segunda-feira, 19 de abril de 2010

Monsenhor admite sexo com coroinha, se compara a Jesus e diz que bispo sabia dos casos

BRASIL: 19/04/2010 - O monsenhor Luiz Marques Barbosa reconheceu que manteve relações sexuais com um ex-coroinha, mas negou a prática de pedofilia. Ele prestou depoimento na tarde deste domingo (18) a integrantes da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pedofilia, no Fórum de Arapiraca (AL), pediu “perdão pelo pecado” e se comparou a Jesus Cristo. “Renova-se em mim o que ouvi na Sexta-feira Santa, que foi Jesus dizendo: ‘tiraram minha roupa, cuspiram sobre mim e me crucificaram’. É isso que estou passando”, relatou, para, em seguida, pedir perdão aos presentes ao depoimento. “Queria pedir que atendessem ao meu clamor: perdoem-me! Já me confessei a Deus também”.

CPI da Pedofilia 

O monsenhor foi flagrado em vídeo fazendo sexo com o ex-coroinha Fabiano Silva Ferreira, à época com 18 anos. As imagens foram exibidas ao público durante o depoimento. “Foi o único ato que pratiquei”, alegou.
Barbosa foi o segundo pároco a reconhecer as denúncias de abuso – neste sábado (17), o padre Edílson Duarte reconheceu que fez sexo com adolescentes.

O monsenhor voltou a fazer comparação com Jesus em momento do depoimento, ao ser dizer traído pelos ex-coroinhas. “Lamento que essas acusações tenham partido de pessoas que comeram na minha mesa, assim como Jesus disse: ‘eles que comeram do meu pão é que me traíram’. Eles estão aqui na minha frente e, não sei se por fraqueza, agora eles me atiram pedras”, disse.

Luiz Marques ainda confirmou que tinha informações de que o padre Edílson Duarte abusava de crianças e adolescentes na casa paroquial e que tomou as providências cabíveis. “A gente sabia que ele fazia essas coisas uma ‘vezinha’ ou outra. Eu dava conselhos a ele. Não o afastei porque não sou o bispo, mas ele [Dom Valério Brêda, bispo de Penedo] foi informado”, confidenciou. “Vamos convocar o bispo então”, adiantou o senador Magno Malta, presidente da CPI da Pedofilia.

O senador Magno Malta ainda apresentou, durante o depoimento, cerca de 15 garrafas de bebidas alcoólicas apreendidas um dia antes na casa do monsenhor – que instantes antes tinha negado ter oferecido bebidas a coroinhas. “Também foi encontrada creme vaginal, monsenhor. Para que o senhor quer?”, questionou Malta. “Não é meu. Deve ter sido a minha irmã ou uma visita que esqueceu”, respondeu o monsenhor, dizendo ser “normal oferecer bebidas às visitas”.
Denúncias
O depoimento foi marcado por denúncias de supostas vítimas. O ex-coroinha Cícero Flávio Vieira Barbosa alegou que teve a primeira relação sexual com o monsenhor aos 12 anos de idade, na casa paroquial de São José. “Tive inúmeras relações com ele”, alegou.

Fabiano também relatou que começou a ser abusado sexualmente pelo monsenhor aos 12 anos de idade. “Ele pediu para entrar no escritório dele, pediu para sentar e perguntou sobre minha família, tentou beijar a boca, pegando na minha genitália. Ele viu que estava apavorado e me deixou ir. Mas depois foi insistindo e acabei cedendo”, alegou.

Como recompensa por ser “bom coroinha”, o monsenhor teria pago um ano de mensalidade em colégio particular da cidade. “Além disso, ele tirava dinheiro do dízimo, 10, 15 reais para nos dar”, contou aos membros da CPI e da Polícia Civil, que também acompanham o depoimento.

Em sua defesa, o monsenhor alegou que manteve relação sexual com Fabiano, mas apenas quando ele tinha mais de 18 anos e de forma consensual. “Não sou pedófilo. A pessoa que esteve ali comigo quis manter aquele contato. O vídeo é a única prova que têm”, relatou.

Outro monsenhor nega

Primeiro a depor neste domingo, o monsenhor Raimundo Gomes negou qualquer envolvimento com crianças e adolescentes e afirmou ser vítima de uma “vingança”. Ele alegou ainda que ex-coroinhas tentaram o extorquir. “O Anderson [Farias Silva, ex-coroinha] vivia me procurando para dizer que, se não desse dinheiro, iria divulgar o vídeo [em que o monsenhor Luiz Marques Barbosa aparece fazendo sexo com um adolescente]. Sou padre por vocação, por amor a Deus, à Igreja e aos meus irmãos. Sempre tive respeito a meu povo e, sobretudo, aos coroinhas. Nunca abusei, nunca peguei em órgão genital de coroinha em altar, como me acusam”, disse.

Acompanhado da família, o coroinha Anderson relatou que teve o primeiro contato sexual com o monsenhor aos 14 anos, na casa paroquial. “Ele se tornou muito amigo da minha família e, um certo dia, pediu para que dormisse na casa dele porque disse que tinha medo de dormir só. Aí comecei aí e ele começou a me assediar e praticar sexo”, afirmou.

No momento mais tenso do depoimento, houve bate boca entre familiares do ex-coroinha, depois que o monsenhor alegou que a família estava mentindo e pediu que Deus rogasse “misericórdia pela mentira deles”. Outro ex-coroinha, Cícero Flávio, também assegurou ter mantido relações sexuais com o monsenhor inúmeras vezes.

O senador Magno Malta ainda argumentou que uma gravação apresentada à Polícia mostra o padre Edílson Duarte falando ao ex-coroinha Cícero Flávio que “o monsenhor Raimundo gosta de menino novo”. “Todos conhecem o padre Edílson Duarte, que ele fala demais, é desmiolado”, rebateu o monsenhor.

O padre Edílson Duarte, que foi chamado para uma acareação, confirmou a versão apresentada pelos ex-coroinhas e, em seguida, pediu proteção policial. “O monsenhor Raimundo é muito perigoso”, alertou.

Carlos Madeiro / UOL Notícias