CIÊNCIA: 08/04/2010 - Fêmea adulta e macho adolescente caíram em fosso há 2 milhões de anos. ‘Australopithecus sediba’ traz pistas de período pobre em registros fósseis.
Crânio do primeiro indivíduo localizado, o U.W. 88-50 (MH 1), no sítio de Malapa, África do Sul (Foto: Brett Eloff, cortesia de Lee Berger e da Universidade de Witwatersrand)
Os fósseis de uma fêmea com cerca de 30 anos de idade e um garoto
com cerca de 13 que morreram ao cair em um fosso de 50 metros,
possivelmente no meio de uma tempestade, revelam um novo
ancestral da espécie humana. Batizada de Australopithecus
sediba, trata-se de uma espécie de hominídeo que revela
dados inéditos de um período da história até hoje carente de
vestígios fósseis. Os achados ocorreram no sítio de Malapa, na
África do Sul, uma região rica em cavernas que é revirada pela
ciência desde 1935.
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Crânio do primeiro indivíduo localizado, o U.W. 88-50 (MH 1), no sítio de Malapa, África do Sul (Foto: Brett Eloff, cortesia de Lee Berger e da Universidade de Witwatersrand)
Os cientistas Lee Berger e Paul Dirks, ambos da Universidade
Witwatersrand, em Johannesburgo, descobriram os primeiros
esqueletos em agosto de 2008. Contaram com sorte de criança:
Matthew, filho de Berger com apenas 9 anos à época, foi o
primeiro a achar um pedaço (a clavícula) do antepassado humano.
Berger, que fez pós-doutorado só para estudar clavículas,
percebeu na hora que estava diante de uma grande descoberta para
a paleoantropologia.
Crânio do primeiro indivíduo localizado, o U.W. 88-50 (MH 1), no sítio de Malapa, África do Sul (Foto: Brett Eloff, cortesia de Lee Berger e da Universidade de Witwatersrand)
Tanto a fêmea quanto o adolescente têm cerca de 1,30 metro. Com
os ossos da dupla, os cerca de 60 cientistas envolvidos na
escavação localizaram uma grande quantidade de fósseis de
animais em um estado de conservação inédito: roedores, coelhos,
um antílope e até um felino dente-de-sabre.
Crânio do 'Australopithecus sediba' (crédito: Brett Eloff, cortesia de Lee Berger e da Universidade de Witwatersrand)
Os australopitecos – do latim australis, “do sul”, e do grego
pithekos, “macaco”) formam um gênero de diversos hominídeos
extintos, bastante próximos aos do gênero Homo. O
Australopithecus africanus, datado em 2,5 milhões a
2,9 milhões de anos, tem sido considerado o ancestral direto do
gênero Homo (das espécies Homo habilis, Homo
rudolfensis e Homo erectus, nessa ordem). Agora, o
Au. sediba (sediba significa "fonte"),
datado em 1,78 milhão a 1,95 milhão de anos, se candidata a
ocupar esse posto.
A região conhecida como Berço da Humanidade, na África do Sul, onde fica o sítio fossilífero de Malapa (Foto: cortesia de Paul Dirks)
Em teleconferência na quarta-feira (7), Berger contou que haverá
um concurso na África do Sul para que estudantes escolham o nome
do "ancestral adolescente". "Será parte de uma
campanha de educação científica."
Ele também revelou que o grupo encontrou pelo menos outros dois
indivíduos no mesmo sítio. Como as escavações ainda estão sendo
realizadas, Berger não quis dar mais detalhes.
Os artigos "Australopithecus sediba: a New Species of
Homo-like Australopith from South Africa" e
"Geological Setting and Age of Australopithecus sediba from
Southern Africa" serão publicados na edição de sexta-feira
(9) da revista “Science”.