quinta-feira, 28 de abril de 2022

Alta no preço dos fertilizantes preocupa produtores canavieiros paraibanos

Os constantes aumentos dos fertilizantes ou adubos vem preocupando os produtores canavieiros paraibanos que estão enfrentando aumentos exorbitantes nos custos destes produtos, especialmente, nos últimos três anos, chegando a triplicar de valor em alguns casos. O custo do adubo para fundação (plantio) da cana-de-açúcar em 2019, por exemplo, era de R$ 1.450,00 por hectare. Esse mesmo produto, atualmente, custa R$ 3.625,00, impactando em 34% no custo do plantio por hectare.

Mas, não é somente o adubo para plantio que sofreu reajustes consideráveis entre 2019 e 2022. O produto usado no custeio (manutenção), que há três anos custava R$ 1.000,00 por hectare, hoje equivale a R$ 2.200,00. A variação dos herbicidas também foi expressiva. Em 2019, o produtor investia R$ 200,00 por hectare no plantio, hoje esse valor subiu para R$ 700,00. Na socaria, o valor que era R$ 277,00, atualmente, é de R$ 382,00. Um litro de glicosato, que é indicado no controle de ervas daninhas anuais e perenes, que custava R$ 15,00, hoje é comercializado a R$ 100,00.

O agrônomo Luis Augusto, do Departamento Técnico da Asplan (Detec), explica que essa variação de preço leva em conta diversos fatores sendo o aumento do dólar, já que os produtos são importados, o mais expressivo deles. “Além disso, os custos de logísticas com o transporte marítimo aumentaram muito e a escassez de moléculas, vindas a maior parte da China e também dos Estados Unidos, impulsionaram os preços. E também as indústrias instaladas em outros países que atendiam o mercado brasileiro reduziram a produção e a oferta desses produtos e tudo isso impacta no custo final dos produtos”, explica Luis, lembrando que o racionamento de energia na China e problemas nos EUA comprometeram a produção, reduzindo a oferta e aumentando também os preços.

O agrônomo lembra ainda da importância da adubação correta para a boa produtividade. “Quando os tratos culturais não são feitos de forma adequada, isso pode comprometer a produtividade da lavoura. Os estudos mostram que há uma relação direta entre a quantidade de adubo aplicado e produtividade, por isso os preços dos adubos preocupam tanto, pois eles são extremamente necessários para a agricultura, mas com valores tão altos há um impacto muito negativo no lucro do produtor”, reforça Luis Augusto.

Durante a pandemia de Covid-19, o preço dos defensivos agrícolas e fertilizantes aumentou em todos os continentes e até triplicou em alguns casos, como o cloreto de potássio (KCl). A tonelada do insumo saltou de US$ 265 em janeiro de 2021, para US$ 795 no final de outubro. “Além dessa avalanche de aumentos, ainda há o agravante das implicações mundiais por causa da guerra entre a Russia e a Ucrânia”, explica o produtor e diretor técnico do Detec da Asplan, Neto Siqueira. Ele lembra que a dependência do Brasil dos insumos fornecidos pela China, Rússia, Marrocos e outros países é grande. “O Brasil importa cerca de 80 a 85% dos fertilizantes que necessita e a China produz moléculas essenciais para os agroquímicos, como o glifosato, e qualquer mudança nestes mercados de lá impacta diretamente aqui”, destaca Neto.

O diretor do Detec da Asplan elogia a diligência do governo brasileiro no sentido de intervir para que não haja falta de produtos no mercado, mas ressalta que o Brasil precisa rever urgentemente a dependência dos fornecedores internacionais, especialmente, de chineses e russos. “O Governo deveria pensar num programa de estímulo a investimentos na produção nacional de fertilizantes e defensivos para acabar com a dependência do país, isso é vital para reduzir essa extrema e perigosa vulnerabilidade da agricultura brasileira e também para diminuir custos de produção e logística”, reitera Neto Siqueira, destacando que a chegada recente de navios com insumos vindo da Rússia tranquiliza os produtores para o semestre que está em curso, mas, não garante o abastecimento do mercado na segunda metade do ano, nem muito menos é referencial para os preços que serão praticados no próximo semestre. “Dormimos e acordamos com novos preços e isso gera uma instabilidade muito grande em nossos negócios”, lamenta Neto.


Assessoria