quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Presidente Lula durante visita às obras do túnel Cuncas I, no lote 14 do Projeto São Francisco em São José de Piranhas/PB

CIDADES - Ô companheiros, eu estou muito atrasado… Não, é verdade. É verdade porque eu tenho, eu tenho ainda… eu ainda tenho que ir a Salgueiro visitar um trecho da Transnordestina, e eu queria dizer aos companheiros da Paraíba o seguinte. Eu aprendi, em oito anos de mandato, que tanto o governador quanto o prefeito precisam pensar as necessidades fundamentais dos seus estados, transformar essas necessidades fundamentais e prioritárias em projetos… porque eu aprendi, Maranhão, que o que faz o dinheiro sair é um projeto consistente e adequado.

Eu dou sempre o exemplo do seguinte. Às vezes, você vai batizar uma criança. Aí você está lá na igreja, batizando a criança – a criança sempre chora quando o padre coloca aquela água benta na testa dela, e é o padrinho quem tem que ficar segurando, e a criança chora –, e aparece um chato de um fotógrafo que você não conheceu, que você não contratou, tirando foto, tirando foto, tirando foto. Ao terminar o batizado, a criança parou de chorar, aí, então, vem o fotógrafo dar um cartão: “Eu sou fotógrafo. O senhor quer um álbum?”. O pai, já nervoso, e o padrinho, irritado, falam para o fotógrafo: “Eu não quero nada, eu não encomendei”. Bom, o coitado vai embora chateado, perdeu o dia, não teve a mesma sorte que teve o Sílvio Santos, então ele vai embora. Aí, passada uma semana, aquele fotógrafo que foi escorraçado dentro da igreja aparece na casa do cidadão, bate palmas e sai a mulher: “O que é? Vendedor? Eu não quero nada. Bíblia, não quero. Se é pastor evangélico, cai fora”. “Não, não, minha senhora, eu sou o fotógrafo. Eu tirei a foto… a senhora quer ver o álbum?” E abre a primeira página e está o molequinho. Mesmo que feio, mãe acha bonito, porque para pai e para mãe não tem filho feio. É tudo… Tudo parece joelho, mas a gente acha bonitinho. Eu tive cinco. A mãe olha a fotografia. Aquela mãe que não queria foto, na hora em que vê a fotografia do “calunga” dela, ela “quanto custa?”, e compra o álbum.

No governo é a mesma coisa. Se você chegar com um projeto consistente no Ministério do Planejamento, no presidente da República, na Casa Civil, esse projeto dificilmente receberá um não. Portanto, é extremamente importante que cada governador e cada prefeito deste país façam os projetos que são prioridades para as suas cidades, porque nós estamos terminando o PAC 2. O PAC 2 vai dar gás para a companheira Dilma trabalhar os quatro anos dela e um pouco mais, porque tem obras que demoram cinco anos, seis anos, sete anos para serem concluídas. Então, os companheiros precisam saber disso.

Mas é importante a gente lembrar também a quantidade de estradas que nós fizemos aqui na Paraíba. É importante lembrar que fomos nós que terminamos Campina Grande-João Pessoa, somos nós que estamos duplicando a BR-101, que é uma estrada que se um alemão sair da Alemanha e andar de carro nela, ele vai ficar com inveja da qualidade da BR-101 na Paraíba, comparada com as estradas da Alemanha. A Transnordestina, nós, do governo federal, também achamos que tem que ter um ramal ligando, porque o que nós fizemos até agora foi a espinha principal. Agora tem que fazer as espinhas verticais, ligando outros estados do Nordeste. E outras coisas que vão ter que vir para cá. É preciso ver a possibilidade de um grande porto na Paraíba. Apesar do pouco dinheiro que já investimos em Cabedelo, mas não é um porto de águas profundas, portanto não pode chegar um grande navio.

