O ator Lázaro Ramos e os ativistas
Celso Athayde, Preto Zezé e Eliana Custódio no lançamento do partido, no Rio
Pular intermediários e
eleger diretamente parlamentares negros e moradores das periferias é o objetivo
do partido Frente Favela Brasil, que comunicou no último dia (30/08) ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter obtido registro no cartório civil, uma
das condições para a formação de partido político pela legislação. A Frente
pretende angariar votos entre os mais de 112 milhões de habitantes das favelas
brasileiras.
“Todos fazem política para
marginalizado, mas não tem nenhum partido de marginalizado. Queremos falar por
nós mesmos”, diz Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa),
idealizador do projeto empresarial Favela Holding e um dos incentivadores do
projeto.
Athayde explica que o novo
partido não quer simplesmente substituir ou desmerecer iniciativas afro ou
periféricas em partidos já existentes, como o DEM, o PSDB, o PMDB e o PCdoB,
mas propor algo novo.
Segundo Athayde, a Frente
recebeu diversos convites para se integrar a um partido já existente, e não
criar um novo, mas não aceitou, por entender que “a questão central agora não é
lutar por direitos, o que os movimentos já fazem, é lutar por poder. Por que
poder não pode?”, indaga.
“Nos espaços de poder, são
as pessoas que já fazem parte da alta burocracia que falam pelos negros, que
falam pela periferia”, diz Wanderson Maia, jovem de 28 anos, um dos presidentes
do novo partido. Para Wanderson, chegou o momento de ocupar diretamente esses
espaços. “É nesse lugar que a gente quer lidar”, afirma.
Também homossexual Maia
diz que, apesar de ser inegável a preponderância de problemas relacionados à
comunidade negra quando se fala em periferia, o partido se preocupa em não ser
excludente, seja do ponto de vista étnico-racial, seja do ideológico. “Entre esquerda e direita, preto ou branco,
permanecemos favela, comunidade, permanecemos periferia.”
“Quando a favela é olhada,
é olhada no lugar de pessoas que não são potentes – estamos olhando com outro
olhar, de que somos pessoas extremamente potentes e criativas”, completa
Patrícia Alencar, que também ocupa a presidência da nova legenda. Patrícia
explica que, em cada cargo de direção, o partido pretende ter sempre um homem e
uma mulher.
Criação
A Frente Favela Brasil foi
criada há um ano, em evento na Providência, primeira favela do Brasil, no Rio
de Janeiro, e após um trabalho de formalização burocrática e construção de
bases apresentou registro no TSE nesta quarta-feira.
O partido se junta agora a
mais 56 agremiações que tentam obter 489 mil assinaturas de apoio, número
necessário para que uma nova legenda possa concorrer a eleições.
A outra condicionante,
existência de diretórios em todos os 26 estados e no Distrito Federal, já foi
alcançado pela Frente Favela Brasil. Segundo Celso Athayde, não deve ser
difícil para o partido conseguir as assinaturas necessárias para entrar na
disputa para o próximo ciclo eleitoral, que começa em 2018.
"Só de pontos
voluntários para coleta de assinaturas, formados por pessoas que nos procuraram
voluntariamente para abrir suas casas e comércios para isso, temos 300 mil, em
todos os estados", informa Athayde. Nomes referência na comunidade
periférica, como os rappers MV Bill e Happin Hood, estiveram presentes no ato
de registro do partido no TSE, mas não quiseram comentar a possibilidade de se
candidatar a algum cargo nas próximas eleições.
Agência Brasil