quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Aposentado peregrina três dias para ser atendido em hospital da Paraíba


Rafaele Ponce Leon (Foto: Inaê Teles/G1)
Rafaele Ponce Leon passou por cinco hospitais de
João Pessoa para conseguir atendimento para o
pai (Foto: Inaê Teles/G1)
Um aposentado de 76 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), percorreu 30 km para conseguir atendimento clínico em um hospital de João Pessoa. No total, foram oito tentativas em cinco hospitais da capital. Só no Hospital de Emergência e Trauma foram quatro tentativas. A filha do aposentado contou que todo o trajeto foi feito em um táxi e que a peregrinação que começou na sexta-feira (16) só terminou no domingo (18).
Rafaele Ponce Leon, filha do aposentado, disse que na sexta-feira, recebeu uma ligação da irmã informando que o seu pai, Everardo Ponce Leon, de 76 anos, havia sofrido um AVC. “A gente ligou para o Samu e eles disseram que era para ir para um hospital”, afirmou.

O hospital Estadual Edson Ramalho, no bairro Treze de Maio, foi o primeiro local procurado pelos familiares de Everardo. “Lá eles falaram que o caso clínico dele era para ser atendido no Trauma porque precisaria de uma tomografia e no hospital não havia o aparelho”. Em um táxi, eles saíram em direção ao hospital de Emergência e Trauma.

Já no Trauma, de acordo com Rafaele, uma das recepcionistas informou que na unidade não havia neuroclínico para realizar o atendimento e o tomógrafo estaria quebrado. “Ela falou que era para a gente ir em um posto de saúde para conseguir uma requisição”, disse.

O táxi com o aposentado e os seus familiares saiu em direção a um outro hospital, o São Vicente de Paula, localizado em Jaguaribe. “Nele fomos bem atendidos e o médico fez uma requisição para que fosse feita a tomografia”, explicou Rafaele. De lá, o táxi voltou para o Trauma e desta os familiares estavam com a requisição. Mais uma vez a recepcionista teria afirmado que a máquina para realizar o exame estava quebrada.

Decepcionados os familiares foram para casa no bairro da Torre e em seguida ligaram para o Samu informando a situação. “O atendente disse que era para gente ir na Delegacia do Idoso e prestar uma queixa”, mas Rafaele disse que ligou para alguns amigos e eles a aconselharam a não fazer a queixa.
Desta vez com os amigos, Rafaele pegou mais um táxi e foi para o hospital Treze de Maio, no bairro de mesmo nome. “Do portão, o médico disse que o caso do meu pai era para ser atendido no Trauma”, disse Rafaele, que mais uma vez foi de táxi para o Trauma.
Aposentado peregrina para conseguir atendimento em hospital de JP (Foto: Arquivo pessoal)
Aposentado sofreu um AVC na sexta-feira e só consegiu ser atendido no domingo (Foto: Arquivo pessoal)
Eu me senti um lixo. Um nada"
Rafaele Ponce
Peregrinação continuou no sábado e domingo
 
Já na madrugada do sábado (17), na terceira tentativa de atendimento no Trauma, um dos amigos de Rafaele filmou toda ação. “Quando eles viram que estavam gravando, de repente, o tomógrafo voltou a funcionar, o neuro apareceu e meu pai foi atendido”, disse Rafaele. Mas quando finalmente o pai da jovem conseguiu atendimento, o médico e a recepcionista informaram que no hospital não haviam leitos disponíveis.

“Eu me senti um lixo. Um nada”, lamentou a jovem que mais uma vez levou o pai para casa. No domingo (18), o aposentado passou mal e o Samu foi acionado. Pela quarta vez Everardo foi encaminhado para o hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa. “Levaram meu pai para a UTI e eu achei que estava tudo bem, mas um maqueiro se aproximou e disse que ele seria transferido para o hospital Monte Sinai, que tem convênio com o SUS”, disse.

No Monte Sinai, em Jaguaribe, a garota informou que o pai não foi atendido por nenhum neurologista. Quando Rafaele estava sendo entrevistada na tarde desta terça-feira (20), teve que sair as pressas porque o pai precisa realizar um exame em uma outra clínica e precisa ser transferido, mas no hospital não havia ambulância e ela teve que sair para providenciar o transporte.

Respostas
 
Segundo o diretor do hospital Treze de Maio, Márcio Queiroga, a unidade hospitalar não atende esses casos porque não dispõe de neurocirurgião e nem de equipamentos de tomografia, pois o hospital não atende urgência.

A mesma coisa foi informada pela direção do hospital Edson Ramalho, que disse que não atende esses casos. O G1 aguarda uma resposta do hospital de Emergência e Trauma que já foi informado da situação por telefone e também por email.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde e foi informada que o secretário Valdson Souza está uma reunião e não poderia responder à imprensa. A assessoria disse ainda que logo que o secretário puder falar, uma resposta será enviada à imprensa.

G1