Diego Fernandes negociou da Europa a contratação do treinador, mas não é agente licenciado; ele diz que atuou como consultor
O valor acertado no acordo entre Fernandes e a CBF é de 1,2 milhão de euros (R$ 7,4 milhões). O acordo também previa que o executivo tivesse participação especial na apresentação oficial de Ancelotti, como de fato aconteceu. Além de publicar nas redes sociais um agradecimento a ele, a diretoria da CBF deixou uma cadeira reservada ao empresário na primeira fileira do auditório no hotel na Barra da Tijuca, no Rio, em que Ancelotti anunciou sua primeira convocação e deu entrevista.
O acordo entre a CBF e Fernandes foi fechado pelo ex-presidente Ednaldo Rodrigues. Presidente eleito no último domingo, Samir Xaud solicitou que o departamento de governança da entidade analise a documentação. Há possibilidade de a CBF juridicamente contestar o pagamento da comissão.
“A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informa que os termos que envolveram a negociação para a contratação de Carlo Ancelotti e sua comissão técnica possuem cláusulas de confidencialidade e foram elaborados pela antiga gestão da entidade. A atual gestão está avaliando a situação internamente, trabalho liderado por sua área de governança”, disse em nota a CBF.
A Fifa pediu uma posição da CBF sobre o caso, além de uma série de documentos, como a cópia dos possíveis pagamentos e do contrato entre a entidade e o empresário. Também solicitou os contatos do executivo.
Em resposta à reportagem, Fernandes alega ter atuado como consultor na negociação e afirmou que só vai receber a comissão referente à intermediação após sua inscrição como agente intermediário junto à CBF e à Fifa.
Atualizado em dezembro de 2024, o regulamento que estabelece normas para os agentes de futebol da Fifa permite que apenas agentes licenciados participem de negociações envolvendo jogadores e treinadores.
Somente um agente de futebol pode prestar serviços de agente de futebol
Artigo 11 do regulamento de agentes de futebol da Fifa
No artigo 11 do regulamento, também consta que “quaisquer funcionário ou contratado por agência que não sejam agentes de futebol não podem prestar serviços de agente de futebol nem fazer qualquer abordagem a um potencial cliente para celebrar um contrato de representação”.
Amigo de jogadores
Fundador e CEO da 08 Partners, Fernandes é conhecido no mundo do futebol por realizar operações financeiras e de câmbio para jogadores e dirigentes. Ele transita com facilidade pelos bastidores de grandes clubes europeus e mantém boa relação com Neymar pai, um dos entusiastas da contratação de Ancelotti pela seleção.
O empresário deu entrevistas, fez publicações em seus perfis nas redes sociais se gabou de ter sido ele o intermediário responsável por facilitar a contratação de Ancelotti, um sonho antigo de Ednaldo Rodrigues.
“Tenho muitos amigos no futebol, tenho grandes jogadores que são clientes no banco em que eu presto serviço, tenho uma amizade muito grande com todos eles e quando fui convidado (para ajudar na negociação), eu achei isso uma oportunidade como brasileiro para poder fazer a diferença e ajudar a seleção”, disse Fernandes em conversa com alguns jornalistas no dia da apresentação de Ancelotti.
Fernandes publicou uma foto ao lado do treinador e fez circular pela imprensa um texto que disse ter escrito com ajuda da inteligência artificial para celebrar a chegada de Ancelotti, ao lado do qual ele desembarcou no último domingo. Rodou o Brasil a foto do executivo, vestindo uma camisa retrô da seleção brasileira, da Copa de 1962.
Nota de Diego Fernandes
“O contrato firmado por Diego Fernandes com a CBF, em relação à contratação do treinador da seleção brasileira, respeita rigorosamente todas as normativas da CBF e da FIFA, com previsão específica acerca da necessidade de cumprimento das exigências das mencionadas instituições, de modo que eventuais questionamentos são infundados e serão prontamente esclarecidos.
Cumpre ressaltar que, Diego Fernandes é consultor, conforme previsto no contrato, e que só poderá receber qualquer montante referente à intermediação, após sua inscrição como agente intermediário de futebol junto à CBF.
Diego atuou formalmente como consultor, em função do curto prazo de tempo que se deu o desafio da negociação, o que seria incompatível com o processo para registro como agente de futebol junto à FIFA. Com a conclusão da negociação, Diego dará entrada ao registro para que, quando efetuado, possa receber o justo valor referente à intermediação".
Estadão/Esportes