Brigas entre alunos, ameaças a professores, consumo de drogas no âmbito escolar. Essa é uma realidade inegável em boa parte das instituições públicas de ensino no Brasil e causam grandes estragos no desenvolvimento da aprendizagem do alunado e no desempenho dos docentes. Como lidar emocionalmente com essas circunstâncias, minimizar a insegurança a partir de mudanças de hábitos, de percepção desses conflitos?
São respostas que estão sendo encontradas por 2.200 professores da Paraíba, desses, 700 só na capital João Pessoa, na formação pelo projeto Liga pela Paz, na Escola Irmã Severina, desde a última segunda 28, finalizando hoje a qualificação, quarta-feira 30.
A líder da área pedagógica, Maria Tereza Belchior, explica que a metodologia o Liga pela Paz trabalha cinco pontos, a começar pelo material pedagógico, com amplo acervo destinado ao professor e aluno, aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia para ser trabalhado em sala de aula; encontros de sensibilização para discussão de temas que envolvem toda a comunidade escolar sobre se educar para as emoções; acompanhamento pedagógico de todas as atividades desenvolvidas em sala de aula, seja com apoio presencial ou à distância; formação continuada, com aprimoramento dos educadores durante seis meses e por último a avaliação do ganho de habilidades emocionais, a redução da violência, mudanças de comportamento ocorridas na comunidade escolar.
Desde o dia 21 deste mês que 2.200 professores de 400 escolas de 139 municípios das 14 gerências regionais de educação estão recebendo a qualificação pelo método Liga pela Paz, um projeto da instituição Inteligência Relacional, já adotado em 19 estados brasileiros. Através dele busca-se evitar consumo de drogas, estresse, violência na rede de ensino. A capacitação, nesse primeiro momento, será concluída nesta quinta-feira 31 com a 4ª GRE, em Cuité.
Nas escolas pilotos que implantaram essa metodologia que trabalha o emocional e o social dos alunos da base, do 1º ao 5º ano, os resultados têm sido muito satisfatórios, segundo Cida Uchoa, gerente de Educação Infantil e Fundamental da SES – Secretaria de Estado de Educação. Ela lembra que as escolas de nível superior que prepara professores não entenderam ainda a importância a educação emocional como disciplina, como estratégia de tratamento para o professor, o aluno e sua família.
Cida explicou que o Plano de Enfrentamento à Violência nas Escolas acontece desde 2011 no Estado, com várias ações, campanhas, mas sem a vinculação ao ensino, à pedagogia. “Por isso da importância da Liga pela Paz para permitir que os sentimentos sejam compartilhados de forma mais harmoniosa, com menos violência e que produza um aprendizado melhor. Isso é o que temos percebido nas crianças nas escolas que já vivenciam a educação emociona e social”, comentou Cida Uchoa.
Professores que estão nesse processo de formação emocional e social não escondem a ansiedade de poder trabalhar o conteúdo em sala de aula. Marcedonia Oliveira Alves, 26 anos de Magistério, da Escola Estadual Francisco Campos, do bairro Bancários, João Pessoa, enfatiza que o que mais despertou sua atenção foram os pontos principais que o programa aborda, a compreensão, tolerância, que ajuda os professores a provocar as crianças e adolescentes a refletir e melhorar o convívio com os colegas. “É um programa fantástico e estou ansiosa para começar a trabalhar com minha primeira turminha deste ano e obter bons resultados”, comenta.
A educadora Maria da Conceição Pereira diz que o programa existe em sua escola, a Fenelon Câmara em 2013. “Trabalhamos diversos temas com as crianças, como o respeito ao próximo; cidadania; violência; zelo pelo patrimônio público; valores necessários à formação de cada um”. Os resultados, segundo Conceição, vão desde o comportamento, nível de aprendizagem, menos violentos na hora de brincar, mais cordiais em sala de aula e reduziram os conflitos no lar.
A gerente operacional do Ensino Fundamental do Estado, Edvirges Soares, explica que se há em sala de aula um processo de interatividade, de paz, harmonia em toda a escola a aprendizagem acontece com maior facilidade. “Com essa metodologia o aluno se sente mais acolhido, sua autoestima se eleva. Certas dificuldades que o professor tinha antes para trabalhar os conteúdos, devido a falta de um comportamento adequado do aluno, esse projeto vem ajudar nesse sentido”, enfatizou.
Marcos Eugênio