REALIDADE:
02/04/2010 - Foi ontem, na minha
paróquia, visitando famílias na zona rural, que para minha surpresa e emoção de
pastor, ouvi, bem pertinho de mim, estas tétricas palavras de uma mãe machucada
pela dor do sofrimento: “padre Djacy, às vezes tenho vontade de morrer, de
sumir”. Enquanto isso, as lágrimas teimosas banhavam seu rosto envelhecido não
pela idade, mas pela cruz pesada do sofrimento do dia a dia.
No sertão é assim. O sofrimento causado pela fome é
uma realidade constante. Sensacionalismo? Querer aparecer-me, como dizem
alguns? Que nada! Não falo porque ouvi dizer, mas porque, na condição de
pastor, vejo de perto esse drama vivido por tantas famílias sertanejas. Como é
triste, então, presenciar cenas assim. Meu coração de sacerdote estremece não
de emoção, de pena, mas de revolta. Pois, enquanto, os filhos de Deus padecem
as mais horrendas tribulações, nossos ditos políticos estão brigando com unhas
e dentes. Brigando na defesa da vida do povo? Não! Brigando pelo o poder. O
povo é somente um detalhe.
Na manhã do sábado passado, dia 27, senti uma
revolta tremenda. Parecia que meu coração iria sair pela boca. Revolta? Sim,
revolta! Conversando com algumas mães, no interior de certa casa, uma delas disparou
serenamente: “padre Djacy, tenho vontade de morrer...” e perguntei para aquela
mãe sofrida por que motivo e ela, com a voz embargada, dizia-me: “padre, é tão
triste não ter o que dar para meus filhos; é triste amanhecer e saber que nada
teremos para comer. – “Como mãe, seu padre, isso é doloroso, pois só quem passa
por isso, é quem sabe o sofrimento”. Nessa hora, tive, repito, nojo, ojeriza,
pavor à classe política desta Paraíba, que não briga na defesa da dignidade do
povo, mas somente visando o poder com suas estrondosas
mordomias,regalias....e diabo a quatro.
Enquadremos essa realidade supracitada, no contexto
da semana santa, e assim, podemos tirar nítidas conclusões cristãs: fé e
política têm tudo a ver. Assino embaixo!
Estamos na semana santa. Tempo forte. Tempo para
nós refletirmos sobre a paixão, morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Libertador. Nessa reflexão cristã, podemos pensar: por que Jesus fora
assassinado? Quais as causas? Por que disseram: matemos esse homem, pois ele é
um agitador? Quem o matou? Por que Jesus dissera: Eu vim para que todos tenham
vida? E também: bem aventurados os que passam fome, os pacíficos (amansados),
os perseguidos por causa da justiça? Foi uma morte alheatória, sem causa, sem
sentido? Qual era o contexto histórico, quando Cristo defendia os pobres,os
excluídos, os deserdados da vida? Cristo posicionara-se na contra mão do poder
por acaso? Chamara o governador Herodes de raposa. Por quê? E por que Jesus
olhando para aquela multidão faminta, marginalizada, sem nenhuma perspectiva de
vida, falara: tenho pena deste povo, pois é como ovelhas sem pastor (sem
lideranças)?
Uma coisa é certa: mataram a Jesus de Nazaré porque
ele foi de encontro a um sistema político-religioso opressor, excludente... E o
seu grito estridente na cruz meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes
continua ecoando na boca de milhares de sertanejos, que, pungentemente, clamam
por pão, por água, por ponte, por emprego, por segurança, por saúde, por vida,
por dignidade. Esse grito clamoroso do profeta da Galiléia (a Galiléia, no
tempo de Jesus, era como se fosse o Nordeste. Uma região extremamente pobre,
miserável. É lá, que Cristo vive o seu ministério profético. E a cidade de
Nazaré, cidade de Jesus, está inserida nessa região. Uma região discriminada. É
tanto que há essa cínica pergunta: “de Nazaré pode vir alguma coisa boa”? Era
com relação a Jesus, o nazareno) é o grito dessa mãe sertaneja ,que
chorando, dizia-me: “padre, tenho vontade de morrer”.
Enquanto Jesus continua a morrer na pessoa de cada
irmão que passa fome, que vivem na miséria, nossos santos e heróicos políticos
(com exceção) estão aí, nos chiques restaurantes, ou na praia, em suas mansões,
tomando whisky importado, discutindo conchavos políticos, como ganhar as
eleições, como será seu marketing político eleitoral, e como conquistar o voto
dos miseráveis. Menos o meu. Claro!
-Tenho vontade de morrer! Disse uma pobre mãe.
-Meu Deus, meu Deus por que me abandonastes?
Gritara Jesus no alto da cruz.
De um lado, uma mãe chorando, implorando clemência,
de outro, o Filho de Deus, sendo assassinado por colocar-se contra os poderosos
prepotentes e arrogantes, que massacravam os pobrezinhos de Javé.
Para uma boa reflexão nesta semana santa, ouça, com
o coração voltado para o cristo crucificado, e essa pobre mãe, a música: Pai
nosso dos Mártires (veja no you tube).
Padre
Djacy Brasileiro