Quando um telefonema vale mais que um mandado judicial: Polícia Militar tenta invadir sede do Jurídico de Ricardo sem ordem da Justiça
PARAÍBA: 31/10/2010 - Os moradores da pacata avenida Minas Gerais, no Bairro dos Estados,
foram surpreendidos na noite deste sábado com uma movimentação pouco
comum ao local, visto que a rua passa por trás do cemitério Santa
Catarina, onde a vizinhança dorme o sono eterno.
Oito viaturas da Polícia Militar, homens do Batalhão do Choque e do
Gate se posicionaram em frente à sede do escritório jurídico da
coligação Por Uma Nova Paraíba, encabeçada pelo PSB, a fim de invadir o
local, como se estivessem numa operação para acabar com o narcotráfico
na Rocinha.
Atendiam à solicitação feita pelo jurídico da Coligação Paraíba
Unida, do PMDB de José Maranhão, conforme atestaram os próprios
advogados do PMDB, entre eles, Carlos Fábio Ismael, Fábio Brito, Pedro
Pires e um desses “Vitas” da vida, em entrevista ao signatário deste
blog, que esteve pessoalmente no local.
Segundo os advogados, havia indícios de crime eleitoral uma vez que
o escritório funcionava depois das 22h. Nada demais se não fosse por um
só detalhe: os policiais não tinham um mandado judicial sequer, nem
recomendação do Ministério Público Eleitoral, para invadir o escritório
de advocacia do PSB.
“Isso
é um flagrante desrespeito ao livre exercício da advocacia e, pior, ao
Estado Democrático de Direito”, protestava aos gritos o advogado Ricardo
Sérvulo, coordenador jurídico da Coligação Por Uma Nova Paraíba.
O instrumento da ordem judicial também faltava aos fiscais da
Justiça Eleitoral que foram chamados ao local. Tanto que eles somente
entraram no escritório com a anuência dos advogados do PSB. E de lá
saíram sem nada encontrar que justificasse a denúncia. “Só entramos a
convite e nada constatamos”, disse Marco Aurélio, ao sair do escritório.
Para confusão que se formou entre os advogados de Ricardo os
advogados de Maranhão, foi necessária a presença do presidente da OAB da
Paraíba, Odon Bezerra, que mesmo licenciado do cargo, se prontificou a
apaziguar o assunto. Ele chegou e, em conversa com o Coronel Américo,
responsável pela operação, dispersou os policiais e os advogados de
Maranhão.
A contenda só foi encerrada no início da madrugada deste domingo.
Na sede jurídica do PSB, o que tem de mais grave são inúmeras ações
contra o governador José Maranhão (PMDB) acusando-o de abuso do poder
econômico e político.
O que mais chamou a atenção, no entanto, é que, quando indagados
pelos jornalistas, tanto os fiscais da Justiça Eleitoral quanto o
Coronel Américo davam respostas que não condiziam com as dos advogados
do PMDB. Os fiscais disseram que foram ao local apenas para “acalmar os
ânimos” dos integrantes da contenda. Já o Coronel Américo
se recusou a dar entrevistas e quando falou declarou apenas que estava
no local apenas porque recebeu denúncias que dois oficiais da PM haviam
agredido um soldado.
Ou seja, com apenas telefonemas, os advogados de José Maranhão
conseguiram colocar praticamente metade da Polícia Militar da Paraíba e
ainda cerca de dez fiscais da Justiça Eleitoral para invadir um
escritório de advogados sem ter um mandado judicial.
A Paraíba deve ser o único local do Brasil em que um telefonema vale mais do que uma ordem judicial.
Isso atenta contra a segurança jurídica do cidadão. Contra o
equilíbrio do pleito. E, especialmente, contra a dignidade da Polícia
Militar da Paraíba. A maioria dos policiais entra na PM para defender a
sociedade no geral. E não os interesses particulares de poucos
indivíduos.
Quanto aos advogados, nunca se viu tanto abuso contra à categoria
como nestas eleições . Prisões, explosão de bombas e invasão a
escritórios. A Ordem dos Advogados do Brasil tem a obrigação de coibir
quaisquer atos dessa natureza. Sob pena de perder por completo, num
futuro próximo, todo e qualquer respeito das instituições públicas.
P.S: Detalhe: o secretário de Turismo do Estado,
Diego Tavares, também estava no local, acompanhando tudo de dentro de um
"carrão", vigiado pessoalmente por oficial da PM. Certamente, turismo é
que não estava fazendo aquela hora da noite, por trás de um cemitério.
Por Luís Tôrres