Fala é a melhor solução
A
psicóloga Gabriella Santos esclarece dúvidas relacionadas a saúde mental
QUAL A IMPORTÂNCIA DO
SETEMBRO AMARELO?
A campanha do Setembro Amarelo
foi criada no Brasil em 2015, em consonância com a data mundial da Prevenção do
Suicídio (10 de Setembro), com objetivo de conscientizar sobre a importância da
prevenção do suicídio e dar visibilidade ao tema no país.
A possibilidade de encerrar
a própria vida é uma questão que atravessa a história do ser humano desde suas
origens. A mitologia, a literatura, a religião, a filosofia, as ciências da
saúde e as sociais discutiram e discutem a morte voluntária, suas motivações e
seus impactos. Portanto, não devemos buscar uma explicação fácil e simplista
para um fenômeno tão complexo. E é diante de tal complexidade que a campanha do
Setembro Amarelo se mostra extremamente pertinente.
Discutir é uma forma de
prevenção. Falar abertamente e de forma responsável sobre o suicídio é criar
espaços de diálogo e construção de saber para o enfrentamento do problema.
COMO OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE PODEM ATUAR DIANTE DA QUESTÃO DO SUICÍDIO?
O suicídio como questão de
saúde pública deve ser considerado a partir de dimensões biopsíquicas,
históricas, sócio-ambientais, culturais e econômicas. Fatores como faixa
etária, diferenças por sexo e gênero, condição social, diagnóstico prévio ou
não de transtorno mental, devem ser considerados na prevenção da
ideação/planejamento/efetivação da morte voluntária.
O suicidologista Edwuin
Shneidman, numa leitura psicodinâmica do suicídio, aponta como principal fator
de um ato suicida a vivência de um sofrimento/dor psicológica sentida como
intolerável. O autor afirma que se faz necessário então, favorecer alternativas
para que a pessoa consiga lidar com essa dor, torná-la mais tolerável, ampliar
a capacidade de lidar com as frustrações e diminuir a pressão e a tensão
causadas por eventos estressores envolvidos nesse processo.
Dessa forma, algumas
estratégias e ferramentas de cuidado, em consonância com os princípios e
diretrizes do SUS, se fazem oportunos nesse contexto, tais como: a intervenção em
crise, avaliação de riscos, notificação compulsória de violência autoprovocada,
grupos de apoio, o desenvolvimento de projetos terapêuticos singulares, o
acolhimento, o fortalecimento de vínculos, o trabalho em rede, a
corresponsabilização e a continuidade do cuidado, entre outros. O manejo dos
casos de transtornos mentais (depressão, alcoolismo, esquizofrenia, transtornos
de personalidade, etc) necessitam de atenção especializada. Para tanto, é
necessário que os profissionais estejam respaldados por políticas públicas que
garantam a capacitação humana, a manutenção e a qualidade dos serviços de
saúde, da atenção básica à especializada.
Ademais, vale destacar que a
prevenção do suicídio deve ser realizada diariamente no âmbito familiar, nas
escolas com programas psicoeducativos, na comunidade, nos serviços do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS), entre outros espaços. A manutenção da vida
é responsabilidade de todos. O sofrimento faz parte da vivência humana. Desejar
o fim da dor do existir não é o mesmo que desejar o fim da vida. Sejamos
acolhedores, empáticos e responsáveis conosco e com os outros.
ALÉM DO ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO PROFISSIONAL HÁ OUTRAS FORMAS DE TRATAR O SOFRIMENTO PSÍQUICO E PREVENIR O SUICÍDIO?
Podemos pensar nas várias formas de amenizar as durezas da vida, como:
- A efetivação das políticas públicas que garantam às pessoas os direitos sociais básicos (educação, alimentação, trabalho, segurança, moradia, saúde, entre outros);
O exercício diário do acolhimento, do respeito e da tolerância nas nossas relações interpessoais na família, no trabalho, na comunidade;
A criação de ambiente e dispositivos que favoreçam, de forma responsável, a comunicação, a representação e o compartilhamento de sentimentos;
A promoção da qualidade de vida por meio da arte, da música, da dança, da leitura, dos esportes e terapia corporais, entre tantos outros artifícios.
COMO TRATAR A QUESTÃO DA
SAÚDE MENTAL NO ATUAL CONTEXTO DA PANDEMIA?
