A tragédia ocorrida na tarde desta quinta-feira em Belo Horizonte, com a queda de um viaduto que deixou pelo menos 22 feridos e dois mortos, abalou o clima de alegria de uma das 12 cidades-sede do Mundial. A prefeitura de Belo Horizonte anunciou que a Fifa Fan Fest e outros seis eventos foram cancelados na cidade por motivo de luto oficial de três dias, e também em respeito às famílias. Com a decisão, os jogos Alemanha X França e Brasil X Colômbia não serão exibidos nesta sexta no Expominas. De acordo com a prefeitura, outros eventos programados também foram cancelados, como o Savassi Cultural, o Point da Brahma, o Espaço Oi e os shows do Conexão BH.
O viaduto deveria ter ficado pronto para a Copa do Mundo e integra a lista de projetos do PAC da Mobilidade. A Polícia Civil e o Ministério Público Estadual instauraram inquéritos para investigar a suspeita de que a obra estava sendo conduzida a toque de caixa para ser inaugurada durante o Mundial.
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A estrutura de concreto que caiu sobre a Avenida Dom Pedro I, uma das principais vias de acesso ao estádio do Mineirão (que sediará mais um jogo da Copa na terça-feira), atingiu um ônibus, dois caminhões e um Fiat Uno. Até a noite desta quinta-feira, as vítimas eram Hanna Cristina Santos e Charles Frederico Moreira do Nascimento, que conduziam o ônibus e o Uno, respectivamente.
Considerada uma das principais vias de acesso ao bairro da Pampulha, a Avenida Dom Pedro I é usada diariamente por 45 mil veículos e, segundo os bombeiros, poderia ter sido palco de tragédia maior. Câmeras de trânsito registraram a passagem de pelo menos três ônibus pelo vão do viaduto segundos antes de ele ruir.
ESTRONDO ENSURDECEDOR
Quem estava na região às 15h conta que ouviu um estalo ensurdecedor e que a terra tremeu. O churrasqueiro Enílson Luiz, de 37 anos, estava no ônibus atingido e repetia ontem que havia renascido.
- Peguei essa linha porque estava atrasado para o trabalho. No momento do acidente houve pânico e muita gritaria. As pessoas saíram pela janela.
- Foi um barulho tremendo, e tudo escureceu. Não entendíamos direito o que havia ocorrido, até sairmos do ônibus - acrescentou Penélope Ferreira, de 29 anos, que estava na última poltrona do veículo e que, junto com a maioria dos feridos, foi encaminhada ao hospital Risoleta Neves com ferimentos leves.
Batizado como Viaduto Guararapes, a obra era um projeto da empresa mineira Cowan, que trabalha hoje na construção da linha 4 do metrô do Rio de Janeiro, e contava com verba federal para sair do papel. Segundo a Secretaria Especial da Copa, o viaduto já havia executado R$ 445 milhões dos R$ 460 milhões destinados a ele e buscava melhorar a mobilidade de Belo Horizonte durante o Mundial.
O Guararapes começou a ser erguido há cerca de um ano e tinha previsão para ser inaugurado no fim do mês. Testemunhas relataram que o desabamento começou logo depois de os operários retirarem as escoras da estrutura. Até o fim da noite, a Cowan havia emitido apenas uma nota se solidarizando com as vítimas e informando sobre o envio de uma equipe técnica ao local para avaliar o desabamento. Com base nas imagens de televisão, engenheiros consultados pelo GLOBO criticaram a "enorme quantidade de janelas" abertas na parte superior do tabuleiro do viaduto, alegando que isso poderia ter enfraquecido sua estrutura.
O prefeito Marcio Lacerda (PSB), que também é engenheiro, acredita que o desabamento foi causado por um erro de engenharia.
- Evidentemente, no futuro, depois de tudo apurado vai se descobrir algum erro de engenharia, seja de projeto, seja de construção. Mas isso não é o mais importante no momento. O importante é darmos toda assistência possível às famílias das vítimas - disse ele.
Em nota, a prefeitura anunciou a criação de um grupo para investigar a tragédia. Ele acompanhará "de perto o trabalho de perícia e elaboração de laudo técnico por parte das autoridades competentes, fornecendo inclusive todas as informações necessárias para o esclarecimento das causas deste lamentável acidente".
Responsável pela execução da obra, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), autarquia da prefeitura, não comentou o ocorrido.
No dia 6 de fevereiro, um outro viaduto em construção na Avenida Dom Pedro I foi interditado por problemas estruturais. À época, a BHTrans informou que a estrutura havia cedido 30 centímetros e a bloqueou para evitar acidentes. Especialistas da prefeitura admitiram que havia possibilidade de desabamento, mas, dois dias depois, a Sudecap informou que não havia risco. Esse viaduto também é da Cowan.
Estadão