quinta-feira, 7 de maio de 2020

Bolsonaro terá 'centrão', mas impeachment pode avançar se houver apoio popular, dizem autores de pedido


Ciro Gomes (PDT), Kim Kataguiri (DEM), Joice Hasselmann (PSL), Alessandro Molon (PSB) e outros autores de pedidos de impeachment de Bolsonaro avaliam as chances do impedimento prosseguir no Congresso.

Um eventual processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ainda não tem apoio suficiente para avançar dentro do Congresso, mas as condições políticas para o impedimento podem ser criadas se o clamor pela saída do mandatário crescer na sociedade.

Esta é a avaliação da maioria dos políticos — de esquerda e de direita — que já protocolaram pedidos de impeachment do político carioca.

Nos últimos dias, Bolsonaro intensificou as negociações com partidos do chamado "centrão", visando formar uma base de apoio para si no Congresso — um dos objetivos do movimento é justamente blindar o governo na eventualidade de processo de impeachment.

Nesta quarta-feira (6), o Diário Oficial trouxe a nomeação de Fernando Marcondes de Araújo Leão como presidente do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs). Leão é filiado ao Avante (antigo PT do B), mas foi indicado pelo Partido Progressista (PP). Comandará um orçamento de R$ 2,1 bilhões, dos quais R$ 265 milhões estão livres para investimentos. É a primeira entrega de um cargo de peso feita por Bolsonaro a legendas do centrão.

A reportagem da BBC News Brasil conversou com líderes políticos que assinam sete dos 36 pedidos de impeachment apresentados até agora contra o presidente da República — entre as pessoas ouvidas estão o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes; a líder do PSL na Câmara, Joice Hasselmann (SP); e o líder do PSB, o deputado Alessandro Molon (RJ).

A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) é signatária de um dos primeiros pedidos de impeachment contra Bolsonaro, apresentado por deputados do PSOL em 18 de março. Segundo ela, o presidente pode ter alterado a correlação de forças na Câmara ao negociar o apoio do que ela chama de "base alugada" do centrão — mas ela acredita que isto pode ser revertido com pressão popular.

"Ele (Bolsonaro) está comprando o que existe de pior na política brasileira: Roberto Jefferson (do PTB), Valdemar Costa Neto (do PL), em troca de cargos. E esse pagamento da 'base alugada' é feito todo com dinheiro público", disse a deputada à BBC News Brasil.

"Então, momentaneamente, essa correlação pode ter se alterado. Não sei quantos (deputados) já se venderam, nessa 'base alugada' desses partidos com os quais ele está negociando, mas a Câmara também é muito permeada pela pressão popular", afirmou Melchionna.

"Eu acho que, para conseguirmos uma correlação de forças favoráveis lá dentro, a gente precisa aumentar a pressão do lado de fora. E essa pressão da sociedade está crescendo", disse ela.
"Para proteger aos filhos (...), o presidente tenta há meses uma interferência na Polícia Federal. Isso é inadmissível", diz Joice Hasselmann (PSL-SP)


Foto: FLICKR FAMÍLIA BOLSONARO / BBC News Brasil