Gravações telefônicasfeitas pela Polícia Federal (PF) com autorização da Justiça revelam que
vereadores de Campo Grande/MS combinaram votos para a sessão que cassou omandato do então prefeito Alcides Bernal (PP) em 2014. Nas escutas, segundo a
PF, aparecem o presidente da Câmara, Mario Cesar (PMDB), os empresários João
Amorim e João Baird e o ex-superintendente de produção Fábio Portela, conhecido
como Fabão.
A TV Morena tentou contato
com Mario Cesar e a assessoria dele ficou de enviar uma nota por e-mail, que
não chegou até a publicação desta reportagem. João Baird, João Amorim e Fábio
Portela estavam com os telefones desligados.
Saiba
mais
João Amorim é um dos
investigados pela operação Lama Asfáltica, que apura fraudes em licitações e
superfaturamento de obras emMato Grosso do Sul. É uma ação conjunta da PF,
Controladoria-Geral da União (CGU), Receita Federal e Ministério Público
Federal (MPF).
Para a PF, João Amorim não
era só o homem dos milhões de reais ganhos em obras públicas. Na investigação,
escutas telefônicas autorizadas pela Justiça revelam que ele também articulava
com políticos. Em março de 2014, três dias antes da cassação do mandato do
então prefeito Alcides Bernal (PP), o empreiteiro marca um encontro com o
presidente da Câmara, Mario Cesar (PMDB).
João Amorim: Oi Mario!
Mario Cesar: O meu amigo
“Goiano” chegou.
João Amorim: Aham.
Mario Cesar: Eu posso
passar aí às duas e trinta?
João Amorim: Marcado. Um
abraço.
No relatório, a PF não
identificou quem é o Goiano ou se seria um código entre eles. Cinco dias antes
da sessão que cassou Alcides Bernal, João Amorim já acertava encontro com o
presidente da Câmara.
João Amorim: Oi, Mario.
Mario Cesar: Excelente
conversa!
Amorim: Boa notícia!
Mario Cesar: Não tô falando
nem boa, tô falando: excelente conversa.
Amorim: Exce… Ótimo! Então
temo que pegar o outro cafezinho, hoje né?
Mario Cesar – Tá. Aí
quando você tiver mais tarde liberado você me liga.
João Amorim:
Combinadíssimo!
Mario Cesar: OK.
A PF explica que a palavra
cafezinho é o código usado entre eles para pagamento de propina. E não era só o
João Amorim que articulava. O sócio dele, João Baird, aparece no relatório da
investigação participando de conversas sobre os votos para a cassação de
Bernal. Em uma delas, fala com Fábio Portela, ex-superintendente de produção
que teve contas rejeitadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições
passadas.
De acordo com a PF, Fábio
Portela participou ativamente das reuniões com políticos que cassaram o mandato
de Bernal. No telefonema, eles contam os votos a favor da cassação.
Fabão: O Goiano, ontem, me
garantiu, me garantiu que fechou o pastorzinho, aquele, da Cruz, lá.
João Baird: Certo. Que que
se acha que dá?
Fabão: Todo mundo faz a
conta de 22.
João Baird: Hum hum.
Fabão: A minha conta pode
ser 23. Podendo chegar a 24.
João Baird: É, né?
Fabão: O Almi, ele não
disse nada até agora. Era para ser ontem, dez da noite a conversa, não foi. Aí
ele pediu para ser hoje de manhã, acabou, não foi. Mas ele não disse: ó, não
vamo fazer!… Eu combinei com o xará ontem que se ele, ele falasse: vamo
conversar, eu pegava o cara e levava pra ele. Pode ser se esse cara aí, o cabo
acer… se entende conosco, pode virar 24 na minha conta.
João Amorim: Como vai o
senhor? Tá sorrindo?
Mario Cesar: Olha, vou
falar uma coisa pra você: Vai dar tudo certo! Viu? Mas depois nós vamos ter que
conversar, viu?
João Amorim: É?
Mario Cesar: Teus amigos
deram mais… (incompreensível) essa noite que só Jesus na causa, aí.
João Amorim: Os
mosqueteiros?
Mario Cesar: Os
mosqueteiros, viu? Principalmente a dupla.
No mesmo dia que aconteceu
essa conversa, Alcides Bernal foi cassado.
No relatório da PF, não
foi detalhado quais vereadores faziam parte do esquema. Esta semana o
Ministério Público Estadual (MP-MS) abriu inquérito civil para apurar possível
pagamento de vereadores que votaram a favor da cassação de Alcides Bernal. A PF
ainda não concluiu as investigações da operação Lama Asfáltica e nenhum dos
citados nos relatórios foi indiciado até agora.
O MP-MS recomendou que a Prefeitura
de Campo Grande suspenda os contratos com a Proteco Construções, que pertence
ao empresário João Amorim, e também os contratos com a Itel Informática, que
pertence ao empresário João Roberto Baird. O órgão deu um prazo de 30 dias para
que o prefeito informe ao Ministério Público se vai acatar ou não essa
recomendação.
Avião
do Amorim
O empresário João Amorim
tinha acesso direto ao então governador André Puccinelli (PMDB). Em uma
conversa gravada com autorização da Justiça e que consta no relatório da
Polícia Federal, a secretária do então governador liga para o empreiteiro.
João: Alô. Mara: Amore,
você consegue o avião para levar o André hoje a noite a Dourados? João:
Consigo. Mara: é? João: Aham.
Imagens mostram o
ex-secretário estadual de Obras Públicas e de Transportes, Edson Giroto,
entrando no avião do empresário. Giroto conversou com Amorim sobre a viagem.
Valeriano Fontoura,
advogado de Giroto, informou que solicitou ao juiz cópias integrais dos
inquéritos, inclusive com as escutas telefônicas, mas ainda não recebeu os
documentos. O advogado disse ainda que, mesmo não sendo indiciado, Giroto vai
fazer defesa na Controladoria-Geral da União (CGU) quando tiver acesso a essas
informações do inquérito. O ex-governador de Mato Grosso do Sul André
Puccinelli (PMDB), disse que pagava o combustível pelas viagens no avião de
Amorim.
G1