Esta
semana a política paraibana foi sacudida com declarações do Senador Cássio
Cunha Lima (PSDB) que apontaram na direção de uma candidatura do tucano ao Governo
do Estado nas eleições de 2014. Criticar um aliado, seu governo, suas práticas administrativas
e deixar transparecer, nas entrelinhas, que algo de novo pode ocorrer no ano
que vem foi mais que a pista que seus aliados esperavam para começar a fazer a
festa.
De
uma eventual candidatura de Cássio a governador podemos tirar várias
conclusões. A primeira delas – e a mais óbvia, claro – é a de que Ricardo se
enfraquece e compromete seu projeto de reeleição. Ricardo não diz abertamente,
mas não acredito que no íntimo ele imagine que ganhou a eleição de 2010 por
méritos próprios. Talvez ele não credite a Cássio o peso que Cássio teve, mas
isso é outra história.
Se
Ricardo perde com uma postulação de Cássio, quem ganha, então? E eu respondo:
Veneziano. Ele é o maior beneficiado com este rompimento, pois, ao invés de
penas um candidato de governo ele irá concorrer com dois candidatos de governo,
o que dividirá os votos na base CCL-RC.
É
lógico que Cássio, para chegar ao Palácio da Redenção, sabendo do desgaste por
que passa o Governo de Ricardo Coutinho, vai entabular um discurso de oposição.
E é lógico que Veneziano, sabendo o peso que este discurso tem, não vai querer
entregá-lo assim, de bandeja, para Cássio. Mas, para dar base ao título deste
comentário, tomemos o sentido tangível das coisas.
Cássio
e Ricardo, juntos, tem uma boa fatia dos votos da Paraíba. Suficiente para
levar Ricardo à reeleição? Não se sabe. Se em 2010 o discurso do novo serviu,
em 2014 há diferenças, sobretudo pelo fato de boa parcela da população estar
desapontada com o que Ricardo ‘vendeu’ e não ‘entregou’. Cássio e Ricardo
separados dividem, também, os votos da base governista.
Cássio
terá dificuldades em João Pessoa (onde, é bom que relembremos, sempre teve
dificuldades em angariar votos e na última eleição para o Senado perdeu para
Vitalzinho); sai bem de Campina Grande e vai para a divisão do bolo no restante
do estado.
Ricardo
terá dificuldades em João Pessoa, onde na eleição para prefeito conseguiu,
apenas, um humilhante terceiro lugar para a sua candidata, Estelizabel Bezerra.
Também terá dificuldades em Campina Grande, onde, no cenário das candidaturas
de Cássio e Veneziano, estaria indo de encontro a duas candidaturas da terra.
Além
do mais, em Campina Grande Ricardo, por ter Veneziano como desafeto, não
trabalhou nos dois primeiros anos de seu governo. E agora, mesmo com Romero, um
aliado (???), não tem conseguido tirar do papel aquilo que prometeu, gerando insatisfações
de Zé Pinheiro às Malvinas.
Veneziano
sai bem de João Pessoa, aproveitando o bom momento do irmão Vitalzinho, que foi
o mais votado na cidade, na eleição de 2010 para o Senado, batendo o próprio
Cássio; sai bem de Campina Grande, onde detém boa fatia dos votos, divididos
com Cássio em uma eventual candidatura do tucano; e vai para a divisão, também,
no restante do estado.
E
aonde Ricardo divide os votos com Cássio? Aí vem o xis da questão: a Ricardo
restaria apostar todas as suas fichas nas cidades pequenas, como fez Cássio,
por exemplo, na disputa com José Maranhão, quando perdeu feio em João Pessoa,
mas tirou a diferença em Campina e no interior do Estado. Ricardo não terá
Campina, mas poderá ter outras cidades.
Outro
fator a favor de Ricardo é a máquina estatal. Não se pode subestimar um candidato
que está sentado na cadeira de governador, com a caneta na mão e uma ruma de
empregos espalhados em todo o Estado. Só que estes que ocupam os cargos hoje
não foram nem vão ser aliados de Veneziano. Ou são de Cássio ou do próprio
Ricardo. Então, podemos dizer que a disputa pelos votos deste pessoal vai ficar
restrita a Cássio e RC.
O
resumo da ópera é: Cássio e Ricardo, disputando o governo, vão disputar os
aliados em comum, enquanto que Veneziano já tem seus votos e, pelo menos em
tese, quem vota no Cabeludo não vai deixar de votar porque Cássio rompeu com
Ricardo.
É
por este ângulo que vejo e entendo os resultados de enquetes realizadas por
portais e emissoras de rádio em várias cidades paraibanas e que a assessoria de
Veneziano tem feito questão de exaltar, mostrando Cássio e Veneziano praticamente
empatados (mas sempre com Veneziano levando ligeira vantagem) e Ricardo lá no
rabo da gata.
É
que, como as enquetes mostram e como a realidade está sendo descortinada, Cássio
e Ricardo juntos tem um peso; separados, tem outro totalmente diferente, para
cada lado. Já o peso de Veneziano independe desta separação, mas acaba ficando
maior que os dois em separado, na divisão do bolo da aliança CCL-RC.
Sem
se falar que Ricardo, ausente em num eventual segundo turno entre Cássio e
Veneziano, ficaria do lado do Cabeludo, como fez Cozete em 2004, chateada por
se sentir traída por Cássio. É aguardar pra ver.
Por Jônatas Frazão
*Professor aposentado
da UFPB.
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