Trechos da delação
premiada de Francisco Justino do Nascimento divulgados pelo Ministério Público
Federal apontam o ex-prefeito Carlos Antônio como o chefe da organização
criminosa instalada em Cajazeiras para desvio de recursos públicos na chamada
Operação Andaime.
Na avaliação do Ministério
Público, Carlos Antônio é tido como um dos políticos mais influentes do sertão
paraibano. “Ele ocupou o cargo de Secretário de Interiorização do Estado da
Paraíba, a partir de 02 de abril de 2013, na gestão do Governador Ricardo
Coutinho, sendo considerado um dos aliados mais estratégicos do Governador na
região do Alto Sertão da Paraíba e possui influência política para indicar o
nome da Chefe da Casa Civil do Governo do Estado”, relata o MPF.
Na conversa com os Procuradores,
Justino detalhou a participação central de Carlos Antônio no esquema ilícito
para desvio de recursos públicos em Cajazeiras, apresentando o seguinte
gráfico:
Abaixo
os trechos da delação:
MPF:
Sr. Francisco Justino, vou perguntar ao senhor aqui sobre uma documentação que
o senhor está me entregando, sobre a Prefeitura de Cajazeiras. O senhor fez um
gráfico onde o senhor indica como a pessoa que dá todas as ordens o marido da
prefeita Denise, o Carlos Antônio, ex-prefeito de lá?
Colaborador:
É.
MPF:
Ele que determina as ordens para Marinho, Marinho determina para Afrânio
resolver as empresas que vão ganhar, Afrânio resolve com a licitação, Carlos e
Joselito, a licitação volta…
Colaborador:
E diz quem é a firma que vai ganhar.
MPF:
Márcio Braga é o homem dos boletins de medição e das secretarias.
Colaborador:
Márcio Braga é quem também faz os boletins da saúde. Da prefeitura quanto da
saúde, por ordem do Secretário de Saúde.
MPF:
Então deixe me ver se eu estou correto no que o senhor está me dizendo: Márcio
Braga trabalha para o Afrânio, Afrânio trabalha para o Marinho e o Marinho
trabalha para o Carlos Antônio?
Colaborador:
Isso. E Márcio Braga é engenheiro da prefeitura.
MPF:
O Hélio entra aonde aqui?
Colaborador:
é o executor, quem toma de conta da obra.
MPF:
O peão?
Colaborador:
O peão, quem toma de conta para que ninguém roube os materiais. É o homem de
confiança do Marinho.
MPF:
Na operação nós denunciamos e chegamos a requisitar a prisão de Marinho e de
Afrânio, mas o que o senhor está me dizendo aqui é que o homem por trás das
decisões do Marinho e do Afrânio é o Carlos Antônio.
Colaborador: É
o Carlos Antônio.
MPF:
Alguma coisa que o Marinho e o Afrânio fazem, em relação a execução de obras,
em Cajazeiras, ele fazem por eles mesmos…?
Colaborador:
Fazem não, Afrânio só faz alguma coisa se falar com Marinho e Marinho anota na
agenda dele e depois repassa para Afrânio o que foi resolvido.
MPF:
entre ele e o Carlos Antônio? Colaborador: Entre ele e o Carlos Antônio, porque
Carlos Antônio é direto lá no escritório de Marinho.
MPF:
Pessoalmente?
Colaborador:
pessoalmente.
MPF: o
senhor sabe se o Carlos Antônio responde a alguém? Existe alguém tomando as
decisões pelo Carlos Antônio?
Colaborador:
não sei dizer.
MPF:
a Prefeita lá de Cajazeiras, a Denise, o senhor mostra como funciona todo o
esquema criminoso lá em Cajazeiras, mas não faz referência à Prefeita municipal
de lá.
Colaborador:
porque até ela eu não tenho contato. Eu só vejo até Marinho e, segundo fico
sabendo, Carlos Antônio. Carlos Antônio é quem deve ir para a Prefeita.
MPF:
quem é o prefeito de fato de Cajazeiras, é o Carlos Antônio ou a Denise?
Colaborador: no papel é a Denise, mas de fato é Carlos Antônio.
MPF:
ele que toma as decisões importantes da Prefeitura?
Colaborador:
ele é quem está a par de tudo, é quem vai pra rádio, quem mete o pau, quem
denuncia, quem defende…
MPF:
essas licitações, quem é que decide que em empresa vai vencer? Colaborador:
Afrânio leva para Marinho. Marinho quer ficar mais reservado, mas tudo que
Afrânio faz é a mando de Marinho. Ele leva para Carlos [do setor de licitação],
que é aqui de Sousa, aí já decide, por exemplo, a empresa que vai ganhar é a de
Justino, Afrânio chega para esse aqui e diz “a empresa é Justino”, tanto faz eu
estar habilitado ou desabilitado. Na hora que vem para a licitação eu já estou
habilitado.
MPF:
acontece a mágica.
Colaborador:
É. (…)
MPF:
então o senhor diria que todos os crimes que o senhor está sendo acusado,
juntamente com o Marinho e o Afrânio, todos eles tiveram a participação do
Carlos Antônio?
Colaborador:
Todos, porque eu não tenho o poder de chegar na Prefeitura e dizer que eu que
vou ganhar. Afrânio não faz nada a não ser que fale com Marinho. E Marinho não
resolve nada de imediato. Todo problema que chega, Afrânio leva para Marinho,
Marinho anota na agenda, nunca diz assim “vá fazer isso”.
MPF:
então o senhor entende que o homem por trás dessas irregularidades todas é o
Carlos Antônio.
Colaborador:
sim.
MPF:
e o contato dele é com o Marinho?
Colaborador:
com o Marinho, e o Marinho com o Afrânio, e Afrânio com as empresas.
MPF:
no entanto existe algumas licitações que o senhor diz aqui que quem executa as
obras é o Jorge Messias, irmão do Marinho. Basicamente são dá…
Colaborador:
Servcon
e Tec Nova.
MPF:
sim, mas são de horas máquina…
Colaborador:
e de retoque de calçamento.
MPF: o
senhor nunca tocou essas obras?
Colaborador:
não, eu não.
MPF:
sempre o Jorge [Messias]?
Colaborador:
o Jorge. (…)
MPF:
a tratativa que ele [Carlos Antônio] faz com o Marinho é ligação…?
Colaborador:
Dr., é mais pessoalmente, lá no escritório do Marinho.
MPF: o
senhor alguma vez esteve lá com o Carlos Antônio?
Colaborador:
Estive.
MPF:
quantas vezes?
Colaborador:
eu já vi ele lá umas duas ou três vezes. Na hora que eu vou chegando, ele vai
saindo…
MPF:
o senhor chegou a tratar alguma vez sobre isso com ele?
Colaborador:
não, ele não fala com a gente não.
MPF/Os Guedes