POLÍTICA: 10/04/2010 - A renúncia do prefeito de João Pessoa,
Ricardo Coutinho, consolida definitivamente o quadro dos postulantes ao
Governo da Paraíba, restando agora apenas as definições a respeito da
candidatura de Cícero Lucena e a definição a respeito dos possíveis
candidatos a vice das principais chapas ao governo.
A permanência de
Veneziano Vital do Rego na prefeitura de Campina Grande deixa o
governador José Maranhão numa situação difícil, pois ele agora tem que
buscar compatibilizar a manutenção do PT e a definição estratégica de um
nome de Campina Grande na chapa majoritária. Nas mãos dos Vital do Rego
em Campina, aparentemente quem conduz a formação da chapa maranhista
são os dois irmãos campinenses, que, além de permanecerem com a
prefeitura nas mãos, indicaram um senador e querem indicar o vice. Só o
PT acha que Luciano Cartaxo pertence a cota do partido.
No futuro, José
Maranhão pode lamentar e muito a decisão do prefeito de Campina Grande,
que certamente trará grandes dores de cabeça tanto na fase de definição
da chapa quanto no desenrolar da campanha. Entretanto,
essa atitude pode respingar no futuro no próprio Veneziano Vital do
Rego, que não só pode ter deixado escapar o caminho mais curto para se
eleger governador em 2014, como criará arestas com poderosos nomes
dentro do seu partido.
Portanto, de todas as decisões anunciadas na
semana passada, a mais decisiva foi a da permanência de Vital do Rego na
prefeitura de Campina Grande. Talvez mais do que a própria renúncia de
Ricardo Coutinho, que, assim como José Serra, não tinha mais como recuar
de sua decisão de concorrer ao Governo da Paraíba.
Assim, no campo
maranhista, os indícios a respeito de quem será o candidato a vice
parecem indicar que o nome mais provável, hoje, pode ser mesmo o de
Luciano Cartaxo, mesmo com os gestos de pressão que o vice-governador
faz questão de tornar ostensivos: o que Cartaxo
foi fazer na cerimônia de renúncia de Ricardo Coutinho, um ato de viés
claramente político? Representar o governador José Maranhão?
Por outro lado, no
campo ricardista, tudo se encaminha para, ratificada a aliança com o
PSDB, Ivandro Cunha Lima assumir a condição de candidato a vice.
Portanto, se o
quadro atual persistir, teremos as principais chapas majoritárias assim
delineadas:
Pelo PSB/PSDB/DEM: Governador: Ricardo
Coutinho; Vice: Ivandro Cunha Lima; Senadores: Cássio Cunha Lima e
Efraim Moraes.
Pelo PMDB/PT: Governador: José
Maranhão; Vice: Luciano Cartaxo; Senadores: Vital do Rego Filho e Wilson
Santiago.
Se forem mesmo confirmadas as chapas acima,
observe que a chapa liderada pelo PSB reforça significativamente suas
posições nas duas cidades estratégicas e com grande poder de irradiar
sua influência, que são João Pessoa e Campina Grande, não por acaso, os
dois maiores colégios eleitorais do estado.
De João Pessoa,
Ricardo Coutinho, candidato a governador, até recentemente prefeito da
cidade, e que deixou o cargo muito bem avaliado; de Campina Grande,
Ivandro e Cássio Cunha Lima, dois representativos nomes com fortes
vínculos políticos com a cidade. Um quadro assim, com nomes expressivos a
representar eleitoralmente as duas cidades, só se viu em 1986, quando o
PMDB lançou o pessoense Tarcísio Burity para governador e o campinense
Raymundo Asfora, para vice. Eleitoralmente, deu no que deu.
É claro que a
situação mudou, mas de lá para cá Campina Grande teve seu bairrismo
político apenas estimulado, e João Pessoa, que nunca teve a
característica de ser bairrista, pode começar a achar que chegou a hora
de eleger novamente um governador da terra.
