A pedagoga e cerimonialista Márcia Gadelha (foto), de 40 anos, deverá ser a primeira transexual na Paraíba a fazer uma cirurgia de mudança do sexo masculino para o feminino pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O custeio do procedimento passou a ser obrigatório pelo SUS desde 2007, por determinação da Justiça Federal.
Segundo determinação do Ministério da
Saúde (MS), antes da chamada transgenitalização propriamente dita, a
paciente tem que passar, obrigatoriamente, pelo menos dois anos sendo
acompanhada por psicólogos e uma equipe multidisciplinar, para que eles
avaliem se realmente há necessidade da cirurgia, que é irreversível.
Na Paraíba, a sessão de DST/Aids da
Secretaria de Saúde de João Pessoa está em processo de organização do
serviço, que até então nunca foi feito no Estado.
“Estão sendo feitas reuniões e o chefe
do setor está mobilizando as equipes para que nós possamos fazer aqui
no Estado essa adequação de sexo – do biológico para o psicológico.
Não sabemos ainda quando esse
acompanhamento pré-operatório estará estruturado e nem a data em que o
procedimento cirúrgico começará a ser feito”, explicou Tatiana Tinange,
consultora de DST/Aids. Ela acrescentou que o Hospital Universitário
deverá ser a unidade selecionada para realizar as cirurgias.
Tatiana explicou ainda que a ideia de
preparar esse serviço aqui na Paraíba surgiu da demanda de transexuais
que mantinham contato com um psicólogo do setor de DST/Aids, e que
manifestavam a necessidade da cirurgia.
Márcia Machado foi uma dessas pacientes
que procuraram o serviço de saúde em busca da adequação de sexo e
conseguiu ter o nome como o primeiro da lista de espera. Segundo ela, o
acompanhamento pré-cirúrgico será iniciado já em março e a expectativa
é que o procedimento não demore a acontecer.
Descoberta aconteceu aos sete anos
“Sou mulher, me sinto mulher, minha
cabeça é de mulher e penso como mulher”, destaca Fernanda Gadelha,
frisando que desde que descobriu a sexualidade, aos sete anos, se vê de
maneira diferente ao sexo biológico que possui. “Desde pequena, eu me
vestia como mulher, pegava as roupas e os sapatos da minha mãe. Não se
aprende a ser transexual, se nasce assim”, garante a pedagoga Fernanda.
Fernanda revela ainda que a cirurgia
será uma realização pessoal, “é o que eu quero. Desejo ser mulher por
completo, quero ser mais mais feliz, quero me encontrar”.
Conforme a consultora de DST/Aids, João Pessoa ainda não abriu oficialmente inscrições para as pessoas que
desejam fazer a transgenitalização, já que o serviço ainda está em
estruturação. Contudo, os interessados em realizar o procedimento podem
procurar o Hospital Universitário para colocar o nome em uma lista de
espera.
DOCUMENTÁRIO
A vida de Fernanda Gadelha está sendo objeto de um documentário do professor Bertrand Lira, a ser lançado após o período do carnaval. Ela destaca que o vídeo mostrará todos os aspectos da vida de uma transexual e os preconceitos que ela enfrenta na sociedade.
“Eu sofri muito na universidade em que
me graduei. A escola é excludente do grupo de gays, lésbicas e
simpatizantes”, conta, ressaltando que na vida profissional também teve
que travar batalhas para poder vencer a discriminação.
“Quanto mais a gente se mostra
feminina, menos oportunidades a gente tem”, completa. Fernanda revela
que a intenção do documentário é também mostrar a trajetória de uma
transexual que não se prostituiu e conseguiu sucesso na vida.
FONTE: Jornal da Paraíba