terça-feira, 16 de setembro de 2008
Bolandeira construída na década de 30 continua em perfeito estado de conservação
CIDADES: 16/09/2008 - Luís Gomes – A goma e a farinha, produtos extraídos a partir da mandioca, um tubérculo muito comum na serra de Luís Gomes, já foi um dos motores propulsores da economia luisgomense. Mas a falta de cultivo da matéria-prima e a queda nos preços do produto final, deixaram os produtores do município de Luís Gomes desestimulados.
Das inúmeras casas de farinha existentes na cidade, só três continuam produzindo de forma moderna e em pequenas quantidades, os referidos produtos. As demais estão inativas e algumas desapareceram por completo.
Entre as que estão sem atividade, está a dos herdeiros da família Procópio. Construída há mais de sete décadas, esta bolandeira que funcionava com o auxilio de bois, ao invés de motor a combustão, resiste ao tempo e continua de pé com cerca de 90% dos seus equipamentos originais.
Situada no Sítio Amâncio, zona rural deste município, esta edificação que foi erguida com enormes troncos de madeira, se apresenta quase pronta para voltar a produzir. Mas para que isso aconteça, é preciso ter animais bem treinados, e, claro, pessoas bem preparadas para lidar com as engrenagens que são feitas de pura madeira. Com uma engenharia e uma arquitetura de mais de setenta anos, ela deixa qualquer um admirado, tamanha foi a criatividade empregada no início da década de 30.
Manoel Freire de Brito, 93 anos, conhecido também por Neco Procópio, conta que seu pai Cícero Romão Batista, começou a construção da casa de farinha na década de 30. “Na época não tínhamos as facilidades de hoje, e para deixá-la totalmente pronta, foram muitos meses de trabalho, já que os troncos de arvores tinham que ser arrastados do sertão a serra, sobre as cangas de grandes bois”, disse.
A “Manjara”, uma espécie de máquina que trabalhava diretamente ligada aos bois e que gerava a rotação para ser triturada a mandioca, é a parte mais complexa de toda a estrutura. Por ser feita totalmente de madeira e por receber em uma de suas extremidades a força de dois fortes animais, esse equipamento quebrava constantemente e, com isso, o tempo de produção da fécula de mandioca ficava mais longo.
A prensa, peça composta por dois longos fusos de madeira e que servia para extrair todo o liquido e deixar a farinha ao ponto de ir para o forno, também continua perfeita e pronta para entrar em ação, caso seu dono resolvam operar.
Já as rapadeiras, mulheres guerreiras e que acordavam muito cedo. Essas, certamente, já estão muito velhas ou já faleceram.
De acordo com Inês Vieira, essas lutadoras acordavam por volta das 2h da madrugada e descascavam milhares de batatas até o nascer do sol. Movidas, muitas das vezes, a uma dose de aguardente de cana, elas trocavam novidades, cantavam e, de vez em quando, davam algumas alfinetadas na vida alheia.
Cícero Romão Batista, o responsável pela bolandeira, conta que não alcançou a fabrica de farinha que pertenceu ao seu avô em funcionamento, mas de tanto ouvir seu pai falar e explicar como era produzido um dos alimentos mais consumidos na serra de Luís Gomes, ele diz ser capaz de fazer ela funcionar novamente.
Ele ainda nos adiantou que tem um projeto para colocar os equipamentos em atividade. Segundo Cícero, um dos seus sonhos é ver a velha fábrica produzindo goma e farinha da mesma forma em que eram produzidos nas décadas de 30, 40 e 50. “Pretendo colocar ela para trabalhar em caráter especial e, de preferência, no mês de julho, período em que muitos filhos ausentes têm a oportunidade de visitar a terra natal e ver a bolandeira em operação”, disse.
Em contato com Francisco Pinheiro Nunes, 75 anos, este nos disse que nos idos de 1950, teve o prazer de trabalhar na produtora de fécula que foi erguida por seu Cícero Procópio.
Fonte: Alguiberto Morais - Luis Gomes - RN