OPINIÃO: 16/10/2010 - Os sábios falam: passa-se a vida inteira para se
conseguir uma só virtude. E o que é virtude? Uma permanente vontade de
fazer o bem. Quem assim faz transmite força moral para muitos. É talvez o
primeiro exercício para o sucesso. Esta atitude ou este pensamento pode ser o
melhor caminho para a fidelidade, a justiça, a prudência, a coragem, a
generosidade, a humildade e principalmente a “tolerância”. E o que vem a ser
tolerância? Suportar. É justamente isso que se deve compreender, a capacidade
equilibrada de admitir outros modos, costumes, gestos, pensamentos, sem deixar
que os efeitos atinjam a si. É bem provável que a intolerância seja a rainha
das faltas de sabedoria no ser humano. Se a intolerância é eleita dentro de si
como prática corriqueira carregará estampado na mente preceitos de raiva e
soberba; questões ojerizadas na modernidade em qualquer lugar que se vá. Em
Prece pela Tolerância, o filósofo Voltaire, já dizia há 200 anos: “Você não nos
deu coração para nos odiarmos, nem mãos para nos enforcarmos, faça com que nos
ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida penosa e passageira”. Viver
sem discriminação é a meta e o direito é de todos.
É aqui onde surge a chance de praticar a
tolerância, ou seja, na própria vida. Quem oferece alvíssaras reconhece o
respeito e a convivência com o pensamento do outro. Pensar efetivamente em
tolerar as circunstâncias é, com legitimidade, conviver com Cristo, pois foi
ele que nos mostrou todos os ensinamentos de como amar ao próximo como a nós
mesmos. Precisamos, além de tudo, respeitar as crenças e comportamentos
diversos cada vez mais, para poder compreender as formas de nos desarmarmos das
ideias pré-estabelecidas, das condenações, impugnações e preconceitos sem
fundamento. Por isso é necessário alimentarmos a busca de uma virtude,
pelo menos tentar, tentar várias vezes, uma vez que, precisamos da vida inteira
para adquirir uma só virtude. Todo esforço é válido no sentido de engrandecer a
própria consciência para ter o direito de viver bem, distante de qualquer
enigma, segredo ou regras de cerceamento.
É possível que o homem seja capaz de não perceber
um dos maiores crimes contra ele próprio, essa pecha que o atrasa em vários
momentos na vida. Perdem-se lutas difíceis e não se sabe o por que. Na
hora de conquistar a vitória a pessoa é relegada a segundo e a terceiro
planos. Visivelmente isso não compreendido. De repente tudo se
dilui e se transforma em nada. Sob um manto furta-cor a esperada vitória
desaparece. Tudo isso vem quando cometemos a mais forte de todas as
“intolerâncias” - a religiosa. É o caso também dos ex-testemunhas de Jeová, que
quando se desligam desta organização passam a carregar o pesado fardo da
discriminação, e por isso mesmo são rejeitados e criticados em qualquer lugar,
sendo objeto de assédio moral. Se este é o consenso da organização, nem precisa
ser testemunha de nada, todos percebem o flagrante desrespeito as leis do País.
Só uma pessoa amadurecida é capaz de enxergar. A maturidade conduz a ver
e aceitar que a completa dignidade é feita com a harmonia do conjunto que
dá a perfeita adequação entre os pés e a cabeça que o dirige.
O mundo hoje deseja entender como as
correntes religiosas buscam a seara divina dentro da mecânica de Deus. Afinal,
o bem vem de um só, Deus. Em nosso país, um exemplo visado é o
Fórum Inter-Religioso com a finalidade de estabelecer novos parâmetros à
dignidade humana com base na tolerância e no amor. É a luta permanente pelos
amplos direitos fundamentais de todos que está assentada na “tolerância
religiosa” através de explicações com mapas, guias e práticas sobre religiões e
comprometimentos de toda natureza. Muitas questões são examinadas por uma nova
cultura de paz e liberdade de crença, inclusive o modelo do novo tipo de
racismo, principalmente com enfoque na discriminação racial,
prática que vem sendo seguramente combatida. O trabalho feito em cima dessa
questão é, inclusive, regulamentado, também, através da Constituição e de leis
específicas, mas que precisam ser mais divulgadas e colocadas em
funcionamento para que seja possível erradicar, de uma vez por todas, uma das
maiores injustiças sociais do nosso país, essa que hoje se vê a todo instante,
a discriminação. Salienta-se, no entanto, que a existência e a aplicação das
leis não são suficientes para que os objetivos acima citados sejam alcançados,
é preciso invocar as políticas públicas insistentemente, e estabelecer o
cumprimento delas em todos os governos. É preciso novos estímulos para a
valorização da situação a estabelecer um meio de todos terem consciência e
solidariedade com os negros, com os pobres, e com todos que sofrem
discriminação em suas diferentes modalidades.
Por Roberto
Cunha Lima – Jornalista da UFC -
Universidade Federal do Ceará