Estamos
Divididos/as?
Começo com essa provocação
para não jogarmos fora nosso acúmulo ao longo dos últimos anos, já que desde
2016 estamos unidos em várias lutas por direitos e por democracia. As frentes,
Povo Sem Medo e Brasil Popular, estão funcionando quase que como uma única
frente para pensar a luta política. Mais recentemente nós da esquerda fizemos
três grandes carreatas nacionais construindo caminhos para mobilizar o povo em
meio a necessidade do distanciamento social.
A reflexão dos/as
interlocutores/as tem sido quase sempre a mesma, “mas estou falando das
eleições”. Contudo, não tem unidade eleitoral, ou é mais difícil que aconteça,
se ela não é resultado de um debate prévio, nas lutas e na construção do
programa. Foi por conta desse avanço que em 2018 tivemos uma forte unidade no
segundo das eleições presidenciais, além de várias ações conjuntas ainda no
primeiro turno, mesmo em candidaturas distintas. Em 2020 essa unidade ampliou
em várias cidades do país. Claro, podemos mais, mas não começamos agora e
estamos com muito acúmulo.
Unidade
com quem?
Nessa pergunta o debate vai
ficando mais difícil. Alguns/mas acreditam em unidade com o “centrão
democrático”, outros entendem que o centrão é a sustentação do Bolsonaro. Tem
quem ache que deve compor o Governo João Azevedo, outros que essa composição é
um erro para o fortalecimento do campo democrático. Não, não é fácil. Existe ainda
quem fale em unidade, mas exige de outra organização quase que um tratado com
pedido de desculpas anexo. Ainda existem os/as que querem verticalizar o debate
e as decisões com base em seu tamanho e história, quase que como critério
inicial, mas outros/as já apontam para horizontalidade dessa construção.
De
que unidade falamos?
Vamos supor, e é bem
possível que isso seja uma verdade, que todas as organizações da esquerda
queiram a unidade das ruas também nas eleições. Neste caso precisaríamos pensar
um espaço/instância para aprovar o programa, definir nomes, cargos, composição.
Precisaríamos definir quem votaria nessa decisão ou se algo assim deve ser
votado além dos limites de cada organização.
A unidade não pode ser
pensada inicialmente por definição de nomes, isso esvaziaria o debate
programático. Não ajudaria começar o debate dizendo que seria Tárcio Teixeira
(PSOL) o candidato a Governador e não Jô Oliveira (PCdoB), que seria Luiz Couto
(PT) o candidato ao Senado e não Rafael Freire (UP) ou Priscilla Gomes (PSB).
Ouvi de um companheiro outro
dia que “nada é unidade, [...] mas união das diferenças”, pois que possamos nos
unir para construir e listar pontos comuns. Não existe chapa dos sonhos, cada
um de nós que lemos esse texto iriamos sugerir inúmeras chapas dos sonhos, mas
é bem possível que consigamos construir e listar diversos pontos programáticos
comuns, envolvendo além das direções partidárias, envolvendo diversos
movimentos e pessoas que queiram a união das diferenças e, para isso, estejam
dispostas a baixar seus “muros”.
Os
partidos topam uma construção suprapartidária?
Devem ter percebido que
tentei construir esse texto não apresentando respostas para todas as perguntas,
até fugindo de algumas polêmicas. Quem tem lido meus textos, percebeu também
que construí essas linhas na primeira pessoa, não como uma posição coletiva do
PSOL. Assim fiz para deixar dito que a intencionalidade aqui apresentada não é
chegar com algo pronto, deliberado, mas construir o mais horizontalmente
possível.
Claro, caso nosso debate
avance para uma chapa e/ou um programa a ser apresentado nas eleições, ambos
são registrados no TRE, por partidos. Os governos, assim como a oposição e a
situação no parlamento, também são construídos por partidos. Mas estou
defendendo que façamos esse movimento para além dos partidos políticos.
Penso que podemos aproveitar
o acúmulo do Fórum Pró-Campina e começar por um amplo debate programático para
pensar que paraíba queremos, mas claro, com limites, sem a presença das forças
conservadoras que são base do desgoverno Bolsonaro ou que aprovam suas propostas
antipovo no Congresso Nacional.
Ainda esta semana falarei
com representantes do Fórum Pró-Campina e de partidos políticos, após esse
diálogo inicial, com quem tenha interesse, vou sugerir que avancemos para
convidar movimentos sociais, intelectuais e sociedade paraibana para construir a
Paraíba que queremos.
João Pessoa, 01 de março de
2021.
Por Tárcio Teixeira
- Assistente Social
- Ex-presidente do Conselho Regional de Serviço Social da Paraíba