quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Quem é Hugo Motta, novo nome forte na disputa à presidência da Câmara

Herdeiro de um clã político, Hugo Motta (Republicanos-PB) chegou à Câmara aos 21 anos, idade mínima para exercer o mandato de deputado, em 2010, eleito com 86.150 votos. Filho e neto de deputados, concluiu o curso de Medicina paralelamente aos trabalhos na Câmara e caminha para ganhar um protagonismo que nenhum de seus familiares alcançou. De ontem para hoje, o líder do Republicanos foi alçado à condição de novo favorito à presidência da Câmara, ao receber o apoio do presidente de seu partido, o deputado Marcos Pereira (SP), que retirou sua candidatura em seu favor.

A uma semana de completar 35 anos, o deputado fez parte da base dos governos Dilma, Temer e Bolsonaro. Eleitor declarado do ex-presidente, aproximou-se de Lula depois que o seu companheiro de partido e Câmara Silvio Costa Filho assumiu o Ministério de Portos e Aeroportos.

Sua capacidade de dialogar com lideranças governistas e oposicionistas levou Marcos Pereira a indicar o nome do colega ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que enfrenta dificuldade para emplacar seu postulante favorito, o baiano Elmar Nascimento (União), que esbarra na resistência do Planalto e de parlamentares de várias bancadas.

De acordo com o Radar do Congresso, Hugo Motta votou conforme a orientação do governo Lula em 86% das vezes. Índice pouco abaixo de Marcos Pereira, que registrou 91%. Na média, o índice de governismo da Câmara é de 79%. Em 2016, então filiado ao MDB, ele votou pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

Mesmo com a ida de Silvio Costa Filho para o governo, Hugo Motta sempre preferiu intitular a bancada que lidera como independente. “A nomeação de Silvio Costa Filho foi muito mais pessoal do presidente, pela relação que o deputado tinha com o PT, com Lula, muito antes até de vir para o Republicanos. A indicação chegou à bancada de forma satisfatória, a bancada ficou feliz com essa indicação. Mas, o Republicanos não altera a sua posição de independência. Vamos ter também autonomia de ficarmos contrários a pautas que, por ventura, venham ao plenário da Câmara dos Deputados e não esteja no manifesto do partido” afirmou o deputado em setembro de 2023 ao Correio Braziliense.

Caminho aberto - Hugo Motta já havia manifestado o desejo de concorrer à presidência da Câmara, mas só admitia a possibilidade de levar o plano adiante se recebesse o apoio de Marcos Pereira. Com a declaração de apoio do presidente do seu partido, o desafio do paraibano agora é articular para que outros dois adversários deixem a corrida eleitoral, os baianos Antonio Brito (PSD) e Elmar Nascimento. Uma missão para a qual espera ter o apoio dos presidentes Lula, no caso do primeiro, e Arthur Lira, amigo do segundo.

O líder do Republicanos também aguarda a adesão de duas das mais poderosas bancadas da Câmara, a evangélica e a ruralista, das quais faz parte. Na mesma entrevista à repórter Mayara Souto, do Correio, Hugo Motta saiu em defesa das duas bancadas ao criticar o que chamou de interferência do Supremo Tribunal Federal nos assuntos legislativos.

“A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) se movimentou diante da decisão sobre o Marco Temporal do Supremo, na semana passada. E a Frente Parlamentar Evangélica, pelo fato de estar se tratando, também no Supremo, a discussão da legalização do aborto. São frentes que têm nesses dois temas pilares de defesa e atuação política de muitos parlamentares”, afirmou ainda em setembro de 2023. “Quando há essa interferência, existe sim esse conflito entre os poderes”, resumiu.

Votações - Ao longo de seu mandato, Hugo Motta colidiu com o PT em diversos momentos. Além de ter votado a favor do impeachment de Dilma, presidiu a CPI da Petrobras, que terminou com o pedido de indiciamento de 70 pessoas. Entre elas, ex-diretores e gerentes da estatal e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

Ainda filiado ao MDB, partido que deixou para se filiar ao Republicanos em 2018, votou a favor das principais pautas do governo de Michel Temer, como a PEC do Teto dos Gastos e a reforma trabalhista. Também votou contra o pedido do Ministério Público para investigar o então presidente da República.

No governo Bolsonaro, assumiu relatorias de propostas importantes, como a PEC Emergencial da pandemia e a PEC dos Precatórios (23/2021). Votou a favor da privatização dos Correios e comandou a comissão para privatização da Eletrobras. Já no governo Lula, apoio o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária, medidas defendidas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

FamíliaSe chegar à presidência da Câmara, Hugo Motta escreverá novo capítulo na biografia política de sua família. Seu pai, Nabor Wanderley, é prefeito de Patos (PB), cidade que já foi administrada pela avó materna do deputado, Francisca Motta, e pelo avô paterno. Nabor, que já foi deputado estadual, é candidato à reeleição como prefeito. O avô materno de Hugo Motta, Edivaldo Fernandes Motta, também foi deputado estadual e federal.

Em 2022, quando concorreu ao atual mandato na Câmara, Hugo Motta declarou à Justiça eleitoral ter patrimônio de R$ 1.167.092,40. Ele conquistou o quarto mandato com 158.171 votos.


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