quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

MDB reclama do PT, que exige maior afinidade do PSB, que flerta com o PDT, que acusa MDB e PT de boicote

Não é só em São Paulo que há refregas: no Recife, João Campos quer driblar o PT; em Fortaleza, o PT só encaminha Cid Gomes ao PSB se os socialistas largarem Lira no DF

Na primeira semana de dezembro, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), reuniu-se com algumas das principais lideranças do MDB no Congresso. Ele queria sondar caciques do outrora mais poderoso partido do País se a cúpula nacional dos emedebistas chancelaria acertos pré-eleitorais que ele vinha fazendo em Pernambuco, inclusive a inclusão de um candidato a vice em sua chapa de tentativa de reeleição em outubro próximo, mesmo que o PT estrilasse. Campos desfruta de 81% de aprovação (soma das avaliações de “ótimo” e de “bom” à sua gestão) e vencer o pleito em 1º turno não será missão difícil. Ele, entretanto, não esconde a intenção de renunciar à prefeitura da capital pernambucana em 2026 para se candidatar ao Governo do estado.

Comandados pelo senador Humberto Costa, os petistas pernambucanos exigem o posto de vice-prefeito - o que seria um atalho para o Partido dos Trabalhadores voltar à liderança administrativa do Recife, metrópole comandada pela sigla  por 12 anos consecutivos entre 2001 e 2013. Não à toa, Costa é efusivo em mesuras e gestos de aproximação política com a governadora Raquel Lyra, que está de saída do PSDB e tem convites do PSD e do PDT para ingressar numa legenda integrante da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Não há chance de eu dar a vaga de vice ao PT”, disse Campos na reunião com os emedebistas à qual estava presente o presidente do partido, Baleia Rossi. “Não cometerei esse erro, nem cairei nessa armadilha”, completou. Na conversa, tratou-se também do quadro político de Fortaleza, no Ceará, onde o senador Cid Gomes, convertido em desafeto do próprio irmão, Ciro, busca abrigo no PSB depois de ser expurgado pelo PDT cearense (controlado pelo ex-presidenciável Ciro Gomes). “Dê-nos a certeza de que o PSB não fechará uma aliança nacional com o PDT que a gente banca essa aliança no Recife”, quis cercar-se de salvaguardas o deputado Eunício Oliveira (MDB-CE), ex-presidente do Senado.

Na Câmara dos Deputados, a ala do MDB hostil a Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa, assiste com assombro e preocupação a cooptação do líder da bancada, Isnaldo Bulhões (MDB-AL) pelos pragmáticos “cantos de sereia” do Orçamento da União. Bulhões, antigo aliado dos Calheiros (os senadores Renan pai e Renan Filho, ora ocupando o Ministério dos Transportes), foi convencido por Lira de que é possível reunir apoio suficiente para se eleger presidente da Câmara em fevereiro de 2025. Elmar Nascimento (União-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP), que em maior ou menor intensidade ouviram de Lira que o atual presidente iria apoiá-los, começam a se cercar de precauções contra a pré-candidatura do alagoano Isnaldo que foi lançada silenciosamente nas confraternizações do fim do ano passado. Dentro do MDB, a dança de sedução de Arthur Lira em direção a Isnaldo Bulhões é usada como nitroglicerina para implodir acertos de alguns palanques municipais - inclusive o do Recife, caso o PSB não deixe claro que joga alinhado à base governista em todo o País, inclusive em Brasília e no Congresso. 

O PT quer receber apoio do PSB para a candidatura do deputado João Coser à prefeitura de Vitória (ES). O petista Coser administrou a capital capixaba por oito anos e figura em segundo ou terceiro lugar nas pesquisas pré-eleitorais. O Espírito Santo é governado por Renato Casagrande, do PSB. O MDB, por sua vez, já recebeu um forte e evidente apoio do Partido dos Trabalhadores em Salvador. Os petistas baianos, em que pese estarem no governo estadual ininterruptamente desde 2006, abriram mão de um candidato próprio na capital da Bahia para cerrarem fileiras com a tentativa de Geraldo Júnior, vice-governador do estado, eleger-se prefeito. 

No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PSD) ver-se-á, nos próximos dias, forçado a aceitar a filiação ao PT da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e o pedido dos petistas para que ela seja inscrita em sua chapa como candidata a vice-prefeita. É o presidente Lula quem dá os pontos e os nós do tricô para que Paes feche a chapa com Anielle, irmã da vereadora Marielle Franco, assassinada por milicianos em 2018, um crime cujos mandantes ainda não foram definitivamente apontados. Ao agir assim, Lula reproduz no Rio a mesma estratégia adotada em São Paulo. A ex-prefeita Marta Suplicy, cujo nome obtém amplo recall de mandato na periferia da maior metrópole brasileira (Marta foi comandou a cidade entre 2001 e 2005), só retornou ao PT e se pôs à disposição de ser candidata a vice-prefeita na chapa com Guilherme Boulos (PSol) porque o presidente interveio nas negociações e bloqueou críticas ao regresso dela à sigla. Como estava filiada ao MDB e era secretária de Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo candidato à reeleição, a hábil tricotagem de Lula levou Baleia Rossi, presidente emedebista, a externar críticas diretas ao presidente da República. Rossi, contudo, quis mais preservar Nunes, que saiu com fama de pateta do episódio, do que bater em Lula.

Neste recesso parlamentar de janeiro, as legendas se deparam com muito mais espinhos do que flores ao pavimentar o caminho até os palanques municipais de 2024. E, claro, o resultado eleitoral que se vier a colher em outubro próximo influenciará o desempenho de todos os partidos em 2026, quando o País se verá em mais uma eleição geral e sob a necessidade mandatória de melhorar a qualidade do Congresso Nacional, ora em estado de decrepitude em razão de ter adernado à extrema-direita.


Por Luís Costa Pinto / 247 em Brasília/DF