NOTÍCIAS - Um padre católico belga confessou ter abusado de uma criança de oito anos e pediu o fim de uma campanha para sua nomeação ao Prêmio Nobel da Paz devido à sua luta contra o impacto da globalização nos países em desenvolvimento. A confissão do padre François Houtart, 85, foi
publicada em um jornal belga nesta quarta-feira, agravando a crise em
meio aos escândalos sexuais envolvendo membros da Igreja Católica em
vários países.
Em outubro, depois que partidários deram
início à campanha apoiando o sacerdote para o Nobel da Paz, uma mulher
entrou em contato com a ONG que ele fundou, a Cetri (na sigla em
francês) e disse que ele teria abusado sexualmente de seu irmão há 40
anos, de acordo com o diretor da organização, Bernard Duterme.
No e-mail que enviou à ONG e ao comitê
que fazia campanha pela nomeação de Houtart ao Nobel da Paz, a irmã da
vítima fornece detalhes sobre os supostos abusos. Segundo ela, Houtart —
que era amigo de seu pai– entrou no quarto de seu irmão duas vezes
“para estuprá-lo”. “Antes da terceira vez, meu irmão procurou nossos
pais e contou sobre os abusos”, disse a mulher no e-mail.
Segundo ela, seu pai conversou com o
padre sobre o incidente alguns dias depois e disse que ele deveria se
desculpar, mas o sacerdote se recusou e disse “que aquilo era normal”. A
família cortou então qualquer contato com Houtart.
Ao jornal belga “Le Soir”, o padre
admitiu que abusou do garoto em duas ocasiões na casa dos pais do
menino em Liege, no leste da Bélgica. “Entrei no quarto do garoto e
toquei suas partes íntimas por duas vezes, o que fez com que ele
acordasse e se assustasse”, disse Houtart na entrevista.
Ele disse ainda à publicação que ficou
“perturbado” com o incidente, já que tinha consciência da contradição
entre o que fizera e seu papel na Igreja e sua fé cristã.
Houtart disse ainda que os pais do
garoto sugeriram que ele entrasse em contato com um professor em Liege,
que o aconselhou a continuar na Igreja e se concentrar em seu
trabalho.
No mês passado, Houtart renunciou ao
cargo no conselho da ONG, que publica relatórios críticos às ações de
países desenvolvidos em nações em desenvolvimento.
O comitê que defendia a nomeação do
sacerdote encerrou a campanha, dizendo que o próprio padre teria pedido
o emcerramento porque “sua idade e seus projetos pessoais” não
permitiriam que ele assumisse tal papel “nestas circunstâncias”.
Em um comunicado, o comitê diz que
“milhares de pessoas de 74 países” assinaram a campanha, reconhecendo o
papel de Houtart para a justiça social e o movimento antiglobalização.
“ERROS DO PASSADO”
Em setembro, a Igreja Católica da
Bélgica reconheceu os “erros do passado” na gestão dos casos de abuso
sexual de crianças por padres e prometeu ajuda às vítimas.
Na época, a Igreja católica disse ainda
que iria tentar tirar “lições” do escândalo de pedofilia sem
precedentes que atingiu seus padres, depois da publicaçãode um
relatório que revela mais de uma centena de testemunhos de vítimas de
abusos sexuais durante os últimos 50 anos.
A descrição das vítimas sobre os autores
dos abusos geralmente é imprecisa, já que passaram muitos anos desde
os crimes, mas depois das verificações pertinentes a comissão
determinou que 102 eram membros de uma congregação religiosa. Folha
Online