terça-feira, 18 de abril de 2023

Teatro: Torturas de um coração

Uma aposta popular do Grupo Oficina

Tive a oportunidade de assistir a essa última encenação do Grupo Oficina na Mostra de Teatro em Cajazeiras (2019), na qual é possível observar de perto um panorama do que se produz na região.

O trabalho desse grupo de forte referência na Paraíba, em especial na região do sertão polarizada pela cidade de Sousa, é basicamente sustentado pela força da atuação dos seus três atores e atrizes, em razão da presença cênica a partir do desenho que rascunharam para cada um dos quatro personagens da trama urdida pelo autor, Ariano Suassuna.

Destacar também a presença da música – voz e percussão como elemento básico e que leva cor ao espetáculo. Precisa ser utilizado nas entradas posteriores de cada personagem.

O texto foi originalmente escrito para encenação com mamulengos. Aliás, é tradicional esse enredo nas apresentações dos mamulengos, que atravessaram séculos e se enraizaram no Nordeste. Babau, João Redondo ou Calunga, a depender a sua origem do estado do Nordeste. 

Torturas de Um Coração reaviva o itinerário do personagem Benedito (Reginaldo Sulino) em busca da conquista da sua amada, Marieta (Edileuza Santos). Com esperteza, truques de humor ele enfrenta os poderosos: Cabo 70 (Luiz Cacau) e Vicentão (Alexandre Formiga).

O espetáculo foi apresentado na rua, mas pela disposição das cenas na relação com o público se ajusta adequadamente em espaços fechados, seja arenas, ou teatros chamados italianos.

Neste aspecto, chama a atenção alguns “ajustes” – diria: opções que o grupo pode apostar. Vejo que a disposição da trama pode ganhar tensão e melhor relação entre atores/personagens se as cenas/embates ganharem centralidade na movimentação dos atores/atrizes, optando-se por um deslocamento e relação entre eles em circulo. Fixar um ponto (pequeno tablado) em que os atores atrizes ocupem esse mini círculo e se revezem conforme o protagonismo e crescente tensão dos personagens na cena.

Essa observação foi feita no bate-papo informal com o grupo e, confesso, é típica de quem é ator e “se mete na direção” dos outros.


Por Buda Lira

Ator, produtor e gestor cultural