ESPORTES: 25/06/2010 - No duelo mais esperado da primeira fase da Copa do Mundo, o Brasil
cumpriu seu objetivo principal e ficou com a liderança do Grupo G.
Jogou para o gasto, com uma atuação razoável no primeiro tempo e
apagada no segundo, e ficou no empate por 0 a 0 com Portugal no estádio
Moses Mabhida, em Durban, nesta sexta-feira. A partida contra o
adversário mais forte da chave, no entanto, acende o sinal de alerta
para o time de Dunga, principalmente quanto ao desempenho pouco
produtivo de Julio Baptista, substituto de Kaká, e à dependência do
ataque pelo lado direito.
O Brasil, que ouviu vaias de parte da torcida após o apito final,
acumulou sete pontos no Grupo G, contra cinco dos portugueses, quatro
dos marfinenses e nenhum dos norte-coreanos. Agora espera a rodada
decisiva do Grupo H, nesta tarde (a partir de 15h30m), para conhecer o
segundo colocado, que será seu adversário nas oitavas de final, na
próxima segunda-feira, às 15h30m (de Brasília). Portugal, que alcançou
19 partidas de incencibilidade e terminou a fase de grupos da Copa sem
sofrer gol, pegará o líder do Grupo H na terça-feira, no mesmo horário.
Com a missão cumprida, a seleção brasileira tem a vantagem de
percorrer um caminho teoricamente mais fácil até a final. Depois das
oitavas, se for avançando, encara Holanda ou Eslováquia nas quartas, e
Uruguai, Coreia do Sul, Estados Unidos ou Gana na semifinal. Do outro
lado da chave, Argentina, Alemanha, Inglaterra e Portugal batalham por
uma vaga na decisão.
As duas seleções apresentaram surpresas em suas escalações. O
Brasil, além da entrada de Daniel Alves e Julio Baptista, teve Nilmar
substituindo Robinho, poupado. Portugal foi mais radical nas mexidas,
com quatro alterações: entraram Ricardo Costa, Duda, o brasileiro Pepe
e Danny.
Brasil encontra adversário recuado
Os primeiros minutos da partida mostraram o objetivo de Portugal
com as mudanças: reforçar a marcação, sobretudo pelo lado esquerdo da
defesa, e sair no contra-ataque. E foi exatamente pelo lado mais
congestionado do campo que o Brasil buscou seus ataques, com Daniel
Alves se aproximando de Maicon e tentando achar espaços pelo meio. No
outro canto, Nilmar se posicionava às costas de Ricardo Costa,
esperando por uma falha. Mas ficava isolado, já que Michel Bastos não
avançava, e Julio Baptista não passava por ali.
Se o Brasil avançava com Maicon, Portugal aproveitava o espaço
deixado pelo lateral-direito para conseguir seus ataques. Na melhor
oportunidade, Coentrão deu passe aéreo da esquerda para Tiago na
entrada da área. O meia pegou de primeira, num lance bastante plástico,
mas de pouco perigo. O craque Cristiano Ronaldo - eleito o melhor em
campo pela terceira vez seguida - jogou mais centralizado, em vez de se
deslocar pelas pontas, e não assustou na primeira etapa. Conseguiu
apenas um chute de fora da área, defendido sem problemas por Julio
Cesar. Poderia ter uma segunda chance, se Juan não colocasse a mão na
bola, interceptando bom lançamento de Duda e recebendo cartão amarelo.
A advertência não foi apenas para o zagueiro. Outros seis jogadores
- quatro portugueses e dois brasileiros - também ficaram pendurados nos
45 minutos iniciais, às vezes em lances ríspidos. Felipe Melo
distribuiu entradas duras e sofreu um pisão de Pepe, que fez o sinal de
"1 a 1" para ele, após claro revide. Dunga preferiu poupar o volante de
uma lesão mais grave no tornozelo e de um cartão vermelho
desnecessário, trocando-o por Josué.
A seleção brasileira, que teve 63% de posse de bola na primeira
etapa, esteve perto de tirar o zero do placar. Mesmo isolado, Nilmar
teve duas boas chances. Uma foi criada por ele mesmo, após dar chapéu
em Ricardo Costa e isolar a bola em seguida. A outra veio em passe
primoroso de Luis Fabiano: Nilmar se esticou e conseguiu concluir a
gol, mas esbarrou em boa defesa de Eduardo, que espalmou para o
travessão. Luis Fabiano também teve a sua oportunidade, cabeceando com
estilo após cruzamento de Maicon. A bola passou raspando a trave.
No segundo tempo, Portugal continuou explorando o seu lado
esquerdo, onde nos primeiros minutos Cristiano Ronaldo recebeu dois
passes livre na ponta. Nos dois lances tentou passe para a área, mas
foi impedido por um carrinho providencial de Lúcio, no primeiro, e por
uma cabeçada acrobática de Juan no segundo. Os lusos mostravam que
estavam mais dispostos a atacar e reforçaram essa estratégia ao
trocarem Duda pelo atacante Simão.
Julio Cesar precisou entrar em ação aos 15 minutos, espalmando um
chute de Raul Meireles, após desarme de Lúcio em Cristiano Ronaldo, que
chegou ao ataque sozinho enfrentando quatro adversários. Enquanto o
goleiro era atendido, após choque com o português, e exibia uma
proteção nas costas, Dunga mostrava no banco de reservas muita
irritação com a falha na marcação.
Vendo o adversário tomar a iniciativa do jogo na segunda etapa, o
Brasil tentava variar mais suas jogadas, apostando em Michel Bastos na
esquerda. Mas o lateral não teve sucesso nas jogadas de ataque, sendo
vaiado por parte da torcida após um cruzamento errado. Pelo meio, a
situação também era complicada, com Julio Baptista se movimentando
pouco e aceitando facilmente a marcação.
Nos 15 minutos finais, Brasil e Portugal pouco se arriscaram,
satisfeitos com o empate zerado no placar. Sem muitas alternativas do
meio-campo para frente, Lúcio fez o papel do volante que sai para o
jogo, avançando com a bola e procurando um companheiro mais bem
colocado. Dunga ainda trocou Julio Baptista por Ramires, que tinha um
cartão amarelo e corria o risco de ficar suspenso nas oitavas, e Luis
Fabiano por Grafite, que fez sua estreia na Copa.
Nos cinco minutos de acréscimo, Ramires quase marcou, após chute
que desviou no adversário e quase traiu o goleiro Eduardo, que se
esticou e fez excelente defesa. Permaneceu no placar o 0 a 0, o
primeiro do Brasil desde a final de 1994.