quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Nayara diz que não houve tiro

POLICIAL: 23/10/2008 - Imagem: Futura Press - Durante primeiro depoimento, Nayara, amiga de Eloá, afirmou à Polícia que não houve tiro antes da invasão do Gate. Santo André. Testemunha ocular da tragédia do ABC paulista, em seu primeiro depoimento após o assassinato de Eloá Cristina Pimentel, Nayara, de 15 anos, revelou ontem que ela e a amiga só foram baleadas por Lindemberg Alves depois que policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) detonaram os explosivos colados na porta do apartamento. O relato da adolescente diverge da versão apresentada pelo comando da Polícia Militar, de que a invasão só ocorreu porque o Gate ouviu um tiro vindo de dentro do cativeiro.Ela afirma ´taxativamente´, segundo a Polícia Civil, que os tiros ocorreram depois que a porta explodiu. ´O Lindemberg, segundo a versão da Nayara, não deu nenhum tiro por volta das 18 horas. Ela (que estava no chão, em um colchonete, do lado direito de Eloá), relatou que ouviu uma explosão, teve um susto e ouviu dois tiros e não se lembra de mais nada´, diz o seccional de Santo André, Luís Carlos dos Santos.´Teria ocorrido um disparo anterior, por volta das 15 ou 16 horas, para o alto, num ato de nervosismo. A Eloá teve uma crise e ele a controlou, na versão de Nayara´, relatou.Santos ainda destacou que o inquérito segue na fase de recolhimento de provas e outras duas testemunhas, vizinhos do apartamento, foram ouvidas na terça-feira à noite no 6º Distrito Policial e relataram ´um estampido´, como de um tiro, por volta das 18 horas.As versões, conflitantes, agora deverão passar pelo crivo do Instituto de Criminalística, que periciou o apartamento. ´Quanto à autoria do homicídio, isso não difere em nada. Foi Lindemberg quem atirou e matou Eloá´, afirmou Santos. Esclarecimentos Quanto à investigação das ações do Gate, que é alvo de sindicância própria da Corregedoria da PM, o depoimento de Nayara deve reforçar as críticas à operação da Polícia. Durante mais de quatro horas de depoimento, Nayara também esclareceu as circunstâncias de seu retorno ao apartamento. Disse ter sido procurada por PMs em sua casa na quinta-feira passada (16) e, mesmo sem o aval dos pais, aceitou voltar ao CDHU Jardim Santo André - ao contrário do que afirma a PM.Segundo o capitão Adriano Giovaninni, negociador do Gate, Nayara estava acompanhada pela mãe quando foi trazida por uma viatura policial até o prédio, onde recebeu orientações sobre como deveria agir. Antes da entrevista coletiva da Polícia Civil, Nayara apareceu pela primeira vez, depois de ser libertada do mais longo cárcere privado da história de São Paulo, segurando um bicho de pelúcia. Ela não falou com a imprensa. ACUSADO DE MORTE Repercussão do crime pode ajudar na defesa do pai de Eloá. São Paulo Toda a repercussão midiática do caso Eloá, na avaliação da família da adolescente, pode ajudar na defesa do seu pai, Everaldo Pereira dos Santos, acusado pela polícia de Alagoas de participar do assassinato do delegado Ricardo Lessa, irmão do ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), em 1991, e de outros crimes. ´Agora eles podem se defender sem medo. Com toda a imprensa em cima, fica mais difícil que alguém queira simplesmente ‘apagar o arquivo’. Foi o que a Ana Cristina (mãe de Eloá e mulher de Everaldo), mesmo muito arrasada, concluiu´, disse a agente comunitária Simone Duarte, de 33 anos, que conversou com Ana Cristina Pimentel. Durante todo o seqüestro, foi Simone quem abrigou a família de Eloá. A Polícia Civil de Alagoas considera Santos um arquivo vivo e teme por sua vida. Sua família, segundo relato da agente comunitária, também temia trazer o caso à tona. Nas poucas palavras que trocaram sobre o assunto, Ana Cristina - que horas antes havia enterrado a própria filha - se mostrou ´arrasada, sem chão´. ´Ela deixou bem claro que ele é inocente, mas agora está com medo de ser ameaçada´. R$ 2 MILHÕES Advogado quer indenização altaSanto André. O advogado Angelo Carbone Sobrinho, contratado pela família da adolescente Nayara Rodrigues,15, afirmou ainda que entrará com uma ação pedindo indenização de R$ 2 milhões do governo estadual.O advogado disse que adotará duas medidas. A primeira, feita na terça-feira, é a de solicitar que atue como assistente do Ministério Público no desenrolar do procedimento e uma futura acusação.´A primeira medida é acompanhar toda a parte processual e auxiliar o Ministério Público a obter uma pena exemplar e ainda acompanhar a execução penal de modo que ele [Lindemberg] não saia antes do tempo´, afirmou o advogado. A segunda medida ainda não protocolada é a de uma ação indenizatória contra o Estado de São Paulo. O advogado de Nayara afirmou que a ação indenizatória tem dois objetivos. O primeiro é de conseguir uma tutela antecipada - espécie de liminar, decisão urgente antes da apreciação do mérito - de modo que o governo estadual pague todas as despesas médicas, psicológicas, odontológicas e demais gastos que a garota tiver para se recuperar.No mérito, segundo Carbone Sobrinho, será solicitada uma indenização de R$ 2 milhões a título de danos morais. O advogado se baseará no que considera falhas da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em especial o Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais). Segundo ele, Nayara só não morreu porque ´Deus não permitiu´.