O carnavalesco João Clemente Jorge Trinta, conhecido como Joãosinho Trinta, de 78 anos
morreu por volta das 11h deste sábado (17) em São Luís, no Maranhão.
Ele está internava desde o dia 3 deste mês, em estado grave.
"Sou a última pessoa que esteve com ele. O aparelho dele parou de
funcionar. Apertou a minha mão e se foi. Estava no quarto com ele faz
cinco minutos", afirmou ao G1 Arley Mack, cuidador do carnavalesco.
Segundo o assessor de imprensa de Joãosinho, o sepultamento deve
ocorrer às 10h da segunda-feira. O corpo será velado em São Luís.
O Hospital UDI, em São Luís, informou que o carnavalesco morreu às
9h55, horário local, em razão de um choque séptico, infecção
generalizada, e apresentava quadro de pneumonia e infecção urinária.
Até esta sexta, ele estava com um "quadro de insuficiência respiratória
e sepse, evoluindo com instabilidade hemodinâmica". A cirurgia a que
ele se submeteria na sexta havia sido descartada no final da tarde.
A carreira do carnavalesco Joãosinho Trinta
João Clemente Jorge Trinta, conhecido como Joãosinho Trintax, nasceu em
São Luís, em 23 de novembro de 1933. Trabalhou como escriturário na
capital maranhense até se mudar para o Rio de Janeiro, em 1951, onde fez
dança clássica no Teatro Municipal e montou peças como “O Guarani”, de
Carlos Gomes, e “Aida”, de Giuseppe Verdi.
Ele começou a carreira de carnavalesco no Salgueiro, como assistente de
Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. Joãosinho foi campeão em 1965,
1969 e 1971. Dois anos depois, em 1973, ele assume como carnavalesco da
escola de samba e fez parceria com a artista plástica Maria Augusta. Com
o enredo “Eneida: amor e fantasia” eles conquistaram o terceiro lugar
no carnaval do Rio de Janeiro.
Joãosinho em 2006, afastado do Carnaval havia
dois anos em razão de um derrame, apareceu na
Marquês de Sapucaí em um carrinho motorizado
junto a outros cadeirantes no desfile da Vila Isabel,
escola campeã (Foto: Dida Sampaio/AE)
dois anos em razão de um derrame, apareceu na
Marquês de Sapucaí em um carrinho motorizado
junto a outros cadeirantes no desfile da Vila Isabel,
escola campeã (Foto: Dida Sampaio/AE)
No ano seguinte, em 1974, ele iniciou carreira solo e faturou o título
daquele ano pelo Salgueiro, com o enredo "O Rei de França na Ilha da
Assombração". A segunda conquista aconteceu em 1975 com o trabalho "O
Segredo das minas do Rei Salomão."
Joãosinho Trinta saiu do Salgueiro após problemas com a diretoria da
escola de samba e seguiu para a Beija-Flor, onde teve uma carreira de
sucesso e de títulos com o parceiro figurinista Viriato Ferreira.
Com ousadia e enredos luxuosos, Joãosinho Trinta passou a ser chamado
de gênio e reinou no Rio de Janeiro conquistando os títulos do carnaval
de 1976, 1977, 1978, 1980 e 1983. Ele ainda teve destaque com dois
trabalhos carnavalescos que ficaram com a segunda colocação, em 1986 e
em 1989.
Censura
O trabalho “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia” criou polêmica com a Igreja Católica por colocar na Sapucaí um carro alegórico com o Cristo Redentor vestido como mendigo, em 1989. A imagem foi censurada e, sem perder a criatividade, Joãosinho Trinta resolveu cobrir o Cristo com plástico preto e a inscrição: “Mesmo proibido, olhai por nós.”
O trabalho “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia” criou polêmica com a Igreja Católica por colocar na Sapucaí um carro alegórico com o Cristo Redentor vestido como mendigo, em 1989. A imagem foi censurada e, sem perder a criatividade, Joãosinho Trinta resolveu cobrir o Cristo com plástico preto e a inscrição: “Mesmo proibido, olhai por nós.”
Joãosinho também venceu os carnavais do grupo de acesso com o Império
da Tijuca, em 1976, e Acadêmicos da Rocinha, nos anos de 1989, 1990 e
1991. Pela Unidos do Peruche, ele também teve uma passagem em 1989 e em
1990.
O carnavalesco ganhou outro título no Rio de Janeiro com a Viradouro,
em 1997, com o enredo “Trevas! Luz! A explosão do universo.”
Em 2001, Joãosinho Trinta levou para a Sapucaí um homem voando em um
foguete portátil como parte do enredo “Gentileza, o profeta do fogo”,
pela Grande Rio, conquistando a sexta colocação.
Inovação financeira
Ele conquistou o 3º lugar no carnaval de 2003, com o enredo “Nosso Brasil que Vale”. Por este trabalho, Joãosinho foi considerado o primeiro carnavalesco a aceitar merchandising e patrocínio para compor o enredo. A então empresa Vale do Rio Doce, que hoje se chama apenas Vale, ajudou nos custos da escola de samba. Neste mesmo ano, ele gravou o documentário “A Raça-Síntese de Joãosinho Trinta”, que mostrava os preparativos do carnaval na Grande Rio.
Em 2004, horas antes da apuração do carnaval, Joãosinho Trinta foi
demitido. Com o enredo “Vamos vestir a camisinha, meu amor”, a escola
ficou apenas em 10º lugar. A diretoria, à época, alegou que o
carnavalesco tinha fugido do tema original.
Despedida da Sapucaí
A última participação de Joãosinho Trinta no carnaval do Rio de Janeiro
foi em 2005, na Vila Isabel, com o enredo “Singrando em mares
bravios... E construindo o futuro”, que lhe rendeu a 10ª colocação.
Em 2009, ele ajudou a cidade de Cavalcante (GO), com pouco mais de 10
mil habitantes, a fazer carnaval local. Mesmo com a saúde frágil, ele
desenhou fantasias e orientou as costureiras a fazer os trabalhos. Ele
improvisou barracões em galpões de fazendas, organizou a bateria e
montou cinco blocos carnavalescos. A apresentação contou com
descendentes de escravos, que apresentaram a sussa, dança típica
quilombola.
Atualmente, Joãosinho Trinta vivia no Maranhão e atuava em projetos da
Secretaria de Cultura do Estado para a comemoração dos 400 anos de São
Luís, em 2012.
Problemas de saúde
Em 1993, após sofrer uma isquemia, ele não participou do carnaval.
Em 1993, após sofrer uma isquemia, ele não participou do carnaval.
Em novembro de 2004, ele sofreu um AVC (acidente vascular cerebral). Em
julho de 2006, sofreu outros dois AVCs, foi internado no Rio de Janeiro
e transferido para o Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília.
Em maio deste ano, ele passou 37 dias internado no Hospital UDI, em São Luís, com quadro de pneumonia e insuficiência cardíaca.
G1