Confiança. Este é o sentimento que resume a relação estabelecida
entre moradores e policiais comunitários. Um modelo de polícia solidária
e mais próxima do cidadão que ganha espaço na Paraíba, trazendo
importantes resultados no controle da criminalidade. O Governo do Estado
tem apostado nessa filosofia, baseada no compartilhamento da
responsabilidade sobre a segurança pública, em que a população se torna
principal aliada no combate à violência. O objetivo é envolver a
comunidade no processo de prevenção ao crime, assim como outras
instâncias públicas.
Em 2011, três bairros de João Pessoa que apresentavam índices
criminais elevados receberam o policiamento comunitário. Foram
inauguradas as Bases de Polícia Solidária nos bairros Alto do Mateus,
Mandacaru e, recentemente, iniciadas as instalações de uma Base na
comunidade Bola na Rede, no bairro dos Novais. Para melhorar a
segurança nesses locais, o Estado tem investido na formação de novos
policiais comunitários. De janeiro a novembro deste ano, 370 pessoas,
entre policiais e agentes comunitários, foram capacitados com cursos
oferecidos pela Secretaria da Segurança e da Defesa Social.
Os estudos realizados pelo Núcleo de Análise Criminal da Seds
confirmam o relato dos moradores. No mês de agosto foi registrada uma
queda de 67% no número de homicídios em Mandacaru. Nos meses seguintes, a
redução chegou a 80%. Em 2010, o local ocupava a primeira posição no
ranking de bairros da Capital com maior número de mortes violentas,
caindo para a sexta posição.
Bairro sem medo – A Base de Polícia Solidária em
Mandacaru completou sete meses de funcionamento e os moradores já
comemoram os resultados. O comerciante Luiz Carlos de Oliveira conta que
a população vivia aterrorizada. Os assaltos eram constantes e o tráfico
de drogas ditava as regras no bairro.
“Era uma terra sem lei. A gente não podia andar com dinheiro, os
assaltos aconteciam a qualquer hora do dia e as mortes eram constantes. A
instalação da Base marcou uma nova fase na história do bairro e
voltamos a viver com tranquilidade”, garantiu.
Outra mudança observada pelo comerciante foi quanto à imagem que os
moradores tinham da polícia. “A visão era de uma polícia truculenta,
opressora. Hoje, a gente confia na polícia e sabe que pode contar com
ela em qualquer situação”, declarou Luiz Carlos.
Nossa reportagem acompanhou um dia de trabalho dos policiais na Base
de Mandacaru e observou de perto o nível de confiança existente entre
policia e comunidade. Ao fazer rondas pelo bairro, o subtenente Alberto
é reconhecido e cumprimentado por quase todos os moradores. Junto com
ele, trabalham cinco policiais no plantão diurno e oito integram o
plantão noturno.
“As pessoas me chamam pelo nome e nos ajudam a identificar os
problemas do bairro, seja a existência de uma boca de fumo, seja um
problema de infraestrutura. Tudo é levado ao nosso conhecimento e a
gente busca resolvê-los fazendo a nossa parte e acionando os demais
órgãos responsáveis”, explicou o policial.
Parceria com escolas – Os alunos, professores e
diretores da Escola Municipal Violeta Formiga também foram beneficiados
com a presença da polícia comunitária. De acordo com a diretora adjunta,
Geane Vasconcelos, além do serviço de patrulha escolar, os policiais
atuam nos projetos culturais e esportivos da instituição.
“Os policiais estão engajados nos nossos projetos e os alunos
passaram a tê-los como referência. Eles se sentem amigos da polícia,
assimilaram a ideia de organização e responsabilidade e melhoraram o
comportamento. As mudanças são observadas dentro e fora da sala de
aula”, avaliou a diretora.
Um dos policiais que se orgulham do vínculo construído com os alunos é
o cabo Marcus Cesar. Além de policial, ele é músico e utiliza a arte
para sensibilizar os estudantes. “É muito gratificante ver o resultado
do nosso trabalho na mudança de comportamento desses meninos. Muitos
deixam as drogas e descobrem que há outras possibilidades, alguns até
sonham em ser policiais”, afirmou o policial, visivelmente emocionado.
Segundo o coordenador estadual de Polícia Comunitária, coronel
Sobreira, o êxito do trabalho nas comunidades tem estimulado outros
policiais a buscar a capacitação. “Estamos na oitava edição do curso de
Polícia Comunitária, com uma procura intensa dos policiais. Temos
buscado difundir a ideia não só no público interno da polícia, mas
também nas comunidades, levando essa filosofia a toda a Paraíba”,
garantiu.
Meta do Governo
– A meta do Governo é fazer com que esse modelo de polícia seja adotado
nas comunidades que possuem altas taxas de criminalidade. De acordo com
o governador Ricardo Coutinho, esta será a estratégia adotada para
ocupação e pacificação dos espaços.
“É dessa forma que nós vamos combatendo a criminalidade, com diálogo,
com cidadania, com respeito à comunidade, instalando bases e
descentralizando a polícia para respeitar a população e construir junto
com ela uma cultura de paz”, declarou o governador.
O secretário da Segurança e da Defesa Social Cláudio Lima destacou um
diferencial no modelo de polícia comunitária adotado na Paraíba: uma
polícia focada em resultados. Para ele, a polícia solidária é aquela que
se aproxima do cidadão, mas principalmente, que colabora efetivamente
na redução da criminalidade.
“Nossos policiais estão preparados não só para se aproximar da
comunidade, aumentado a confiança mútua, mas para apresentar resultados.
Esse mesmo policial amigo da população é o que participa de operações e
prende criminosos, cuidando para que os índices criminais sejam
reduzidos em sua área”, explicou.
Também merece destaque o trabalho de polícia comunitária realizado
pelo Núcleo Integrado da Ilha do Bispo, em João Pessoa. Com a
implantação do Núcleo na comunidade, o índice de homicídios chegou a
zerar e a população, que tinha modificado hábitos de vida, voltou a
viver com mais segurança. O Bairro Alto do Mateus também passou a
registrar indicadores bem menores após a presença permanente da polícia.
O próximo bairro a contar com uma polícia comunitária será o São José.
“Nós aprendemos no dia-a-dia que esses policiais não estão aqui só
para prender, mas para proteger a população, que, além de proteção,
precisa de respeito”, concluiu a dona de casa Maria Bernadete Santana,
moradora de Mandacaru há mais de 12 anos.
Secom