As experiências vividas relacionadas à infecção pelo vírus da Covid-19 ou à morte de pessoas próximas, à mudança na rotina doméstica, no trabalho (principalmente na sobrecarga dos profissionais de saúde), nas relações afetivas em decorrência das medidas de distanciamento e isolamento social, bem como as consequências econômicas durante a pandemia, podem elevar o risco de desenvolver ou agravar transtornos mentais já existentes.
O
distanciamento social alterou os padrões de comportamento da sociedade, inviabilizando
o contato próximo entre as pessoas, algo tão importante para a saúde mental. Na
mesma cena, o convívio prolongado dentro de casa pode favorecer desajustes na
dinâmica familiar e aumento dos casos de violência doméstica, principalmente
contra crianças, idosos e mulheres. A morte de entes queridos em um curto
espaço de tempo no contexto da pandemia tem dificultado a realização da
ritualização coletiva e elaboração do luto, impedindo o processo adequado de
ressignificação das perdas, fragilizando a saúde mental das pessoas.
A
irritabilidade, a angústia, a tristeza, os sentimentos de desamparo, tédio e
solidão decorrentes desse contexto, somadas às questões de violência e
dificuldades financeiras, associadas a transtornos mentais preexistentes,
tornam-se fatores importantes que podem aumentar o risco de uma pessoa decidir
tirar a própria vida. Estudos mostram um alto índice de suicídios cometidos na
própria casa. Dessa forma, em muitos casos a morte voluntária, como ato impulsivo,
pode ser evitada se os meios para a efetivar não estiverem à mão (restrição de
acesso a armas de fogo, medicações, pesticidas, entre outros).
Ademais, diante
da sucessão de acontecimentos impostos pela pandemia, da sensação de desamparo
e isolamento, a experiência de compartilhamento é uma proteção. Manter a rede
socioafetiva, estabelecendo contato com pessoas queridas, mesmo que de forma virtual,
se mostra como um fator de suporte emocional nos dias atuais.
A autora
Hannah Arendt tem uma frase que diz que “Toda dor pode ser suportada
se sobre ela puder ser contada uma história”. Nesse sentido, além da garantia
do acesso aos serviços de saúde mental, com assistência especializada, há outro
recurso importante que soma nas estratégias de cuidado mental e prevenção ao
suicídio, o Centro de Valorização da Vida. O CVV trabalha para oferecer suporte
emocional às pessoas em situação de crise emocional, se configurando como
instrumento na prevenção do suicídio. Voluntários ficam à disposição 24 horas
por dia para oferecer atendimento pelo telefone 188 ou pelo chat online no
site. O atendimento é gratuito e anônimo, resguardando o sigilo.
Falar é a melhor solução,
dar voz ao sujeito que sofre, para que ele possa elaborar seu sofrimento, e
encontrar alternativas para viver.
QUAIS SÃO OS ATENDIMENTOS PSICOLÓGICOS REALIZADOS NO HUJB-UFCG/EBSERH ATUALMENTE?
A Psicologia Hospitalar como especificidade da Psicologia da Saúde
tem como objetivo geral acolher, ofertar suporte emocional e tratar de sujeitos
de todas as faixas etárias, bem como suas famílias, em sofrimento decorrente de
suas patologias, internações e tratamentos. No HUJB o setor de Psicologia presta assistência psicológica aos
internos no pronto-atendimento, nas enfermarias (acompanhamento clínico e
cirúrgico) e no ambulatório.
O Ambulatório de Psicologia Hospitalar do HUJB visa atender
demandas específicas a fim de ofertar à população acompanhamento psicológico no
que se refere ao processo de adoecimento físico e à sua prevenção. São atendidas
crianças (maiores de seis anos), adolescentes e adultos acometidos por
sofrimento psicológico decorrente de quadros agudos ou crônicos de doenças
físicas. O agendamento de consultas ambulatoriais é de competência exclusiva da
Central de Marcação de Exames e Consultas de Cajazeiras.
Gabriella Pereira Leite dos Santos (Psicóloga Hospitalar)
Sobre a Ebserh - O HUJB-UFCG faz parte da Rede Ebserh/MEC desde dezembro de 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 Hospitais Universitários Federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Vinculados às Universidades Federais,
essas unidades hospitalares têm características específicas: atendem pacientes
do Sistema Único de Saúde (SUS) e, principalmente, apoiam a formação de
profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas. Devido a essa natureza
educacional, os Hospitais Universitários são campos de formação de
profissionais de saúde. Com isso, a Rede Hospitalar Ebserh atua de forma
complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de
saúde do país.
Assessoria