Não fui à Terra Santa
fazer turismo qualquer. Fui para sentir de perto o que o Evangelho me tem
ensinado sobre o Jesus que “passou a vida fazendo o bem”, libertando os pobres
das injustiças praticadas pelos líderes políticos e religiosos do seu tempo.
Meu grande interesse era ver de perto o cenário geográfico, arqueológico e
religioso por onde viveu aquele que desafiou, sem medo e covardia, as
autoridades politicas e religiosas que oprimiam sistematicamente os preferidos
de Deus: os pobres.
Visitei todos os lugares
históricos consignados na Bíblia. Prestei atenção a tudo. Não desviei o olhar
de nada. Meus olhos mais pareciam olhos de coruja. Tudo era observado, admirado
e refletido: estou pisando na Terra de Deus, Terra por onde Jesus andou fazendo
o bem a todos. Senti de perto o evangelho vivo. Em cada lugar, em cada
circunstância, absorto, ouvia no silêncio do meu coração esta mensagem bíblica:
“então, o Senhor lhe ordenou: tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que
estás é terra santa” (Ex 3,5).
Durante alguns dias,
andei, incansavelmente, pelas terras benditas do Deus libertador, o Deus que
falara a Moisés: “eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o
seu grito por causa de seus opressores; pois eu conheço as suas angústias. Por
isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e fazê-lo subir desta terra
para uma terra boa e vasta, terra que emana leite e mel (Ex 3,7-8). Não saia do
meu pensamento a figura desse Deus
pai, Deus compassivo, misericordioso,
apaixonado pelo seus filhos escravizados, pobres, machucados, pisoteados pelas
chagas da miséria, fome, sede, injustiça etc.
Enquanto andava, olhava, ouvia e pensava: foi
aqui, nestas terras do Oriente, que nasceu e viveu o maior homem da história,
Jesus de Nazaré, o Filho do Deus libertador. Um homem simples, pobre,
desapegado ao poder, sem armas e dinheiro, que revolucionou a história da
humanidade, apresentando para os pobres um verdadeiro programa de vida chamado
Reino de Deus. E essa proposta de vida aconteceu através de suas palavras e
atos: “ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: os cegos veem, e os
coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são
ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho(Mt, 11,4-5).
Na Terra Santa, lembrava-me das
palavras proféticas e revolucionárias do Jesus histórico. Palavras recheadas de
verdade, de amor, paz e libertação. Todas elas dirigidas aos homens e mulheres
que ansiavam por libertação, sem esquecer suas palavras duras e fortes contra
os poderosos que, desumanamente, agrediam a dignidade do povo de Deus. Não
saiam do meu pensamento essas palavras proféticas do Senhor da vida, da
história e da libertação:
- “O Espírito do Senhor
está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos
pobres...” (Lc 4,18);
- ”Vinde bendito do meu
pai, porque tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era
forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes,
preso e viestes ver-me”(Mt 25,35-36);
-“Felizes os que têm
espírito de pobre, porque deles é o Reino dos Céus”(Mt,5,3);
-“Felizes os que fome e
sede de justiça, porque serão saciados “(Mt 5,6);
-“Bem-aventurados os
aflitos, porque serão consolados”(Mt,5,4);
-“Felizes os que são
perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”(Mt,5,10);
- Se a vossa justiça não ultrapassar a dos
escribas e a dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus (Mt 5,20);
- “Ide anunciar a essa
raposa ( Herodes) que, hoje e amanhã, expulso demônios e curo enfermos e, no
terceiro dia estarei pronto” ( 13,32).
-“como o Pai me amor,
assim também eu vos amei.” (Jo15, 9) e, mais adiante, “amai-vos uns aos outros
como eu vos amei.” (Jo 15, 12).
- “É mais fácil passar um
camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus”
”(Mt,19,24);
-“Ai de vós, doutores da
Lei e fariseus, hipócritas”!(Mt,23,13);
-“Eu vos garanto que os
cobradores de impostos e as prostitutas vos precederão no Reino de Deus” (Mt
21,31);
-Vendo Jesus o povo,
sentiu compaixão dele porque estava cansado e abatido, como ovelhas sem pastor
“(Mt 9,36);
-Nem todo aquele que me
diz: Senhor, Senhor, entrará, no Reino dos Céus, mas quem fizer a vontade do
meu Pai que está no Céu (Mt 7,21);
-“Eu vim para que todos
tenham vida e a tenham em abundância” (Jo, 10,10);
“Mas, ai de vós, ricos,
porque já tendes vossa consolação! 25 Ai de vós que agora tendes fartura,
porque passareis fome! Ai de vós que agora rides, porque tereis luto e
lágrimas! (Lc,6,24-25).
Deixei a Terra Santa - convencido
de que é preciso, como cristão pastor, anunciar um Jesus libertador, um Jesus
comprometido com as causas dos pobres, um Jesus profeta defensor dos preferidos
de Deus.
Minha fé cristã, com essa visita,
toma rumo novo, não em quantidade, mas em qualidade. Rezarei e Lutarei para ter
uma fé eminentemente historicizada, libertadora, transformadora e
revolucionária. Essa fé animar-me-á e encorajar-me-á na missão cristã de lutar
por um mundo melhor, mais humano, onde a justiça e a solidariedade possam
reinar e a pessoa humana seja amada, valorizada, dignificada e tratada com
muito respeito.
Que Deus me livre da praga da
alienação religiosa, fonte da indiferença, do comodismo, do individualismo, do
reacionarismo generalizado. Afinal, fé subjetivista, alienante, está na
contramão do próprio evangelho.
Padre Djacy Brasileiro,
sertão paraibano, em 28 de novembro de 2014.
E-mail:
padredjacy@hotmail.com
Twitter: @Padredjacy