“Fala-se tanto do crime organizado do narcotráfico, mas pouco se sabe
sobre o crime organizado eleitoral. Este crime não pode ser considerado
como caso isolado, mas como o mais nocivo tipo de crime organizado”.
FÓRUM: 02/09/2010 - A compra de votos nas eleições brasileiras e os mensalões demonstram
as práticas desonestas entre agentes do Estado e o setor privado,
aumentando cada vez mais os níveis de corrupção no país, que contribuem
para acentuar os níveis de pobreza. Os compradores de votos são
criminosos responsáveis pela manutenção da pobreza deste país. O crime
eleitoral precisa ser investigado utilizando-se os mesmos métodos de
combate ao crime organizado como o narcotráfico.
Pelo que se observa, parece não existir interesse da uma parte da
classe política em combater o crime organizado eleitoral, sobretudo
daqueles que não seriam eleitos de forma democrática. Este tipo de crime
organizado existe hoje em quase todos os níveis de eleições no país,
onde a compra de votos e a troca de favores não são coisas abstratas.
Para combatê-lo seria necessário um efetivo de policiais federais,
talvez dez vezes mais do que existe hoje, considerando que a Policia
Federal não está presente em todos os municípios brasileiros. Por conta
do déficit de policias, dificilmente a compra de votos neste país seja
investigada, utilizando métodos de combate eficientes, que exigem mais
tempo e recursos. Isto interessa a quem? Neste caso, não interessa ao
Estado ter servidores públicos bem pagos, visto que é importante
mantê-los subservientes de um sistema perverso.
Ademais, é estranho que este assunto não seja estudado no país.
Fala-se tanto do crime organizado do narcotráfico, mas pouco se sabe
sobre o crime organizado eleitoral. Um praticado pelos mais pobres e o
outro pelos mais ricos. Este crime não pode ser considerado como caso
isolado, mas como o mais nocivo tipo de crime organizado que precisa ser
combatido severamente. A compra de votos não se limita apenas ao
chamado esquema de boca de urnas, no dia das eleições. É preciso
levantar algumas hipóteses entre este tipo de crime e vários outros. Já
existem propostas de se estudar a relação de roubo a bancos e roubo de
cargas, em épocas de eleições. Portanto, são várias as hipóteses que
precisam ser levantadas e testadas cientificamente sobre o crime
eleitoral como organização criminosa.
A compra de votos não se dá apenas no dia da eleição. É um esquema
montado com muita antecedência, através de esquemas de licitações,
nomeações e várias outras trocas de favores, que envolve as classes
dominantes. O pior é que os pobres é que pagam a conta como sendo os
vendedores de votos, sobretudo no esquema de boca de urnas. Mas quem são
os compradores? Ao que tudo indica, a Policia Federal parece ter tido
sucesso na experiência de utilizar o método investigativo de crime
organizado para combater alguns casos de compra de votos, resultando na
prisão de quadrilhas que participaram do crime organizado eleitoral.
Não é possível manter uma situação em que tudo acontece, mas nada se
vê e nada se prova. O crime organizado eleitoral continua invisível,
enquanto o narcotráfico é combatido. Mesmo invisível, é reconhecido pela
sociedade. É uma realidade e não coisa abstrata. A lei dos esquemas
financeiros nas eleições precisa ser combatida, já que pode ser uma
estrutura mais aperfeiçoada do que a máfia italiana. Precisamos de um
poder legislativo que tente enfrentar esta missão e não seja lotado por
comissionados que estão só querendo indicar verbas para este ou aquele
projeto, na tentativa de receber gordas propinas para financiar suas
eleições, num forte esquema de crime organizado. É preciso mudar.
José Rodrigues Filho
Professor da Universidade Federal da Paraíba, José
Rodrigues Filho é candidato a deputado federal pelo Psol.