Então, companheiros e companheiras, o dado concreto é o seguinte, esse é o dado concreto: o Nordeste brasileiro nunca viveu o momento que está vivendo. Ele viveu, possivelmente nos anos 60, com o Celso Furtado, na criação da Sudene. Depois foi esquecida a Sudene, depois foi esquecido o Nordeste. E o que nós estamos fazendo é apenas tentando dar ao Nordeste e ao Norte do país as mesmas condições que tem o restante do país, porque nós não queremos um país onde numa banda do país as pessoas comam dez vezes por dia e na outra banda do país as pessoas não comam nada. Nós não queremos um país onde, de um lado você tenha água que sobra, e do outro lado você não tenha água para beber, uma criança, para beber, um animal, que vai dar o leite para aquela criança.

O que nós estamos fazendo é apenas fazendo a justiça social que já deveria ter sido feita muitos anos atrás, que a Dilma vai continuar e que eu acho que não tem mais volta, porque o povo nordestino começou a conhecer o que é bom, e quem conhece o que é bom não quer voltar atrás, não quer voltar à miséria.

Eu vim fazer minha última viagem aqui até o final do meu mandato, porque esta obra do São Francisco, para mim, é uma coisa que me dá muito orgulho, porque nós enfrentamos muitos obstáculos para fazer esta obra. Diziam que o governo da Bahia não ia deixar – o Jaques Wagner foi um parceiro extraordinário –, diziam que o Piauí era… Sergipe era contra, não teve contra, que Alagoas era contra, não teve contra, porque ninguém era dono do rio. O rio é do Brasil porque é um rio nacional, e qualquer cidadão brasileiro tem direito a beber a água do rio Amazonas, do rio São Francisco, do rio Tietê e de qualquer rio deste país. Ninguém é dono, quem é dono é o povo brasileiro. Eu estou com muito orgulho, porque eu estou percebendo que a obra vai ser inaugurada definitivamente em 2012 – a não ser que aconteça um dilúvio ou qualquer coisa – mas está previsto a gente inaugurar definitivamente a obra até 2012, o que será a redenção da região mais sofrida do Nordeste brasileiro, e o povo do Nordeste vai poder decidir, como disse o João Santana, a utilização dessa água. Eu posso dizer aqui: se depender de mim, essa água, se tiver que utilizar para a produção, ela tem que prioritariamente atender os interesses da pequena agricultura brasileira, da agricultura familiar, das cooperativas, porque senão a gente vai ter um só tomando a água do São Francisco e vai continuar o resto, a maioria de fora, morrendo de sede, porque o grandão não deixa o pobre encostar na água do São Francisco.
Então, como nós transformamos dois quilômetros de cada lado em terra de utilidade pública, nós vamos trabalhar com carinho a utilização dessa terra para que a gente possa melhorar a qualidade de vida do povo da Paraíba e do povo do Nordeste.

Portanto, meu querido companheiro José Maranhão, companheiros deputados, companheiros prefeitos, companheiros trabalhadores, é com muito carinho que eu, neste dia… Hoje é 14 de dezembro… Eu, a dezesseis dias de deixar a Presidência da República, venho aqui quase me despedir de vocês, porque a gente poderia ter feito um grande comício, mas eu não queria fazer comício, eu queria só vir aqui visitar a obra, porque esta obra é uma das paixões da minha vida. Esta obra, é importante vocês lembrarem que dom Pedro, imperador deste país, tentou fazer e não conseguiu. Eu digo sempre que o Lula de dona Lindu conseguiu fazer a obra que o Imperador, filho do rei Dom João VI, não quis fazer… não pôde fazer. Então… Porque isso demonstra que é vontade política. Quando você decide fazer, você faz e acontece.

Eu sou grato ao José Maranhão, companheiro, que nós estivemos juntos todo esse período. Quero agradecer aos deputados que me apoiaram, quero agradecer aos trabalhadores e às trabalhadoras que me apoiaram nesse tempo todo, e dizer para vocês: eu saio da Presidência, mas não saio da política. Eu não estarei no Palácio do Planalto, mas estarei andando pelas ruas deste país, pelas cidades deste país fazendo política, porque o Brasil vive um momento de ouro, e a gente tem que torcer, ajudar e trabalhar para a nossa querida companheira eleita presidenta da República faça mais e faça melhor do que eu fiz porque, aí, quem ganha é o povo brasileiro.


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