospital, na manhã desta quinta-feira, ela agradece a toda
equipe, mas, faz menção nominal a alguns médicos, enfermeiros, auxiliares,
técnicos, ao pessoal da nutrição, enfim, a todos que direta ou indiretamente
contribuíram com o seu tratamento e para a sua recuperação. “Foram cada um de
vocês que me fizeram voltar a ver que eu podia viver, vocês foram usados por
Deus para me fazer enxergar o valor de cada momento. Agora posso dizer:
vencemos o Covid-19 e agradeço a todos vocês de coração”, finaliza ela no texto
que retrata um pouco do cotidiano de doação, amor, humanização,
profissionalização e acolhimento dos pacientes pelos profissionais do Complexo,
especialmente, os que estão diretamente envolvidos na árdua, porém, nobre
missão de tratar dos doentes com coronavírus.
“Como a gente diz sempre
aqui, cada alta é o coroamento de uma vitória coletiva, pois, especialmente,
nesta doença, onde o paciente não pode ter ninguém da família perto, cada
profissional, além de desempenhar sua função, também se doa como ser humano até
como forma de suprir essa ausência de um ente familiar, então, quando um
paciente do setor Covid tem alta deixa conosco um pouco de si e leva também um
pouco de nós, daí a alegria ser redobrada”, finaliza a diretora geral do
Complexo, Liliane Sena.
Assessoria