terça-feira, 31 de agosto de 2010


Para não magoar aliados, o PT tem uma desculpa
POLÍTICA: 31/08/2010 - Embalada pelas pesquisas que lhe dão a perspectiva de vitória no primeiro turno, a candidata do PT, Dilma Rousseff, já se dá ao luxo de recusar convites para eventos de campanha em vários estados. Em nove deles, que somam 14,1 milhões de eleitores, 10,4% dos 135 milhões do Brasil, ela não pisou até agora nesse período eleitoral e nem tem previsão de visita na agenda em discussão no fechado grupo que coordena as viagens (leia quadro). “No Nordeste, ela irá ao Ceará e mais um ou dois estados. No Norte, está previsto o Pará”, contou o presidente do PT, José Eduardo Dutra, que ajuda a organizar a agenda dos últimos 30 dias.

Os motivos para Dilma deixar de se apresentar ao vivo em alguns estados são os mais variados. Em Alagoas, ninguém quer dar à oposição a chance de dizer que Dilma está ao lado de Fernando Collor (PTB), candidato a governador. Figura polêmica, o senador, rival de Lula em 1989 que aderiu ao lulismo em 2007, foi defenestrado da Presidência e guarda capital político restrito ao estado. Fora de Alagoas, uma imagem associada à outra teria potencial explosivo e poderia significar perda de votos. No último levantamento do Ibope, Collor aparece com 28% das intenções de voto. O ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) tem 29%.

No caso do Maranhão, a ordem é não eriçar ainda mais a ala petista que deseja ver Dilma longe da governadora-candidata, Roseana Sarney (PMDB), aliada de Lula. Se fosse até lá, ela teria que desfilar também ao lado de Flávio Dino (PCdoB), que concorre contra Roseana.

No Amazonas, o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, candidato a governador, ficou rouco de tanto chamar Lula e a candidata a presidente da República para eventos conjuntos. Logo no início da campanha, seus aliados chegaram a agendar uma visita, que terminou cancelada a pedido do time do governador Omar Aziz (PMN), sucessor de Eduardo Braga (PMDB), candidato ao Senado. A tal agenda nunca foi remarcada e, ao que tudo indica, não será.

Para não magoar aliados, o PT tem uma desculpa: “Há vários debates programados e é preciso preparação. Então, destes 30 dias, sobram poucos”, comenta Dutra. Na TV, são três debates: 12, 26 e 30 de setembro, último dia de campanha. “A véspera desses encontros é geralmente dedicada ao descanso e ao treino. Só aí lá se vão seis dias.”

A ideia da coordenação é concentrar as viagens em estados onde a presença da candidata ajuda a virar votos em seu favor e não onde ela já tem maioria. Por isso, na listagem dos petistas estão, principalmente, São Paulo e o sul do país, além da viagem desta semana a Foz do Iguaçu (PR) e Canoas (RS), em que está prevista a presença de Lula. Está marcada ainda uma passagem por Santa Catarina e pelo Rio Grande do Sul.

Alavanca - No Ceará, onde Dilma lidera e o governador Cid Gomes também, a viagem é vista como alavanca para os candidatos a senador que aparecem embolados em segundo, atrás do tucano Tasso Jereissati (PSDB). No Pará, a governadora Ana Júlia Carepa, do PT, está 10 pontos percentuais atrás do tucano Simão Jatene. Os estados nordestinos que receberão a visita da trupe petista são Piauí, numa visita a Teresina; Sergipe, num ato em Aracaju; e o Rio Grande do Norte, ainda sem definição de cidade. Dilma também deve desembarcar em Goiânia. O resto dos dias será dedicado a São Paulo e Rio de Janeiro. As duas cidades disputam também o comício final da campanha.

DIRCEU SEM VAGA EM 2011 - Apesar de sustentar que não discute nomes de seu eventual governo, Dilma Rousseff disse ontem que o deputado federal cassado José Dirceu (PT) não deve integrar o seu time. “Não acho provável. Ele não está nem nas atividades de governo”, disse. A candidata rebateu ainda críticas de José Serra, que a acusou de se sentar na cadeira antes da hora. “Quem se sentou antes foi Fernando Henrique, que eles escondem o tempo todo.”

O comentário refere-se à disputa pela prefeitura de São Paulo em 1985, na qual FHC foi fotografado na cadeira de prefeito. O vencedor, porém, foi Jânio Quadros.

Dor de cotovelo - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a visita ao morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, para elogiar ações do governador fluminense, Sérgio Cabral (PMDB), candidato à reeleição, e fazer propaganda indireta do programa de Dilma Rousseff (PT). Lula disse que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), bandeira de Cabral incorporada às promessas da presidenciável petista, são propostas bem-sucedidas que serão ampliadas a partir do ano que vem.

“Eu acho que é um exemplo que a gente vai conseguir implantar nos próximos anos em todo o território nacional”, afirmou Lula. Durante a visita, ele bateu o cotovelo numa quina e sentiu dores por todo o dia. Ao inaugurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Nova Iguaçu, baixada fluminense, o presidente demonstrou incômodo com a dor.

Agenda negativa - Até o fim da campanha, a presidenciável petista vai ignorar nove estados, num total de 14,1 milhões de eleitores, ou 10,4% do total. Veja os locais abandonados

Acre - Embora seja a terceira colocada na pesquisa de intenção de votos, Dilma não priorizou o pequeno colégio eleitoral. Não entrou por falta de tempo e logística.

Amazonas - Dois aliados concorrem ao governo: Omar Aziz (PMN) e Alfredo Nascimento (PR). Ambos estão numa disputa acirrada e Dilma preferiu não se envolver.

Roraima - Disputa acirrada pelo Senado. Romero Jucá (PMDB), líder do governo, é aliado do PSDB e favorito a manter a cadeira. Angela Portela (PT) briga pela segunda vaga. É o menor eleitorado do país.

Rondônia - Confúcio Moura (PMDB) e Eduardo Valverde (PT) brigam pelo governo e a vaga ao Senado também está complicada entre dois aliados. Com pouco menos de 1 milhão de eleitores, é um campo minado.

Tocantins - Carlos Gaguim (PMDB), aliado do PT, é líder nas pesquisas pelo governo. Na briga pelo Senado, os quatro candidatos mais bem colocados — Marcelo Miranda (PMDB), João Ribeiro (PR), Paulo Mourão (PT), Vicentinho Alves (PR)— são aliados da ex-ministra.

Amapá - É o segundo menor eleitorado do país: 420 mil votantes. Foi excluído por não estar nas prioridades.

Maranhão - O PT local está em frangalhos, dividido entre Roseana Sarney (PMDB) e Flávio Dino (PCdoB). Dilma preferiu não se expor.

Paraíba - Estado excluído para evitar indisposição com o PSB, que lançou Ricardo Coutinho (PSB) ao governo.

Alagoas - Dilma não quis posar na foto ao lado de Fernando Collor de Mello (PTB) e de Ronaldo Lessa (PDT), que corre o risco de ter a candidatura impugnada. Pisar no estado é dar munição ao adversário.

Correio Braziliense