segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Santa Cruz de Parari e Santa Cruz de Recife empatam em jogo-treino em Pernambuco
ESPORTE: 15/12/2008 - A maior aventura do elenco do Santa Cruz Futebol Clube, de Parari, pequeno município do sertão paraibano, começou às duas da madrugada e terminou quando o sol se pôs sobre o estádio Ademir Cunha, em Paulista, no último sábado. Depois de uma viagem de quatro horas e meia num ônibus comum, eles enfrentaram os juniores do Santa Cruz do Recife, no estádio Ademir Cunha, sob o olhar atento do técnico tricolor Márcio e resistiram até os 30 minutos do segundo tempo mantendo um heróico empate de 1 x 1.
"Cansamos e aí eles fizeram o placar de 4x1", explica o tímido treinador Nildo Santos. Márcio Bittencourt, que deu uma camisa de presente ao artilheiro do time, elogiou o desempenho do grupo. "Eles sabem jogar. Têm disciplina tática e muita vontade. Agora, claro, falta preparo físico e uma orientação melhor", disse ele, lembrando que "pelo primeiro tempo eles mereciam um resultado melhor".
O jogo foi um presente do Santa do Recife a seus torcedores distantes, viabilizado pelo vice-presidente Sidney Ayres (que é paraibano da mesma região) e pelo diretor de divisão de base, Fred Arruda. "Fiquei emocionado com a história desses rapazes que, mesmo distantes, amam o Santa Cruz", disse Fred. O secretário de Imprensa do Estado, Evaldo Costa, tricolor e natural de Parari, sugeriu o amistoso e recepcionou os paraibanos.
Distância - Parari é um município de menos de 2 mil habitantes, situado na região do Cariri Paraibano, distante 84 quilômetros de Campina Grande. Emancipado em 1996, tem um dos menores PIBs do Brasil, com uma população que vive da agricultura de subsistência (e do Bolsa Família). Como em todo lugar do Brasil, quase todo mundo é apaixonado por futebol. Na cidade, os principais times são o poderoso América, representante da fina flor da sociedade (incluindo o prefeito e o presidente da Liga), e o Santa Cruz, mais querido pelo pessoal da periferia e zona rural.
A camisa e o escudo são exatamente iguais aos do Santa do Recife, com duas pequenas diferenças: o ano de fundação (1994) e o número de estrelas (apenas uma noco-irmão de Parari). O time é formado por trabalhadores rurais. O goleiro Adriantônio, 28 anos, líder do grupo, tem uma pequena criação de cabras e uma farmácia na vizinha Taperoá. O médio volante Nêgo, 26, cria cabras e, como pedreiro, reforma casas nas redondezas.
O centroavante Tércio, que fez (de pênalti) o gol de honra em Paulista, de 24 anos, também agricultor, e o segundo volante Charita, de 37, foram os que mais chegaram perto da carreira de jogador profissional. Tércio foi aprovado na peneira e convocado para integrar os juniores do Treze de Campina Grande. "Não fiquei, porque eles não ofereceram alojamento e eu não tinha onde morar", explica. Já Charita disputou um campeonato inteiro de juniores, também pelo Treze. Mas estourou a idade e acabou voltando pra sua roça em Parari. "O que vivi valeu pra mim", comenta, resignado.
Antes do jogo, eles se emocionaram visitando as obras de reforma do gramado do Arruda ("assim está igual ao nosso campo", brincou o conselheiro Assis Silva, pernambucano que seradicou na cidade, na Paraíba) e a sala de troféus. Quando estiveram cara a cara com Márcio Bittencourt, teve gente perto de ir às lágrimas, "Tire a gente da quarta divisão", pediu o vice-presidente Laerte Cavalcante. Márcio disse que vai trabalhar muito pra isso. No final, Wilton, o técnico de juniores, convocou o zagueiro Jefferson, de 17 anos, para uma temporada de testes no Arruda. "Vou fazer de tudo pra ser aprovado", prometeu.
Da Redação com Jornal do Comércio