domingo, 24 de abril de 2011

Transexual espancada no McDonald’s conta drama. Funcionário que filmou é demitido

As cenas são terríveis e mostram várias faces da violência humana. Uma é o ódio irracional aos diferentes, no caso uma transexual que ia ao banheiro no McDonald’s de Baltimore, EUA. Um ódio que por pouco não provocou mais uma morte estúpida. A outra face é a omissão total de quem deveria proteger clientes numa rede que se orgulha de disseminar uma imagem de bom atendimento aos clientes. Também chama atenção que sejam duas mulheres a bater no(a) transexual. Por mais que homens protagonizem com mais frequência episódios de violência, cada vez mais mulheres se mostram publicamente agressivas e covardes. Neste caso, quase assassinas.

O caso foi o seguinte: no dia 18 de abril, na filial do McDonald’s na Kenwood Avenue, em Rosedale, Baltimore, EUA, duas jovens – uma menor de idade, de apenas 14 anos, e a outra, de 18 – atacaram e espancaram por longo tempo uma cliente de 22 anos, Chrissy Polis, sob o olhar complacente dos funcionários da lanchonete. Ouvem-se risos ao fundo. As aagressoras puxam a vítima pelos cabelos, chutam, dão soco, empurram, arrastam-na pelo chão.

O gerente “ensaia” um protesto e pede às duas que vão embora. Stop, stop, limita-se ele a gritar, em vez de impedir a barbárie e chamar a polícia. As agressoras vão indo embora, mas voltam seguidamente para continuar a selvageria. A vítima fica encolhida no chão, tenta se proteger, proteger a cabeça especialmente por medo de morrer. Somente uma senhora mais velha, também cliente, intercede vigorosamente em favor da vítima – não o staff do McDonald’s. Quando a transexual começa a sangrar e tremer no chão, os funcionários, com medo da polícia e de acabar, como dizem no vídeo, “com um corpo, um cadáver no chão”, expulsam as agressoras para que elas se livrem da prisão em flagrante.
O vídeo foi visto por milhões na internet, tornou-se um viral.

O McDonald’s, o que fez? Soltou um comunicado oficial. E demitiu o funcionário que filmou todo o ataque.

“Estamos chocados com o vídeo de uma de nossas franquias em Baltimore que mostra um ataque a uma cliente. Esse incidente é inaceitável, perturbador e constrangedor. McDonald’s se empenha em ser um ambiente seguro e receptivo a todos que nos visitam. Nada é mais importante para nós do que a segurança de nossos clientes e e funcionários nos nossos restaurantes. Estamos em contato com a filial local e as autoridades para investigar o assunto”.

O proprietário da filial local do McDonald’s demitiu o empregado que filmou a agressão no celular e está “analisando se deve punir” os outros, que nada fizeram a não ser “sentar e olhar”, segundo depoimento de Chrissy, a vítima. Pela primeira vez, ela fala ao jornal Baltimore Sun sobre o que viveu e como está se sentindo depois de tudo.
De seu depoimento, alguns detalhes chamam a atenção. Ela é articulada, confirma que não tentou reagir porque queria apenas proteger sua cabeça e não morrer nem ter uma parada cardíaca. Fala que o ataque começou com uma delas cuspindo no seu rosto quando ia ao banheiro. Diz ter ficado estarrecida ao ser informada de que uma das agressoras tem apenas 14 anos. Falou – e está provado no vídeo – que os funcionários do McDonald’s não só foram omissos e nada fizeram, mas que, no fim, apenas tentaram proteger as moças que a espancavam, evitando sua prisão em flagrante. Chrissy tem um olhar triste, lamenta todos os danos físicos e morais do incidente – ficou machucada, com hematomas, e teve sua vida exposta – e diz que, agora, seu único desejo seria encontrar aquela senhora que provavelmente a salvou de morrer. Chrissy está com medo de sair de casa.

Por Ruth Aquino/Revista Época