Pelos idos da década de 1960,
papai, aconselhado por mamãe, resolve me dar um “emprego”
nos Armazéns Paulista que ficava logo no começo da Rua Epifânio Sobreira, um
edifício de quatro pisos que, na época, rivaliza com a velha
rodoviária Antonio Ferreira, como os dois mais altos prédios de Cajazeiras. O
gerente era o finado Antonio Dunga e eu fui nomeado “sub-gerente”, todavia a
minha maior responsabilidade era recolher o livro de ponto às oito horas em
ponto para que funcionários retardados tivesse o dia
descontado.
Ganhava Cr$ 1 (um cruzeiro)! Não
era pouco para uma criança e assim mesmo com os gastos de sorvetes e cinema
(parque e circo eu não pagava, pois como filho do prefeito tinha acesso gratuito)
ainda me sobrava dinheiro.
Chega o dia das
mães, com dinheiro poderia me dar o luxo de comprar o presente sem precisar de
socorro financeiro de papai. Tem orgulho maior para uma criança do que comprar
um presente para sua mãe neste dia?
Pensei com os meus
botões e nada me vinha à mente, chegou sábado e não achava o presente ideal.
Sábado dia de feira na cidade e, pensei, lá, certamente, encontrarei o presente.
Rodei na feira e não achava nada... Panelas e potes de barro, brinquedos
rústicos, literatura de cordel para todos os gostos, roupas, quase que só de
chita e cáqui, chapéu de palha, e mil coisas mais, mas eu não achava o presente.
Quando já desesperançado em frente á sapataria de Manoel Caiçara na Rua Juvêncio
Carneiro, logo ao entrar na rua pela Praça Coração de Jesus, encontro uma velha
tão gorda e baixa que mais parecia um metro cúbico de carne vendendo flores. Mas
que flores? Uma lata de tinta usada revestida de papel celofane cheia de areia
com flores e seus talos feitos de arame, também ambos revestidos de papel
celofane.
O presente não era
tão feio. Tornou-se. Na alegria de ter encontrado o presente, sai correndo para
casa. Menino não anda, corre. Quando eu dobro o canto da Travessa Santa
Teresinha que bem no meio, em frente à livraria do finado Horácio Alves, tinha
uma fossa grande, até construída na administração municipal de papai, que ficou
mais alta que o calçamento, propiciando aos mais apressados a oportunidade de
tropeçar. E foi o que aconteceu comigo. Fui para um lado e a lata, oppss, o vaso
de flores para outro deixando-o com várias avarias. Ah, isso não é problema,
joguei a terra que foi esparramada pelo chão de volta à lata, oppss, o vaso de
flores, enfiei de volta os arames, ooppss, os ramos de flores no vaso e voltei a
correr para casa, era a casa nova da Rua Victor Jurema, uma casa grande, a
maior e a melhor que morei em Cajazeiras, e escondi o presente na
garagem.
Dia seguinte,
domingo, Dia das Mães, vou buscá-lo e entro solenemente em casa para entregá-lo
à mamãe, a emoção dela foi grande, principalmente quando soube que o presente
tinha sido comprado com economias do meu trabalho. Mamãe nem viu o estado
deteriorado pelo acidente de percurso, ou melhor, não deixou
transparecer.
Empolgado, fiz uma
só exigência: “Mamãe queria lhe pedir que
guardasse o presente em cima da geladeira” e assim ela
fez.
Aí, está o bom da
história, as visitas que apareciam lá por casa e vendo a casa toda arrumada e
chique, estranhava aquela monstrengo que destoava em cima da geladeira e
perguntava: “Teresa, o que aquela
presepada em cima da geladeira?”. Mamãe, afobada, fazia sinal de silêncio e
cochichava: “Foi o presente do dias das
mães do meu filho!”
E lá permaneceu
por bom tempo, assustando as visitas.
Por Claudiomar Matias Rolim