Rafaele Ponce Leon passou por cinco hospitais de João Pessoa para conseguir atendimento para o pai (Foto: Inaê Teles/G1) |
Um aposentado de 76 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral
(AVC), percorreu 30 km para conseguir atendimento clínico em um hospital
de João Pessoa. No total, foram oito tentativas em cinco hospitais da
capital. Só no Hospital de Emergência e Trauma foram quatro tentativas. A
filha do aposentado contou que todo o trajeto foi feito em um táxi e
que a peregrinação que começou na sexta-feira (16) só terminou no
domingo (18).
Rafaele Ponce Leon, filha do aposentado, disse que na sexta-feira,
recebeu uma ligação da irmã informando que o seu pai, Everardo Ponce
Leon, de 76 anos, havia sofrido um AVC. “A gente ligou para o Samu e
eles disseram que era para ir para um hospital”, afirmou.
O hospital Estadual Edson Ramalho, no bairro Treze de Maio, foi o
primeiro local procurado pelos familiares de Everardo. “Lá eles falaram
que o caso clínico dele era para ser atendido no Trauma porque
precisaria de uma tomografia e no hospital não havia o aparelho”. Em um
táxi, eles saíram em direção ao hospital de Emergência e Trauma.
Já no Trauma, de acordo com Rafaele, uma das recepcionistas informou
que na unidade não havia neuroclínico para realizar o atendimento e o
tomógrafo estaria quebrado. “Ela falou que era para a gente ir em um
posto de saúde para conseguir uma requisição”, disse.
O táxi com o aposentado e os seus familiares saiu em direção a um outro
hospital, o São Vicente de Paula, localizado em Jaguaribe. “Nele fomos
bem atendidos e o médico fez uma requisição para que fosse feita a
tomografia”, explicou Rafaele. De lá, o táxi voltou para o Trauma e
desta os familiares estavam com a requisição. Mais uma vez a
recepcionista teria afirmado que a máquina para realizar o exame estava
quebrada.
Decepcionados os familiares foram para casa no bairro da Torre e em
seguida ligaram para o Samu informando a situação. “O atendente disse
que era para gente ir na Delegacia do Idoso e prestar uma queixa”, mas
Rafaele disse que ligou para alguns amigos e eles a aconselharam a não
fazer a queixa.
Desta vez com os amigos, Rafaele pegou mais um táxi e foi para o
hospital Treze de Maio, no bairro de mesmo nome. “Do portão, o médico
disse que o caso do meu pai era para ser atendido no Trauma”, disse
Rafaele, que mais uma vez foi de táxi para o Trauma.
Aposentado sofreu um AVC na sexta-feira e só consegiu ser atendido no domingo (Foto: Arquivo pessoal)
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Eu me senti um lixo. Um nada"
Rafaele Ponce
Peregrinação continuou no sábado e domingo
Já na madrugada do sábado (17), na terceira tentativa de atendimento no Trauma, um dos amigos de Rafaele filmou toda ação. “Quando eles viram que estavam gravando, de repente, o tomógrafo voltou a funcionar, o neuro apareceu e meu pai foi atendido”, disse Rafaele. Mas quando finalmente o pai da jovem conseguiu atendimento, o médico e a recepcionista informaram que no hospital não haviam leitos disponíveis.
“Eu me senti um lixo. Um nada”, lamentou a jovem que mais uma vez levou
o pai para casa. No domingo (18), o aposentado passou mal e o Samu foi
acionado. Pela quarta vez Everardo foi encaminhado para o hospital de
Emergência e Trauma de João Pessoa. “Levaram meu pai para a UTI e eu
achei que estava tudo bem, mas um maqueiro se aproximou e disse que ele
seria transferido para o hospital Monte Sinai, que tem convênio com o
SUS”, disse.
No Monte Sinai, em Jaguaribe, a garota informou que o pai não foi
atendido por nenhum neurologista. Quando Rafaele estava sendo
entrevistada na tarde desta terça-feira (20), teve que sair as pressas
porque o pai precisa realizar um exame em uma outra clínica e precisa
ser transferido, mas no hospital não havia ambulância e ela teve que
sair para providenciar o transporte.
Respostas
Segundo o diretor do hospital Treze de Maio, Márcio Queiroga, a unidade hospitalar não atende esses casos porque não dispõe de neurocirurgião e nem de equipamentos de tomografia, pois o hospital não atende urgência.
A mesma coisa foi informada pela direção do hospital Edson Ramalho, que
disse que não atende esses casos. O G1 aguarda uma resposta do hospital
de Emergência e Trauma que já foi informado da situação por telefone e
também por email.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da
Secretaria Estadual de Saúde e foi informada que o secretário Valdson
Souza está uma reunião e não poderia responder à imprensa. A assessoria
disse ainda que logo que o secretário puder falar, uma resposta será
enviada à imprensa.
G1