sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Luis Gomes/RN: Marcos Antunes, 63 anos no anonimato
CIDADES: 05/12/2008 - Quem ver Marcos Antunes, também conhecido por Marcos Ourives passando pelas ruas desta cidade, não imagina que está diante de um dos maiores poetas da região Oeste do Estado do Rio Grande do Norte.
Filho do casal de paraibanos Francisco Antunes de Andrade e Maria de Jesus, este potiguar nasceu na cidade Pau dos Ferros/RN, no dia 05 de fevereiro de 1932.
Dono de um dom raro – o de repentista – Marcos Antunes que é semi-analfabeto, não pôde se dedicar de corpo e alma a profissão que tanto ama, já que a sua voz não é tão boa quanto o dote natural de fazer versos.
Com mais de sessenta obras literárias feitas – algumas registradas em papel e outras ainda na lembrança – Marcos conta que descobriu que tinha aptidão para fazer poesias com apenas 13 anos de idade. Ele disse que no ano de 1945, indagou a seu irmão Antonio Antunes: “Sabe que eu sou poeta?”.
Não se dando por convencido, Antonio lhe deu um ultimato. “Ou faz um verso agora, ou entra no chicote”. Não tendo alternativa, o então repentista fez em questão de minutos o teste lhe que salvara de uma boa chicotada. Nascendo a partir daí, o repentista da família Antunes.
Homem digno e de boas amizades, Marcos Ourives chegou ao município de Luis Gomes no ano de 1970. Admirado por grandes profissionais, o poeta só veio tornar público o talento literário no último dia 26 de agosto, dia em que fez o lançamento do DVD “Debates e Cultura”, trabalho este que contou com a participação dos amigos poetas Sebastião Bento e Venceslau Fernandes.
Perguntado por que demorou tantos anos para levar ao conhecimento do público esta sua vocação de poeta, Marcos respondeu que nos idos de 1970 - período em que chegou a esta terra - viu que o povo não demonstrava muito interesse por tal profissão. “Reconheço que foi um equivoco achar que o povo daquela época não gostava de repentes. Mas nunca é tarde para mostrar as coisas boas da vida”, disse.
Marcos agora pretende expor seus trabalhos na intenção de deixar e mostrar para as gerações futuras que um poeta não pode viver no anonimato do seu lar.
Veja na íntegra, dois dos inúmeros trabalhos do poeta Marcos Antunes de Andrade.
POR QUE NÃO POSSO CANTAR?
Não me interessa riqueza
Nem casa boa pra morar
Nem carro pra passear
Pra mim, tudo é avareza.
Quisera que a natureza
Vivesse pra me olhar
E não deixasse faltar
Uma voz bonita e sadia
Para cantar todo dia
Pra o mundo me escutar.
Já que Deus me quis assim
Sem ter voz melodiosa
Vou viver como uma rosa
Seca, lá em um jardim
O mundo zomba de mim
Pelo meu tempo perdido
Eu sou do mundo esquecido
Sofro igualmente um plebeu
Um infeliz como eu
Antes não fosse nascido
O mundo pra mim não existe
Nada pra mim tem valor
Quando vejo um cantador
Cantando, eu fico é mais triste
Só a tristeza me assiste
Por designo da sorte
Nada me serve de esporte
Vivo triste a lamentar
Porque não posso cantar
Muitas vezes peço a morte
Me considero covarde
Quando vejo um rouxinol
Cantar ao sair do sol
Aí o meu peito arde
Se for às cinco da tarde
O meu destino é chorar
Não posso me conformar
Pelejo e não me concentro
Minha alma dói por dentro
Porque não posso cantar.
NO PINO DA MEIA NOITE
No pino da meia noite
Se observa a seresta
Num lugar bem esquisito
Os fantasmas fazem festa
Dentro duma casa velha
Que só uma telha resta
No pino da meia noite
O gambá faz seu passeio
Os peixes dando lapada
Nas ondas do rio cheio
O ponteiro do relógio
Marcando a noite no meio.
No pino da meia noite
Existe um grande segredo
O corujão canta triste
Na copa do arvoredo
O caçador no deserto
Passa morrendo de medo.
No pino da meia noite
O silêncio predomina
O mundo fica parado
A folhagem se inclina
Tudo isso obedecendo
A natureza divina. Enviado por Alguiberto Morais