Antes de formalizar o projeto, Chico Mendes pediu a colaboração de pesquisadores para um estudo sobre o homenageado. A pesquisa teve contribuição do advogado e assessor Hugo Moreira, do jornalista Sales Fernandes, que acompanha o dia a dia da ALPB, e do historiador cajazeirense Aguinaldo Rolim, fundador da cadeira da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal), cujo patrono é Zé do Norte.
Entre livros, canções e programas de rádio e TV, Zé do Norte ganhou notoriedade internacional quando sua icônica música “Mulher Rendeira” fez parte da trilha sonora do filme “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, de 1953, escolhido melhor longa de aventura do Festival de Cannes, na França.
História
Músico paraibano Alfredo Ricardo do Nascimento, mais conhecido como Zé do Norte, nasceu em Cajazeiras, no dia 18 de dezembro de 1908.
Quando menino, órfão de pai e mãe, Alfredo Ricardo teve uma infância muito pobre. Trabalhou na enxada, apanhou algodão, conduziu tropas de burro. Gostava de cantar desde a infância, mas sem imaginar que isso pudesse ser meio de vida.
Em 1921, foi para Fortaleza e alistou-se no Exército, indo servir no Rio de Janeiro. Convidado, atuou em programa de rádio, obtendo grande sucesso com uma embolada de sua autoria. Acabou sendo levado para a Rádio Tupi onde cantou adotando o pseudônimo de Zé do Norte, em 1940.
Em 1941 ele foi para a Rádio Transmissora Brasileira (atual Rádio Globo) e participou de programas, como ‘Desligue, Faz Favor’ e ‘Hora Sertaneja’. Passou depois para as Rádios Fluminense, Clube do Brasil e Guanabara, atuando como animador, organizador, cantor e declamador. Nesse tempo, Zé do Norte lançou em programa de rádio o sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga, o futuro “Rei do Baião”.
Zé do Norte publicou o livro ‘Brasil Sertanejo’, em 1948, e cinco anos depois atuou como consultor do linguajar nortista e compositor no filme ‘O Cangaceiro’, de Lima Barreto (1953). Sua gravação de ‘Mulher Rendeira’ (atribuída a Virgulino Ferreira, o Lampião) ficou mundialmente conhecida após ser incluída no filme de Barreto.
Entre suas mais de uma centena de composições, a segunda mais famosa é ‘Sôdade, Meu Bem, Sôdade’ (1953), regravada por vários intérpretes, como Nana Caymmi, Pena Branca e Xavantinho, Socorro Lira, Marcus Lucenna, Xangai e Maria Bethânia. Suas músicas foram interpretadas por uma gama variada de artistas, incluindo Raul Seixas (ele gravou uma bela versão de ‘Lua Bonita’, no disco ‘A Pedra do Gênesis’, de 1988), Caetano Veloso (ele inseriu a música ‘Sôdade, Meu Bem, Sôdade’, no disco ‘Transa’, de 1972, ao longo da execução de sua música ‘It’s a Long Way’, muito embora não tenha dado os devidos créditos ao autor), Geraldo Azevedo (‘Meu Pião’) e Joan Baez.
Pelas mãos de uma escritora e jornalista renomada, a cearense Rachel de Queiroz, Zé do Norte foi indicado para a equipe da produção cinematográfica de ‘O Cangaceiro’, como consultor de prosódia sertaneja. Terminou sendo o “autor” da trilha sonora, que incluiu o clássico ‘Mulher Rendeira’. O sucesso da fita em Cannes elevou Zé do Norte ao Olimpo do cancioneiro popular nacional.
Existem controvérsias sobre a sua autoria de ‘Mulher Rendeira’. Diz-seque a canção já era cantada nos sertões nordestinos antes de Zé do Norte chegar ao Rio de Janeiro, nos anos de 1940.
Há quem diga que seu autor é Virgulino Ferreira da Silva, o temido cangaceiro Lampião. Mas é mais provável que tenha sido adaptada e recebido acréscimos ao longo do tempo.
E não é de todo improvável que algumas estrofes tenham sido de fato criadas pelo talentoso Zé do Norte. O jornalista José Neumanne Pinto, também paraibano, segundo a Wikipédia– Enciclopédia Livre, afirma que, embora genial, Zé do Norte se apropria de canções tradicionais cantadas pela mãe dele. José Nêumanne Pinto Diz: “Fui grande amigo de Zé do Norte. Tomava chope com ele no Bar Brasil, um restaurante alemão na Lapa. Os companheiros de copo eram Zé Ramalho e o xilogravador Ciro de Uiraúna. E já tive oportunidade de esclarecer a Socorro Lira, minha querida Joan Baez de Brejo do Cruz, que o genial malandro Alfredo Ricardo do Nascimento nunca compôs nenhuma música. Apenas adotou como suas canções cantadas pela mãe no Sertão do Rio do Peixe, de onde viemos para o Sudeste ele e eu”.
Com Blog Coisas de Cajazeiras