Uma senhora, a quem chamarei de Dona Rosalina, é uma dessas criaturas sofridas que anseiam, pelo menos, por uma palavra de conforto. Não vou entrar na particularidade do seu caso. Mas posso revelar uma pequena sugestão que lhe fiz e que, segundo me relata, lhe tem servido de apoio.
Vali-me de minha própria experiência. Nas horas de dificuldade, quando parece que não há saídas para certas questões, recorro à oração e ganho forças para o trabalho. E não me tenho arrependido, ao concordar com o lema do venerável São Bento (480-547): “Ora et labora” [Ora e trabalha].
Passei-lhe então uma prece que, pela primeira vez, ouvi do saudoso mineiro de Santos Dumont, Geraldo de Aquino (1912-1984). Espero que sirva a quem me honra com a atenção, se, na liça diária, estiver atravessando provações que, às vezes, não pode revelar ao maior amigo ou à mais sincera confidente. Ninguém, religioso ou ateu, se encontra livre disso.
A Caridade não é cativa da restritíssima acepção a que alguns a querem condenar. Defendo, há décadas, que se trata da mais elevada Política, porquanto constitui ferramenta imprescindível para ajustar os mecanismos de uma sociedade ainda hoje regida pelo individualismo oportunista. Ilumina o Espírito do cidadão. Ela inflama a coragem da gente. Por que perder a Esperança? A primeira vítima do desespero é o desesperado.
Vamos, então, elevar o pensamento a Deus com o enlevo de tocante oração. De autoria do Espírito Cáritas, a súplica foi psicografada na noite de Natal de 1873, por madame W. Krell, em Bordeaux, França, e publicada em Rayonnements de la Vie Spirituelle [Irradiações da Vida Espiritual].
Prece de Cáritas
“Deus, nosso Pai,/ que sois todo Poder e Bondade,/ dai força àqueles que passam pela provação,/ dai luz àqueles que procuram a Verdade,/ ponde no coração do homem a Compaixão e a Caridade./ Deus!/ Dai ao viajor a estrela-guia,/ ao aflito, a consolação, ao doente, o repouso./ Induzi o culpado ao arrependimento./ Dai ao Espírito a Verdade,/ à criança, o guia,/ ao órfão, o pai./ Senhor! Que a Vossa Bondade se estenda sobre tudo o que criastes./ Piedade, Senhor,/ para aqueles que não Vos conhecem,/ esperança para aqueles que sofrem./ Que a Vossa Bondade permita/ aos Espíritos consoladores/ derramarem por toda a parte a Paz,/ a Esperança, a Fé!/ Ó Deus!/ Um raio, uma centelha do Vosso Amor/ pode iluminar a Terra,/ deixai-nos beber nas fontes/ dessa Bondade fecunda e infinita./ E todas as lágrimas secarão,/ todas as dores se acalmarão./ Um só coração, um só pensamento/ subirá até Vós,/ como um grito de reconhecimento e de Amor./ Como Moisés sobre a montanha,/ nós Vos esperamos com os braços abertos,/ Ó Bondade,/ Ó Beleza,/ Ó Perfeição. Nós queremos, de alguma sorte,/ merecer a Vossa misericórdia./ Deus!/ Dai-nos força,/ ajudai o nosso progresso/ a fim de subirmos até Vós;/ dai-nos a Caridade pura e a humildade;/ dai-nos a fé e a razão;/ dai-nos a simplicidade,/ Pai,/ que fará de nossas Almas/ o espelho onde se refletirá/ a Vossa Divina Imagem.”
Costumo dizer que orar é viver a Lei de Deus a todo momento, porque fala ao coração, e este é a porta de Deus em nós.
Com a palavra, um Nobel de Medicina e Fisiologia
O dr. Alexis Carrel (1873-1944), Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina (1912), explicou, na edição de março de 1941 da revista Reader’s Digest, em seu artigo “Oração é Poder”:
“A oração é uma força tão real como a gravidade terrestre. Na minha qualidade de médico, tenho visto enfermos que, depois de tentarem, sem resultado, todos os outros meios terapêuticos, conseguiram libertar-se da melancolia e da doença pelo sereno esforço da prece. É esta, pois, no mundo, a única força que parece capaz de superar as chamadas ‘Leis da Natureza’. (...) Há muitas pessoas que se limitam a ver na prece uma rotina formal de palavras, um refúgio para os fracos ou mero apelo infantil movido pelo desejo de coisas materiais. Concebê-la, entretanto, nestes termos, é menosprezá-la erroneamente (...). Não é possível que algum homem ou mulher reze, um momento que seja, sem obter qualquer resultado. ‘Ninguém jamais rezou’, disse Emerson, ‘sem que houvesse aprendido alguma coisa’. Bem compreendida em sua essência, a prece é uma atividade madura indispensável ao mais pleno desenvolvimento da personalidade — a definitiva integração das mais altas faculdades de que é dotado o homem. Somente pela prece alcançamos aquela completa e harmoniosa conjugação de corpo, mente e Espírito que dá à fraca argila humana sua solidez inabalável. (...) Toda vez que nos dirigimos a Deus, em oração fervorosa, melhoramos de corpo e Alma”.
Vejam que não se trata de afirmativa de nenhum “místico abilolado”, mas de um senhor cientista, cônscio de sua reputação, um Prêmio Nobel de Medicina.
Independência da dor só se consegue com o coração forte.
Não é mesmo, Dona Rosalina?