ESPORTES: 02/07/2010 - Em toda a sua preparação e durante a Copa do Mundo na África do
Sul, a seleção brasileira se esforçou em adotar uma filosofia diferente
da utilizada em 2006. Por ironia, o resultado foi o mesmo: derrota para
uma seleção europeia e eliminação nas quartas de final. No lugar da
França, o algoz foi a Holanda. E Sneijder tomou de Henry o posto de
carrasco, participando do lance do primeiro gol e marcando o segundo na
vitória por 2 a 1, de virada, nesta sexta-feira.
Foi ele o eleito o melhor em campo no estádio Nelson Mandela Bay,
em votação popular no site da Fifa. Pelo primeiro tempo, ficou a
impressão de que dificilmente o escolhido deixaria de ser um
brasileiro. A seleção dominou a Holanda, marcou seu gol (com Robinho)
logo no início, criou lances bonitos e foi pouco ameaçada. A partida
após o intervalo, no entanto, foi outra. O Brasil falhou na defesa, seu
setor mais elogiado, esteve acuado e quase não chegou ao ataque. E
ainda viu mais um jogador seu ser expulso na competição, depois que
Felipe Melo deu um pisão em Robben.
A Holanda, que acumulou sua quinta vitória consecuitva na Copa e
alcança 24 partidas de invencibilidade, enfrentará Gana ou Uruguai na
semifinal, em partida na terça-feira, às 15h30m (de Brasília).
Conhecidas pelo estilo bonito de jogar, as seleções de Brasil e
Holanda deixaram o futebol de lado nos primeiros minutos. Luis Fabiano
e Van Bommel se estranharam e foram repreendidos pelo árbitro. O
holandês pareceu não se intimidar, já que em seguida discutiu com
Robinho. Passado esse início nervoso, no entanto, os brasileiros
perceberam que teriam espaço para jogar.
A primeira pista veio com passe de Maicon, que encontrou Daniel
Alves livre, mas impedido, ainda que por pouco. Robinho se posicionou
melhor e correu sozinho no meio da zaga laranja. Recebeu passe
primoroso de Felipe Melo e chutou com estilo, sem dominar a bola,
superando o goleiro. Com 1 a 0 no placar logo aos dez minutos, o Brasil
pôde se planejar para atuar do jeito que mais gosta: marcando em cima
no campo defensivo e procurando os contra-ataques.
No entanto, o estilo da Holanda, de não ir ao ataque
desesperadamente, fez com que os contragolpes não viessem. Ainda assim,
o Brasil produziu belas jogadas. Numa delas, Daniel Alves deu dois
cortes pela ponta e cruzou para Juan chutar por cima do gol. Na mais
bonita, Robinho deixou para trás dois marcadores, Luis Fabiano deu
passe de letra, e Kaká chutou bem ao seu estilo, com efeito, obrigando
Stekelenburg a fazer excelente defesa.
Com uma barreira à sua frente, Julio Cesar pouco trabalhou: fez
duas defesas, com segurança, em chutes de Kuyt e Sneijder. O craque
Robben insistiu na sua jogada preferida, de carregar a bola pela
direita e cortar para a esquerda, mas foi sempre bloqueado antes do
chute. A Holanda tentou invadir o terreno brasileiro até recorrendo à
malandragem. Em cobrança de escanteio, Robben deu um leve toque na bola
e correu para a área. Mas Daniel Alves, atento, alcançou a bola antes
que um adversário chegasse até ela.
Após 19 faltas, o primeiro tempo terminou com mais uma boa jogada
da seleção, em que Kaká - mais participativo do que em outros jogos -
inverteu um lance da esquerda para a direita. Maicon chutou para defesa
do goleiro.
Tão segura nos 45 minutos iniciais, a defesa brasileira começou
vacilante na segunda etapa. Um lance displicente no primeiro minuto fez
com que Felipe Melo levasse uma bronca de Lúcio. Sete minutos depois, o
Brasil sofreu o empate num lance que, até esta sexta-feira, era incomum
na Copa: falha da defesa. Julio Cesar e Felipe Melo se chocaram, e a
bola cruzada por Sneijder desviou de leve no volante antes de entrar.
Foi o primeiro gol contra do Brasil na história dos Mundiais.
A igualdade no placar desestabilizou o Brasil, que ficou acuado em
seu campo e via suas tentativas de ataque esbarrar em erros de passe.
Só conseguiu concluir uma jogada aos 20 minutos, quando Kaká bateu
colocado, mas sem muito perigo. A Holanda, que mostrou suas
fragilidades no primeiro tempo, passou a explorar as do Brasil,
explorando o lado direito do ataque, fazendo Michel Bastos sofrer para
marcar Robben. Pendurado com o cartão, o lateral deu lugar a Gilberto
aos 16 minutos.
Seis minutos depois, a Holanda conseguiu a virada. E em outra falha
da defesa. Uma cobrança de escanteio encontrou Kuyt na primeira trave.
Ele desviou a bola para trás, e Sneijder cabeceou para a rede. Mais
seis minutos, e a situação piorou. Felipe Melo fez falta e em seguida
deu um pisão em Robben, recebendo cartão vermelho direto.
Dunga ainda trocou Luis Fabiano por Nilmar, mas a troca de um
atacante por outro pouco ajudou a seleção, que só conseguiu levar
perigo aos holandeses em duas cobranças seguidas de escanteio. Aos 44
minutos, veio a tentativa derradeira. Daniel Alves cobrou falta, mas a
bola explodiu na barreira.
Ficha técnica:
Stekelenburg, Van der Wiel, Heitinga, Ooijer e Van Bronckhorst; Van Bommel, De Jong, Sneijder e Kuyt; Van Persie e Robben. | Julio Cesar, Maicon, Lúcio, Juan e Michel Bastos (Gilberto); Gilberto SIlva, Felipe Melo, Daniel Alves e Kaká; Robinho e Luis Fabiano (Nilmar). | ||
Técnico: Bert van Marwijk. | Técnico: Dunga. | ||
Gols: Robinho, aos dez minutos do primeiro tempo; Felipe Melo (contra), aos oito, e Sneijder, aos 22 minutos do segundo tempo. | |||
Cartão amarelo: Heitinga, Van der Wiel, De Jong, Ooijer (Holanda); Michel Bastos (Brasil). Cartão vermelho: Felipe melo. | |||
Estádio: Nelson Mandela Bay (em Porto Elizabeth). Data: 02/07/2010. Árbitro: Yuichi Nishimura (JAP). Assistentes: Toru Sagara (JAP) e Jeong Hae-Sang (COR). | Por Daniel Lessa Direto de Porto Elizabeth, África do Sul |