segunda-feira, 1 de março de 2021

Reflexão: Paraíba e a unidade da esquerda

Estou sendo procurado por diversas pessoas, filiadas e não filiadas a partidos, que querem muito a esquerda unida, e a acusa de divisão. Como não sou detentor de todas as respostas, prefiro iniciar essas conversas/debates com algumas perguntas, é por elas que quero estruturar minha reflexão e, ao final, apresentar um convite para quem constrói a esquerda na Paraíba.

Estamos Divididos/as?

Começo com essa provocação para não jogarmos fora nosso acúmulo ao longo dos últimos anos, já que desde 2016 estamos unidos em várias lutas por direitos e por democracia. As frentes, Povo Sem Medo e Brasil Popular, estão funcionando quase que como uma única frente para pensar a luta política. Mais recentemente nós da esquerda fizemos três grandes carreatas nacionais construindo caminhos para mobilizar o povo em meio a necessidade do distanciamento social.

A reflexão dos/as interlocutores/as tem sido quase sempre a mesma, “mas estou falando das eleições”. Contudo, não tem unidade eleitoral, ou é mais difícil que aconteça, se ela não é resultado de um debate prévio, nas lutas e na construção do programa. Foi por conta desse avanço que em 2018 tivemos uma forte unidade no segundo das eleições presidenciais, além de várias ações conjuntas ainda no primeiro turno, mesmo em candidaturas distintas. Em 2020 essa unidade ampliou em várias cidades do país. Claro, podemos mais, mas não começamos agora e estamos com muito acúmulo.

Unidade com quem?

Nessa pergunta o debate vai ficando mais difícil. Alguns/mas acreditam em unidade com o “centrão democrático”, outros entendem que o centrão é a sustentação do Bolsonaro. Tem quem ache que deve compor o Governo João Azevedo, outros que essa composição é um erro para o fortalecimento do campo democrático. Não, não é fácil. Existe ainda quem fale em unidade, mas exige de outra organização quase que um tratado com pedido de desculpas anexo. Ainda existem os/as que querem verticalizar o debate e as decisões com base em seu tamanho e história, quase que como critério inicial, mas outros/as já apontam para horizontalidade dessa construção.

De que unidade falamos?

Vamos supor, e é bem possível que isso seja uma verdade, que todas as organizações da esquerda queiram a unidade das ruas também nas eleições. Neste caso precisaríamos pensar um espaço/instância para aprovar o programa, definir nomes, cargos, composição. Precisaríamos definir quem votaria nessa decisão ou se algo assim deve ser votado além dos limites de cada organização.

A unidade não pode ser pensada inicialmente por definição de nomes, isso esvaziaria o debate programático. Não ajudaria começar o debate dizendo que seria Tárcio Teixeira (PSOL) o candidato a Governador e não Jô Oliveira (PCdoB), que seria Luiz Couto (PT) o candidato ao Senado e não Rafael Freire (UP) ou Priscilla Gomes (PSB).

Ouvi de um companheiro outro dia que “nada é unidade, [...] mas união das diferenças”, pois que possamos nos unir para construir e listar pontos comuns. Não existe chapa dos sonhos, cada um de nós que lemos esse texto iriamos sugerir inúmeras chapas dos sonhos, mas é bem possível que consigamos construir e listar diversos pontos programáticos comuns, envolvendo além das direções partidárias, envolvendo diversos movimentos e pessoas que queiram a união das diferenças e, para isso, estejam dispostas a baixar seus “muros”.

Os partidos topam uma construção suprapartidária?

Devem ter percebido que tentei construir esse texto não apresentando respostas para todas as perguntas, até fugindo de algumas polêmicas. Quem tem lido meus textos, percebeu também que construí essas linhas na primeira pessoa, não como uma posição coletiva do PSOL. Assim fiz para deixar dito que a intencionalidade aqui apresentada não é chegar com algo pronto, deliberado, mas construir o mais horizontalmente possível.

Claro, caso nosso debate avance para uma chapa e/ou um programa a ser apresentado nas eleições, ambos são registrados no TRE, por partidos. Os governos, assim como a oposição e a situação no parlamento, também são construídos por partidos. Mas estou defendendo que façamos esse movimento para além dos partidos políticos.

Penso que podemos aproveitar o acúmulo do Fórum Pró-Campina e começar por um amplo debate programático para pensar que paraíba queremos, mas claro, com limites, sem a presença das forças conservadoras que são base do desgoverno Bolsonaro ou que aprovam suas propostas antipovo no Congresso Nacional.

Ainda esta semana falarei com representantes do Fórum Pró-Campina e de partidos políticos, após esse diálogo inicial, com quem tenha interesse, vou sugerir que avancemos para convidar movimentos sociais, intelectuais e sociedade paraibana para construir a Paraíba que queremos.

 

João Pessoa, 01 de março de 2021.

 

Por Tárcio Teixeira

 

- Assistente Social 

- Ex-presidente do Conselho Regional de Serviço Social da Paraíba