A chapa PMDB-PT, é
claro, não está de todo descoberta nessas duas cidades. Em João Pessoa,
o PMDB sempre teve força, e conta com o prestígio do próprio governador
na cidade, mas é difícil saber se ele terá forças para confrontar o
prestígio pessoal de Coutinho. O vice, que é pessoense, tem uma
influência residualíssima, porquanto ser ele figura de pouca expressão
política na cidade, e assim pouco acrescentará em termos de voto.
Resta a José
Maranhão explorar ao máximo a aliança, muito mal vista na cidade, que
Ricardo Coutinho fez com Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes. Entretanto, é
bom não esquecer que Cássio Cunha Lima em pessoa obteve 40% dos votos
da cidade, em 2006. As obras que foram iniciadas no seu governo, muitas
em parceria com a prefeitura, certamente abrandaram o sentimento de
rejeição que o pessoense tinha pelos Cunha Lima na cidade. A minha rua,
no Bessa, por exemplo, depois de quase 10 anos de lama e poeira, acaba
de ser liberada para o tráfego. Isso, é claro, não define meu voto, mas
certamente exerce influência na decisão do eleitor mais pragmático que,
diga-se de passagem, é a amplíssima maioria.
É preciso saber se
esse discurso contra a aliança Ricardo-Cássio-Efraim já deu o que tinha
que dar e se o eleitorado, passada o choque inicial, já incorporou a
idéia como fato consumado, o que só vamos descobrir quando o eleitor
pessoense começar a pensar mais seriamente em quem vai votar, o que vai
começar pela avaliação sobre se Ricardo Coutinho, mesmo com os aliados
que tem, merecerá ou não o seu voto. E a campanha, especialmente na TV,
certamente vai ajudar nessa decisão.
Em Campina Grande,
mantidas as chapa acima, é difícil prever qual será o comportamento do
seu eleitorado, já que nenhum dos candidatos a governador é filho da
cidade, o que difere do aconteceu em 2002 e 2006. Por outro lado, o PMDB
controla as máquinas do estado e da prefeitura ao mesmo tempo, elemento
fundamental que certamente distinguirá 2010 de 2002 e 2006. Assim, é
improvável que vejamos repetidos os resultados das últimas eleições que
deram expressivas diferenças em favor de Cássio Cunha Lima. Não naquelas
proporções.
Entretanto, existe um fator que torna de
difícil previsão o comportamento majoritário do eleitorado campinense. A
questão novamente recai na escolha do vice. Sem um vice de Campina
Grande na chapa de José Maranhão para contrabalancear a disputa, e com
Ivandro Cunha Lima como vice de Ricardo, que tem um perfil distinto
tanto de Cássio, seu sobrinho, quanto de Ronaldo, seu irmão, empresário
que é, pode ser que ele seja depositário mais uma vez do bairrismo
campinense, que só quem viveu na cidade em tempos de campanha sabe do
que se trata. Eu vivi e sei exatamente do que estou falando. É uma
pressão quase sufocante.
Quando movimentos desse tipo se estabelecem na
cidade, ele parecem ganhar vida própria. E independem, por exemplo, de
Veneziano Vital se envolver ou não na campanha - em 2006, é bom lembrar,
Veneziano já era Prefeito da cidade e com prefeitura e tudo José
Maranhão tomou um banho de votos.
E um dado que pode
ajudar na estratégia ricardista-cassista é que o bairrismo será usado
inevitavelmente por todos os candidatos, o que ajuda a criar o clima
necessário para estimular os campinenses a votarem nos candidatos da
terra. Vital do Rego Filho, por exemplo, já começa a instigar esse
comportamento eleitoral e certamente ele se beneficiará - ao lado, como
sempre, de Cássio Cunha Lima - do bairrismo apaixonado da cidade. Ora, a
construção desse clima é perfeita para o bairrismo explodir com força
durante a campanha e orientar o voto das pessoas na cidade.
O que vai sair daí
é difícil prever, mas eu estabeleceria uma vantagem para a chapa
ricardista, se for mesmo Ivandro Cunha Lima o campinense indicado para
vice. E se for mesmo o pessoense Luciano Cartaxo o vice de José
Maranhão.
Por Flávio Lúcio