Com salários atrasados, falta de
médicos e consequentemente fechamento de Postos de Saúde da Família
(PSF’s), o sistema de saúde municipal de Cajazeiras, que atende 15
cidades da região, está enfrentando uma das piores crises da sua
história. O grave problema atingiu também outros órgãos municipais de
saúde, como a Policlínica, que está com alguns setores parados, e o
Instituto Materno-infantil Júlio Bandeira (IJB), o popular Hospital
Infantil, que remunera seus médicos pediatras através de repasse da
Prefeitura. Porém, sem o repasse, esses profissionais também pararam de
atender e o Instituto não tem conseguido suprir sua demanda.
A crise que começou com o atraso no
pagamento de salários, ganhou maiores proporções no início do processo
de transição de governo municipal, após as eleições do dia 07 de
outubro, e culminou com o fechamento dos postos. Esse efeito dominó
acabou afetando também a principal casa de saúde da região, o Hospital
Regional de Cajazeiras (HRC), que apesar de ser um órgão estadual
voltado para casos de urgência e emergência, tem se desdobrado para
atender esta parcela da população que está descoberta pelo Município. E
foi para falar sobre esta situação que a diretora do HRC, a médica
pediatra Emmanuelle Lira Cariry, participou na manhã desta terça-feira
(30) do programa Linha de Frente, da Rádio Patamuté FM.
Emmanuelle Cariry revelou que o
hospital praticamente dobrou o número de atendimentos desde que a crise
foi instalada, passando de uma média de 4.000 atendimentos mensais para
7.000. Os gastos, por sua vez, também aumentaram bastante, de R$
400.000,00 mensais (verba fixa enviada pela Secretaria de Estado da
Saúde) para quase R$ 600.000,00. Segundo a diretora, com este aumento o
HRC corre o risco de voltar a contrair dívidas com fornecedores, fato
que não acontece desde que sua gestão se estabeleceu no início de 2011 e
implantou um setor de compras mais organizado, dinâmico e comprometido.
Para a diretora do HRC, é justamente a
falta de comprometimento da atual Prefeitura de Cajazeiras que agravou a
situação da saúde municipal. Ela revelou que o prefeito nunca se
comprometeu em assinar o novo protocolo de cooperação entre o Município e
o Estado. Este protocolo estabelece um novo valor que a Prefeitura deve
repassar para o HRC, substituindo o valor antigo que já está defasado.
Segundo Emmanuelle Cariry, apenas Cajazeiras, entre os municípios da 9ª
Gerência de Saúde, ainda não assinou o novo protocolo, e o que é pior: o
secretário de Saúde sequer comparece às reuniões convocadas pela SES
para discutir a situação, e não justifica as ausências. O pacto para a
instalação do Centro de Imagem, uma das principais reivindicações da
sociedade cajazeirense, também não está sendo levado a sério pela gestão
municipal. O Estado, por sua vez, tem cobrado a participação do
Município nos acordos firmados, e estes descumprimentos podem até gerar
ações na Justiça.
Política x Saúde
A diretora do Hospital Regional de
Cajazeiras observou que as cidades onde o prefeito atual foi derrotado
nas eleições de outubro são as que apresentam maiores problemas, fato
que pode indicar uma espécie de comportamento de retaliação política.
Mais de 80% dos atendimentos de baixa complexidade realizados no HRC, ou
seja, os que deveriam ocorrer nos postos de saúde, são da cidade de
Cajazeiras, segundo ela.
Por outro lado, alguns dos principais
médicos do HRC que haviam se afastado para as campanhas eleitorais já
estão retornando às suas atividades normais para somar forças com o
resto da equipe que tem se desdobrado para atender à sobrecarga que vem
sofrendo o hospital. O ex-prefeito Carlos Antônio Araújo, que também é
médico cirurgião do HRC, poderá trazer nos próximos dias mais um
cirurgião e um anestesista para reforçar a equipe. A situação mais
delicada fica por conta da maternidade, que perdeu os obstetras Bosco
Fernandes, eleito prefeito de Uiraúna, e José Célio, eleito
vice-prefeito de Sousa. A direção tem observado a melhor maneira de
suprir seus plantões até que seja possível a contratação de novos
profissionais da área.
Ao final da entrevista, Emmanuelle
Cariry fez um apelo para que a população compreenda a dificuldade pela
qual o Hospital Regional de Cajazeiras está passando para não deixar
toda a população de 15 municípios completamente descoberta. Ela acredita
que a partir do segundo mês da próxima gestão municipal a situação
começa a voltar ao normal.
- Obviamente que não vou dizer para a
populaça deixar de ir ao Hospital Regional porque estamos
sobrecarregados. Isso não existe. O que peço é paciência, porque não é
fácil realizar em um só lugar atendimentos que eram para estar sendo
feitos em cerca de 30, 40 postos. Ao estabilizar a nova Prefeitura,
certamente a partir de fevereiro, a situação vai voltar ao normal.
Assessoria/HRC